Crítica: Malcolm & Marie - filme Netflix - Cinem(ação)
Malcolm & Marie - Sam Levinson - crítica
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Crítica: Malcolm & Marie

Malcolm & Marie é um exercício de filmagem para os tempos atuais que reflete sobre o próprio cinema (ou não).

Ficha técnica:
Direção: Sam Levinson
Roteiro: Sam Levinson
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 5 de fevereiro de 2021 (Netflix)
Sinopse: Em apenas uma noite, um casal formado por um cineasta em ascensão (John David Washington) e sua namorada atriz (Zendaya) vive conversas e tensões crescentes.

Elenco: John David Washington, Zendaya.

A essa altura, tive a oportunidade de ver algumas produções com “cara de pandemia”. Refiro-me àquelas produções com poucos atores, cenários vazios e, claro, a informação de que foram gravadas nestes últimos meses (já que há filmes gravados nos últimos meses que trazem aglomerações, assim como há filmes enxutos de outras épocas). Lembro-me do longa “O Neon através do Oceano”, e dos curtas “República”, de Grace Passô, e “Won’t You Come Out to Play”, de Júlia Katharine – todos exibidos em festivais. “Malcolm & Marie” é certamente a maior produção até o momento.

O lançamento da Netflix repete a parceria que o diretor Sam Levinson e a atriz Zendaya iniciaram na série “Euphoria”, da HBO, mas desta vez sob a chancela da Netflix. John David Washington é o único outro ator do filme. Os dois vivem um casal formado por um cineasta em ascensão e uma atriz iniciante: eles chegam do lançamento de um filme e travam uma série de diálogos que revelam suas fragilidades, angústias e problemas de relacionamento, bem como a paixão entre os personagens.

“Malcolm & Marie” sabe usar bastante a arquitetura da casa onde a história se passa: aproveita os vidros como forma de passear por entre as paredes, olhando de fora como se fosse um voyeur espiando de longe. É claro que, para nos aproximar, Levinson também chega em perto, exibindo os poros dos atores que se confrontam. Remetendo a “Quem tem medo de Virginia Woolf?”, o longa traz óbvios ares de teatro. Portanto, é quase paradoxal que Levinson se utilize do filme para falar sobre o fazer cinematográfico.

Explico: ainda que Zendaya esteja intensa em seu papel, e ainda que o filme fale de um relacionamento com altos e baixos (com níveis de toxicidade que me fazem perguntar se relacionamentos saudáveis dariam bons filmes ou apenas obras enfadonhas), o fato é que “Malcolm & Marie” parece ser um grande pretexto para que o diretor e roteirista fale sobre seu próprio trabalho.

Em dado momento, quando o casal dá uma trégua nas brigas, o personagem de Washington tem um momento de intenso monólogo sobre seu trabalho em reação a uma crítica recentemente publicada. Fazendo referências a diversos clássicos, o personagem esbraveja sobre a possibilidade de um filme não precisar falar sobre outros temas que não sejam essencialmente a história sendo contada, ou que a interpretação dos filmes não deve ser feita com base na origem, etnia ou gênero do diretor. Ao que parece, Levinson que provocar, mais do que dar respostas.

A fotografia em preto e branco nos leva a conectar a história com um instante que paira no tempo (não à toa, ele se passa em uma madrugada), mas também não deixa de transparecer o fetiche que 9 em cada 10 cineastas têm em filmar com tal paleta de cores. A briga do casal permite que os atores esbanjem seus talentos e explorem todo tipo de emoção, simbolizando muitos outros conflitos.

“Sinto que vamos nos separar e voltar várias vezes”, diz Malcolm para Marie, beijando seus pés, após (mais) uma discussão. Não é só Malcolm que está falando para Marie… é Sam Levinson falando para o próprio fazer artístico, talvez até mesmo para o público.

Assim, quando vemos os dois na última cena através do vidro da janela, é como se aguardássemos um novo filme na tela, em uma casa tornada sala de cinema… …ou talvez eu esteja errado e “Malcolm & Marie” seja apenas um filme sobre um casal em conflito.

  • Nota
3.5

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