“Três Verões” estreia no inverno e reflete sobre estações passadas
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“Três Verões” estreia no inverno e reflete sobre estações passadas

“Em março, era um outro mundo. Esse mundo já não existe mais”. Sandra Kogut, diretora de Três Verões, filme que acaba de chegar ao Telecine, utiliza essa frase para se referir ao cancelamento da estreia de seu filme e o atual momento que vivemos. Ela se diz feliz com o lançamento do filme desta forma, considerando as circunstâncias. “Três Verões vai ser um ótimo estudo de caso para entender a pandemia”, explica.

Estrelado por Regina Casé, o filme conta a história de Madá, funcionária da casa de veraneio de um político que, mais tarde, será investigado por corrupção. O filme acompanha três verões seguidos que mostram o desmoronamento de uma família após a descoberta dos casos de corrupção.

Em um bate-papo promovido pelo Telecine com diversos sites, Sandra Kogut comentou sobre o filme. Na conversa, falar das relações dele com o presente foi inevitável, assim como a temática da pandemia.

Porque, afinal, a época a que o filme se refere não existe mais. No entanto, esse período de certa forma está aí, pairando no ar. E isso se relaciona até mesmo com a temática do longa.

Cena do filme Três Verões, de Sandra Kogut: Regina Casé à beira de uma piscina puxando uma bóia em forma de pato amarelo

Um novo país, rumo a um novo verão

“Três Verões” deveria ter chegado nos cinemas em março, no fim do verão de 2020. Acabou por estrear nas plataformas de streaming e VoD no fim do inverno. No entanto, como os tempos são outros, as temperaturas fazem parecer que estamos na estação mais quente.

No filme, que se passa entre 2015 e 2017, vemos de um ponto de vista diferente os acontecimentos relacionados à lava-jato e à crise política que se agravou no país, levando a uma troca de presidentes que serviria como ponto de virada da nossa história.

Como a vida é feita de épocas, “Três Verões” também fala de uma outra época através do personagem Lira (vivido por Rogério Fróes). Na conversa com a cineasta, ela explicou que ele é a reserva moral da família: foi um estudioso que passou pela universidade e construiu a vida em cima de livros e de conhecimento, mas não evitou que seu filho se tornasse um político corrupto. Questionada sobre isso, Sandra fala que esse personagem está no lugar da seguinte pergunta: por que essa geração não conseguiu passar os valores adiante?

O Brasil de hoje é um país que não continuou com a crescente de valorização da cultura, das artes e da educação pública. “Lira e Madá são dois náufragos nessa história”, conta a cineasta, referindo-se ao estudioso aposentado e à caseira que perde suas oportunidades.

Hoje, o governo eleito com a missão de “acabar com a corrupção e com o toma-lá-dá-cá” se envolve em escândalos e se une aos partidos fisiológicos do chamado “centrão”. Depois dos três verões de Madá, e depois de tantas estações sob efeitos de uma pandemia, nos vemos em um novo Brasil.

Para que possamos compreender o nosso país, precisamos olhar para trás: para os tempos de Madá e para os tempos do ‘seu’ Lira. Por isso a importância de um filme como “Três Verões”. Além disso, Sandra Kogut destacou o significado de lançar o filme nesta nova estação. “É super importante lançar um filme em meio a tudo isso”, disse. “A gente tá lançando um filme”, completou, enfaticamente.

É isso.

Não importa a estação em que estamos: é preciso lançar filmes sobre aquelas que já passaram. Para, quem sabe, compreendermos por que a estação da política atual está tão quente.

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