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Crítica: A Voz Suprema do Blues
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Crítica: A Voz Suprema do Blues

A Voz Suprema do Blues” estreia com força para premiações e sentimento agridoce com a presença de Chadwick Boseman.

Ficha técnica:
Direção: George C. Wolfe
Roteiro: Ruben Santiago-Hudson, August Wilson (peça)
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 18 de dezembro de 2020
Sinopse: Na Chicago de 1927, uma sessão de gravação do álbum de Ma Rainey (Viola Davis) é mergulhada em tensão entre seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca que está determinada a controlar a incontrolável “Mãe do Blues”. Porém, uma conversa no local revela verdades que irão abalar a vida de todos.

Elenco: Chadwick Boseman, Viola Davis, Colman Domingo, Gllynn Turman, Michael Potts, Taylour Page.

Na primeira cena de “A Voz Suprema do Blues”, dois homens negros correm pela mata. O fato de a imagem remeter a algo completamente diferente do objetivo deles já evidencia que “A Voz Suprema do Blues” terá sutilezas. O que não tem como negar é que elas dividirão espaço com o discurso direto.

Ainda que Ma Rainey tenha uma presença forte na atuação voluptuosa de Viola Davis, o coprotagonista que mais se destaca é Levee, que carrega consigo uma ambiguidade e impetuosidade que Chadwick Boseman consegue evocar no que pode vir a ser considerado – tristemente – sua melhor atuação.

É claro que há sutilezas a enriquecer o filme. Adaptado da obra de August Wilson e produzido por Denzel Washington tal qual “Um Limite Entre Nós”, “A Voz Suprema do Blues” utiliza um sapato novo como símbolo de conquista, ou uma porta que não leva a lugar nenhum, e até mesmo os olhares das pessoas de um bairro branco para os músicos negros, que em seguida vão ensaiar em uma espécie de sótão.

Ainda assim, o texto da peça de Wilson ganha poder ao ser dito por seus personagens. É possível ver o teatro na nossa frente: as histórias contadas pelos personagens, o entra e sai de todos do cenário, além de alguns monólogos – incluindo um de Levee que transborda emoção.

É claro que o diretor George C Wolfe não permite que “A Voz Suprema do Blues” seja apenas uma peça filmada: sua câmera passeia pelos personagens, nos mergulha no ambiente e nos leva a sentir o suor no rosto de Ma Rainey, representativo do cansaço acumulado pela artista explorada por homens brancos em busca de dinheiro.

Isso não significa que Wolfe faça algo brilhante e fora do comum. A condução do filme segue um padrão que apenas dá espaço para as atuações intensas, sem engrandecê-las mais do que aquilo que são. Assim, vamos Levee contar sua história de dor, e vemos Ma Rainey destilar seu veneno contra os brancos como forma de reforçar seu poder como artista e vingar o tratamento que sempre teve da sociedade.

No entanto, Levee ainda não conquistou seu poder, e por isso precisa aceitar o domínio do produtor musical. Ainda assim, ambos se comportam de maneira parecida, cansados da sociedade que pisa em seus sapatos e os descarta quando não atendem seus objetivos. É como se Levee fosse Ma Rainey antes da fama, e talvez por isso haja atrito entre ambos.

O filme ganha como obra cinematográfica quando pincela elementos: é o pisar no sapato, o bar repleto de brancos, a necessidade de oportunidade para que o menino gago supere a desvantagem da qual não tem culpa. Nos outros momentos, depende das grandes atuações e do texto preexistente.

  • Nota
4

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