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5 séries e 1 filme que deveriam passar na escola

Sabe quando você assiste a uma série ou filme e pensa: “deveriam passar na escola”? É algo que venho refletindo a respeito de algumas produções dos últimos anos. São séries e filmes que repensam o lugar do jovem no mundo e ajudam a refletir sobre diversos temas que passam pelos desafios que precisam enfrentar – sejam eles as novas dificuldades dos tempos atuais, ou os velhos obstáculos de sempre.

É claro que, ao dizer quem certos filmes ou séries “deveriam passar na escola”, estou fazendo uma provocação. Não há tempo para exibição de tantas produções, e algumas delas (como você verá logo abaixo) têm classificação indicativa bastante elevada – ainda que eu não veja problema em exibir cenas supostamente “impróprias” dentro de um contexto de aprendizado.

Por isso, decidi refletir e comentar cinco séries e um filme que podem ser excelentes pontos de partida para discutir inúmeras questões, desde consumo de drogas e relacionamentos até as mudanças no mundo atual e na sociedade. Aliás, acredito que os professores podem se utilizar de temas e até mesmo algumas cenas das séries para discutir com os alunos, ou indicar que eles assistam após as aulas.

Os apontamentos que apresento aqui vêm na esteira do lançamento do Podcast Cinem(ação) 400, no qual discutimos a obra de John Hughes e como elas conversavam com o jovem de sua época, mas não se relacionam com as gerações atuais.

Confira, então, algumas séries (e um filme) que deveriam passar na escola:

Euphoria

A série do diretor Sam Levinson com a atriz Zendaya conta a história de uma jovem que sofre demais com problemas de saúde mental. Afinal, ela usa drogas porque tem crises de ansiedade e déficit de atenção, além de outros possíveis distúrbios. As famílias mostradas na série são problemáticas, quando não totalmente desestruturadas e disfuncionais. Há uma personagem transgênero que tem um péssimo exemplo de mãe e um bom exemplo de pai.

Euphoria também tem cenas fortes: órgãos genitais surgem na tela sem cerimônia (ainda que não gratuitamente), e a série explora a relação dos jovens com o sexo, abrindo espaço para discussão da importância da educação sexual nas escolas.

Tudo isso sem contar a qualidade com que Levinson filma engrandece a narrativa, tornando-a um turbilhão de emoções e de problemas a serem discutidos.

We Are Who We Are

A situação em que se encontram os protagonistas da série de Luca Guadagnino é um pouco atípica. São jovens americanos que moram em uma base do exército na Itália. Ilhados nesse ambiente, eles vivem paixões intensas e descobertas da adolescência enquanto lidam com suas famílias e um contexto político de transformação.

Gadagnino faz poesia com a câmera. E com isso nos aprofunda ainda mais na vida do protagonista Fraser e sua amiga Caitlin, que passará por transformações importantes de serem vistas ao longo dos episódios.

Até mesmo o fato de o protagonista ser irritante faz a diferença: nos leva a evidenciar os incômodos e efervescências do período, o que pode ser um ótimo ponto de partida para discutir comportamentos e mudanças na forma de nossa sociedade encarar as diferentes expressões de sexualidade e gênero.

Além disso, a série ainda pode ajudar a discutir sobre o ambiente militar, a possibilidade de guerra (e a vulnerabilidade dos corpos jovens, que geralmente se sentem poderosos), além das relações entre pais e filhos.

Sex Education

Sex Education já foi bastante comentada. Mais popular que Euphoria e We Are Who We Are, tanto por estar na Netflix quanto por ter uma classificação indicativa mais acessível, a série britânica também ganha pontos com o grande público por ser mais engraçada, e assim divertir a audiência.

Isso não significa que Sex Education não esteja entre as séries que deveriam passar na escola.

A educação conservadora do colégio, a dificuldade (ou facilidade demais) com que alguns pais lidam com questões de relacionamento dos filhos, e os inúmeros elementos relacionados à educação sexual fazem com que a série faça jus ao seu título.

E não é só isso: a série conversa com o público sobre o tema do aborto com cenas que, apesar de duras e dramáticas, são uma verdadeira aula para nós do Brasil, onde a prática é proibida na maioria dos casos.

O debate sobre Sex Education na escola seria um prato cheio para que os alunos falassem sobre machismo, abuso, relação com os corpos, desmistificação de tabus e muito mais.

Boca a Boca - série da Netflix criada por Esmir Filho - Caio Horowicz

Boca a Boca

Se na série britânica há um episódio em que as pessoas entram em desespero por causa de um surto de clamídia, é na série brasileira de Esmir Filho que nós acompanhamos um tipo de doença misteriosa que se espalha pelo beijo.

Com mais tendência ao terror e uma trama com mais fantasia, a série Boca a Boca traz metáforas e alegorias que simbolizam o conservadorismo da sociedade, à dicotomia entre progresso e meio-ambiente, e à liberdade dos jovens de expressarem seus desejos.

Os episódios também trazem cenas mais pesadas, e podem evocar debates sobre a hipocrisia de alguns conservadores, bem como questões sociais relacionadas aos atritos entre as classes sociais.

Boca a Boca representa muito bem os debates mais recentes sobre relacionamentos entre os jovens e também entre eles e seus pais.

Normal People

A série irlandesa da BBC e Hulu (disponível no Brasil pela Starzplay) se propõe a falar sobre pessoais normais, como diz seu título. Mesmo que, de fato, a trama se concentre nas idas e vindas de um improvável casal apaixonado, há muitos elementos interessantes de se discutir.

Além de falar sobre bullying, machismo e masculinidade tóxica no texto de maneira geral, Normal People ganha contornos de serviço social ao falar sobre saúde mental e sobre como uma pessoa pode se entregar a um relacionamento abusivo como forma de lidar com os problemas mais profundos da vida.

Ao longo de episódios mais lentos, que nos permitem analisar com cuidado os personagens, Normal People nos faz pensar nas escolhas da vida, nos sentimentos que cada um tem, e no fato de que nada é simples: tudo passa por inúmeras influências e fatores.

Never Rarely Sometimes Always - filme exibido no Festival de Sundance 2020

Nunca Raramente Às Vezes Sempre

O filme de Eliza Hittman, que chegou recentemente a alguns serviços de locação de filmes, é simplesmente uma das obras mais impactantes sobre o tema do aborto.

Ao contar a história de Autumn, a menina de 17 anos que descobriu estar grávida, o filme aborda todo o caminho que ela deve percorrer para não dar continuidade à sua gravidez. Sem cair no melodrama em momento algum, o filme reforça a importante da sororidade, e ainda mostra como os pais ou até uma profissional da área da saúde podem influenciar negativamente uma jovem, mesmo sem saber.

“Nunca Raramente Às Vezes Sempre” é um filme excelente para discutir pautas feministas, mas serve como ponto de partida para falar sobre a importância da conversa e da educação como forma de evitar problemas de gravidez indesejada. Sem contar que o longa utiliza estratégias narrativas que nunca “entregam” o filme, exigindo olhar minucioso do espectador para entender o que sente a protagonista.

E quando vemos a dor da personagem diante da decisão que ela tomou de forma definitiva, precisamos praticar empatia e não fazer julgamentos. É justamente por ser um filme que podemos enriquecer com o debate após assistir, que o longa está nesta lista de obras que deveriam passar na escola.

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