Crítica: Sibéria – 44ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação)
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Crítica: Sibéria – 44ª Mostra de São Paulo

“Sibéria” é uma potente viagem existencialista.

Ficha técnica:
Direção: Abel Ferrara
Roteiro:  Abel Ferrara, Christ Zois
Nacionalidade e Lançamento: Itália, Alemanha, México, 24 de fevereiro de 2020 no Festival de Berlim (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Clint, um homem atormentado pelo passado, decide se isolar em uma casa nas montanhas. Nesse ambiente frio e hostil, ele vive sozinho e, em alguns raros momentos, interage com viajantes e nativos que não falam seu idioma e que visitam sua cafeteria. O isolamento, porém, não é o bastante para que Clint encontre paz. Certa noite, confrontando seus problemas, ele acaba embarcando em uma viagem interna por meio de sonhos, memórias e delírios.

Elenco: Willem Dafoe, Dounia Sichov, Simon McBurney.

Não é de se espantar que tantos já considerem “Sibéria” uma obra-prima de Abel Ferrara. Após ter realizado outros filmes com Willem Dafoe, o cineasta americano se reúne com o ator para realizar uma dessas trajetórias de um homem em busca de si mesmo e de entendimento sobre sua jornada.

É claro que o filme não é fácil. Repleto de alucinações e memórias confusas de Clint, “Sibéria” nos leva a entender, pouco a pouco, os traumas e dores que o homem solitário viveu.

A narrativa inicial, em off, é envolvente. Em poucas palavras, com a tela ainda escura, compreendemos a relação do protagonista com seu pai e somos levados a pensar nos acontecimentos que o levaram a se tornar este homem recluso em uma casa isolada, recebendo hóspedes que falam outras línguas.

Com mais uma atuação potente, Dafoe nos faz entender quando estamos vendo Clint e quando é seu pai no simples modo de andar e se expressar. É com sua atuação física que vamos compreendendo seus questionamentos. Não que “Sibéria” se preocupe em contar o que Clint viveu e como chegou ao ponto em que chegou. O que podemos fazer é pincelar questões relacionadas a ele.

Quem se preocupa em entender demais pode não gostar do filme. Mas o fato é que os diálogos nos contam muita coisa. “Seu propósito é um obstáculo”, diz o mágico. “É impossível viver sem propósito”, responde o protagonista, que é chamado de ignorante, egoísta e covarde. “Não me diga quem eu sou se você está lutando para descobrir quem você é”, afirma outro personagem.

Ele pega os óculos do pai para se aproximar dele. Apesar de tudo, os dois se conectavam quando iam pescar nos lugares frios. As relações masculinas, tão carentes de diálogo, estão lá. E assim vamos refletindo sobre a relação dele com a velhice, com o passar dos anos, com os erros cometidos, com a morte e a loucura, bem como os amores intensos e mal resolvidos. Ora, não seríamos todos nós culpados por amar demais?

Abel Ferrara é existencialista e não oferece respostas. Isso pode incomodar muita gente, mesmo com a direção potente do diretor, seus cortes rápidos e suas cenas violentas repentinas. É claro que muitos podem enxergar mais potência onde tem muitos diálogos e explicações palpáveis. Mas quando o cinema é sobre sentir, é preciso se entregar a ele.

  • Nota
4

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