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Mar de Dentro - 44ª Mostra de São Paulo
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Crítica: Mar de Dentro – 44ª Mostra de São Paulo

Mar de Dentro é um dos filmes mais sensíveis e reais que assisti na Mostra deste ano. Sem um roteiro mirabolante, mas que cumpre seu objetivo, o primeiro longa-metragem da cineasta Dainara Toffoli, aborda de maneira delicada e palpável o tema da maternidade.

A trama acompanha a vida de Manuela, interpretada por Monica Iozzi, uma mulher cheia de sonhos, com uma carreira profissional que prospera. Contudo, ela engravida de Beto (Rafael Losso), seu colega de trabalho, e precisa enfrentar um turbilhão de questões relacionadas ao seu futuro, que surgem com a gravidez.

Mesmo não querendo ser mãe, Manuela se dispõe a ter a criança e recebe o apoio de Beto. Porém, o que parecia ser o sonho da família perfeita desmorona (não vou dar spoilers). A partir disso, ela precisa lidar com as transformações diárias do seu corpo, suas emoções, o desejo sexual e principalmente a solidão.

Mar de Dentro transmite o que é a maternidade nas cenas silenciosas – interrompido apenas pelo choro constante do bebê. E a peça chave da narrativa é a interpretação de Monica Iozzi. Sua atuação é delicada e nos faz mergulhar, através de pequenos detalhes, na rotina de uma mulher que busca aprender a ser e a se descobrir mãe.

O mais belo e intimo estão nas cenas em que, a personagem passa noites acordada, na angustia, no estresse e no esgotamento. Sozinha, ela não tem tempo para a casa e principalmente para si. É como se colocassem uma câmera para acompanhar a vida real de uma mãe. Sem precisar de diálogos expositivos conseguimos sentir a solidão da personagem e seu incômodo com os palpites alheios sobre como ela deve agir.

O roteiro de Dainara Toffoli e Elaine Teixeira é generoso com a protagonista. A qual mesmo solitária tem condições financeiras para amenizar suas dificuldades. É evidente que, de modo geral não é fácil encarar a maternidade sozinha, e tudo tende a se agravar nas classes mais baixas da sociedade.

Em suma, Mar de Dentro mostra o processo de autodescoberta de uma mulher, além de desmistificar a maternidade. O filme ainda dá uma pincelada em situações as quais diversas mulheres grávidas ou mães enfrentam no mundo corporativo. Assim como, chega a dar o exemplo de jovens mães, que passam a maior parte do seu tempo cuidando do filho de outros, para sustentar a criança que tem em casa.

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