Crítica: Araña – 44ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Araña - filme Mostra de São Paulo
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Crítica: Araña – 44ª Mostra de São Paulo

Araña leva o nome de uma organização de jovens chilenos de extrema direita, que durante a década de 1970 buscava realizar uma “revolução”, ou melhor, um golpe contra o governo socialista de Salvador Allende. Tudo isso regado a champagne e caviar.

O cineasta Andrés Wood foi extremamente ousado e soube pisar em ovos ao trazer uma parte da história chilena – mesmo que ficcional – através do olhar de extremistas de direita. O interessante de Araña é que, em nenhum momento o longa faz juízo de valores dos personagens. Mesclando cenas dos dias atuais e da década de 1970, a direção deixa a cargo do espectador fazer a avaliação sobre a índole e as escolhas dos personagens. Deixando de lado a concepção de bom ou mau.

E mesmo tentando humanizar os golpistas, a direção faz questão de se redimir com o espectador no final. Vejo em Araña mais uma complexa analise sobre como os fatos políticos do passado ainda ressoam nos dias atuais, do que, uma tentativa de “mostrar o outro lado da história”.

Andrés inclusive já inicia longa sendo irônico ao nos apresentar a personagem de Inés, interpretada na juventude por Maria Valverde, a qual é uma estudante de história. Profissão essa que tem o dever de manter viva a memória para que, a sociedade não repita erros do passado.

Curioso é que, no filme A História Oficial, produção argentina, que aborda os desaparecimentos de crianças durante a ditadura militar, a personagem central, mulher de um militar é também historiadora. Fato é:  essa ligação com a profissão de historiador deve ser levada em conta, não só para destacar a importância do historiador na sociedade, ainda mais em um mundo repleto de negacionistas, que tentam invalidar e reescrever a história conforme lhe convém.

Em tempos de convulsão social no Chile, Araña traz à tona os resquícios da extrema-direita chilena que vive aninhada no poder, enquanto a desigualdade social cresce.

  • Araña
4.5

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