Crítica: Panquiaco – 44ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação)
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Crítica: Panquiaco – 44ª Mostra de São Paulo

“Panquiaco” é uma poesia sobre colonização, memória, história e esquecimento.

Ficha técnica:
Direção: Ana Elena Tejera
Roteiro: Ana Elena Tejera
Nacionalidade e Lançamento: Panamá, 22 de janeiro de 2020 no Festival de Roterdã (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Há muitos anos, Cebaldo se despediu de sua família, que faz parte da população indígena do Panamá. Agora, ele trabalha num porto no norte de Portugal e todas as noites é contagiado por uma sensação de nostalgia. Em sua solidão, as lembranças o afastam de sua rotina diária e o mergulham em uma jornada de volta à sua aldeia em Guna Yala, onde um médico botânico o confronta com a impossibilidade de retornar ao passado. Uma pesquisa sobre histórias e mitos pré-coloniais em uma narrativa que mistura textos poéticos e imagens.

Elenco: Cebaldo de León Smith, Fernando Fernández, Comunidad Campo Laurel, Comunidad de Ustupu, Kinyapiler Johnson González.

“Tudo era escuridão. Só havia o mar”. É com tais palavras que se inicia “Panquiaco”. Há mais palavras que preenchem a tela. Em seguida, vemos o protagonista desolado. Cebaldo vive em Portugal e reflete sobre seu passado: toca música de seu país no bar, ouve uma fita com gravações de mensagens em sua língua nativa.

Tudo neste filme de Ana Elena Tejera tem mar, água e navegação. Cebaldo corta peixes e sai no barco a pescar. Questionado sobre há quanto tempo está em Portugal, não responde. É apenas uma sombra de seu passado, do lado oposto do oceano.

A riqueza de “Panquiaco” está em tudo. Na referência que o título faz ao personagem indígena da História panamenha que se aliou aos espanhóis, nas imagens dos indígenas pintadas na parede da igreja, nas elipses que a narrativa faz com cortes na água.

Quando Cebaldo volta ao Panamá para despedir-se de seu pai, é como se já soubesse que a história de seu povo está indo embora. Ele mesmo se rendeu aos colonizadores ao traçar o caminho contrário em direção à Península Ibérica.

Em certo momento, ouvimos a anedota da ave que se afogou ao pegar um peixe muito grande, e do crocodilo que quebrou o pescoço ao se jogar na água rasa. “Você pode morrer tentando matar a fome”, diz o amigo de Cebaldo. É o que acontece com os povos nativos das Américas.

Por falar em dizeres de personagens, “Panquiaco” se destaca pelos dizeres calculados, pelos letreiros necessários, e pelas referências que conectam a narrativa com aquilo que ela discute. Afinal, é um filme sobre a colonização, o esquecimento dos povos indígenas. É sobre raízes e pertencimento, e também sobre o arrependimento que se iniciou nos primórdios da colonização.

Se o reflexo da alma permanece no rio, permanece também no mar. É o mar que conecta e que separa. “Panquiaco” fala sobre isso e explora diversos temas sem nunca deixar de ser poético, silencioso e lento – tal qual a vida de Cebaldo. Se o mar será sempre o lar de Cebaldo, como é dito, este filme nos serve de consolo por dizer, de certa forma, que o cinema é capaz de eternizar ao menos um pouco das Histórias que se perdem.

  • Nota
4

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