Crítica: Adoráveis Mulheres (Little Women) - Cinem(ação)
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Crítica: Adoráveis Mulheres (Little Women)

Adoráveis Mulheres é um filme adorável, positivo e singelamente didático.

Ficha técnica:
Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 25 de dezembro de 2019 (9 de janeiro de 2020 no Brasil)
Sinopse: As irmãs Jo (Saoirse Ronan), Beth (Eliza Scanlen), Meg (Emma Watson) e Amy (Florence Pugh) amadurecem na virada da adolescência para a vida adulta enquanto os Estados Unidos atravessam a Guerra Civil e cada uma lida com sonhos e expectativas completamente diferentes.

Elenco: Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Laura Dern, Meryl Streep, Timothée Chalamet, Bob Odenkirk, James Norton, Louis Garrel, Chris Cooper.

Baseado no livro de Louisa May Alcott (intitulado “Mulherzinhas” no Brasil), Adoráveis Mulheres traz uma releitura mais crítica e moderna do romance, que já foi adaptado em 1994 por Gillian Armstrong. Mais do que isso, o novo filme de Greta Gerwig (Lady Bird) é, tal qual seu filme anterior, um drama coming-of-age de uma mulher que sonha em ser algo muito maior do que a sociedade espera que ela seja.

Ainda que a história contemple todas as irmãs da família March, é Jo (Ronan) quem assume o protagonismo. Os diálogos rápidos de Gerwig e os acontecimentos corriqueiros e quase novelescos poderiam ser parte de uma produção mediana, mas há elementos que transformam Adoráveis Mulheres em uma deliciosa narrativa: a não-linearidade dos acontecimentos, a simbologia da história para o nosso tempo e, por fim, o que talvez seja o ponto mais forte deste filme: a química entre os personagens e a profundidade destes.

Assim, é absolutamente orgânico ver as mudanças (e compreendê-las ao longo do filme) que existem no comportamento e nas decisões de cada um dos personagens. E se a maturidade conquistada por Jo é vista em simples detalhes, como a maneira de andar e falar que Saoirse Ronan confere à personagem, também vemos que Laurie (Chalamet) passa por uma transformação bastante compreensível.

Outro destaque de atuação de Adoráveis Mulheres vai a Florence Pugh, que confere um ar adolescente de maneira tão convincente quanto sua maturidade nas cenas mais tardias, permitindo que o espectador compreenda não apenas a jornada que levou sua personagem Amy a se tornar mais madura, como também os elementos que a fazem tomar suas decisões.

Ainda que outras atuações estejam dignas de nota, como das veteranas Laura Dern e Meryl Streep, devemos dar atenção a um elemento que não apenas representa o principal fio condutor da narrativa, como também é o que mais transcende a tela atinge o público em cheio: a relação entre Laurie e Jo. Os atores, que já haviam interagido no longa anterior da mesma diretora, demonstram em Adoráveis Mulheres uma conexão tão verdadeira que cada segundo entre eles se torna um deleite e uma diversão, o que só amplifica o sentimento agridocemente realista das decisões feitas no terceiro ato, que decidem o rumo dos jovens.

Por falar em sabor, o filme todo de Greta Gerwig pode, de fato, ser classificado como doce. Ainda que haja momentos amargos, a fotografia e a trilha sonora dele uma visão positiva daquelas vidas que assistimos. Em um paralelo que me parece inevitável, é como se Adoráveis Mulheres fosse uma versão otimista e leve de A Vida Invisível. Afinal, os dois filmes discutem a sociedade machista e controladora sob a ótica feminina em gerações não muito anteriores à nossa, tanto para vermos o quanto nosso mundo evoluiu quanto para, principalmente, compreendermos o caminho que a sociedade ainda precisa percorrer.

Também faço um paralelo entre Adoráveis Mulheres e Dois Papas: ambos retratam temas que poderiam muito bem receber visões consternadas e sérias, mas se permitem olhar para o mundo com leveza e esperança, afinal de contas em alguns momentos é disso que precisamos. Aliás, o tom é totalmente condizente com a frase da autora: “I’ve had lots of troubles, so I write jolly tales” (Eu tive muitos problemas, por isso escrevo estórias alegres).

A decisão do roteiro de Gerwig em mostrar as duas linhas temporais não apenas diferencia o filme de um romance tradicional (ainda que eu não saiba como isso é feito no livro) como também permite que se criem pequenos elementos de mistério ou expectativas ao longo da história, conferindo uma dinâmica importante para engajar ainda mais o público à história – e a montagem com cortes rápidos ameniza o caráter episódico ou didático da obra, algo comum em adaptações de romances.

Trata-se de um filme doce sem ser piegas, positivo sem ser ingênuo, otimista sem deixar de ser realista. Com tantas guerras pesadas, vilões insanos e mafiosos experientes, é preciso leveza. Adoráveis Mulheres é o torrão de açúcar no café que ficou forte demais.

  • Nota
5

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