Crítica: Mulher Oceano – 44ª Mostra de São Paulo
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Crítica: Mulher Oceano – 44ª Mostra de São Paulo

“Mulher Oceano” é um belo filme, poético e reflexivo.

Ficha técnica:
Direção: Djin Sganzerla
Roteiro:  Djin Sganzerla, Vana Medeiros
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Uma escritora brasileira que acaba de se mudar para Tóquio dedica-se a escrever um novo romance, instigada por suas experiências no Japão e por uma das últimas cenas que presenciou no Rio de Janeiro: uma nadadora de travessia oceânica rasgando o horizonte com vigorosas braçadas em mar aberto. Essas duas mulheres, aparentemente, não compartilham nenhuma conexão, até que a vida de uma começa a interferir na vida da outra, estranhamente ligadas pelo mar. Hannah, a escritora, mergulha em uma jornada de autodescoberta no Japão, enquanto Ana, a nadadora, no Rio, estranhamente tem seu corpo transformado em uma espécie de oceano interior.

Elenco: Djin Sganzerla, Kentaro Suyama, Stênio Garcia, Lucélia Santos.

“Mulher Oceano” me fez perceber o quanto há de filmes sobre o mar na Mostra de São Paulo deste ano. Talvez porque estejamos todos em busca de conexão entre as pessoas (a real, não essa da internet), e é o oceano que nos conecta.

De fato, o primeiro filme dirigido por Djin Sganzerla (e protagonizado por ela também) comenta sobre as conexões: mostra uma escritora criando vínculo com um artista japonês, enquanto não consegue se reaproximar do marido. Conta como uma simples imagem pode acender sentimentos e gerar uma urgência de criar, ainda que haja dificuldade em colocar tudo em palavras.

É aí que “Mulher Oceano” se torna também um filme sobre processo criativo. Hannah, a esposa de um diplomata no Japão, tem dificuldades de escrever seu livro e não sabe bem como começar. Em seguida, vemos Ana, personagem do livro, vivida pela mesma atriz, uma nadadora apaixonada pelo mar e com dificuldades de se mudar do Rio de Janeiro.

Alternando entre cenas no Brasil e no Japão, “Mulher Oceano” marca bem as transições com a mudança na fotografia. Há tempo para o filme se demorar nas imagens do mar, de mergulhos, e até mesmo das “Amas”, mulheres japonesas que pescam no mar e vivem uma relação de quase simbiose com as águas.

Ao longo de “Mulher Oceano”, ouvimos a voz da protagonista comentando sobre o mar, se deleitando em palavras poéticas e reflexões que tentam colocar em palavras suas angústias ou incertezas. Por vezes, são palavras bonitas que não dizem muito. A primeira cena do filme já mostra uma mulher andando perdida pelo Japão. Ao final, tanto ela quanto a personagem de seu livro se encontram na fé.

“O abismo é mais profundo se você não mergulha”, diz a protagonista em uma cena. “Se entregue”, afirma a religiosa do candomblé. Hannah se entrega ao livro, Ana se entrega ao mar. E assim o filme de Djin Sganzerla nos mostra que a melhor forma de nos conectarmos com o mundo é mergulhando profundamente na arte.

Só por isso ele já é bonito.

  • Nota
4

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