Crítica: História de um Casamento (Marriage Story) - 43ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: História de um Casamento (Marriage Story) – 43ª Mostra de São Paulo

História de um Casamento faz parte da programação da 43ª Mostra Internacional de São Paulo


Ficha Técnica

Direção: Noah Baumbach

Roteiro: Noah Baumbach

Nacionalidade e Lançamento: EUA, 6 de dezembro de 2019 (Netflix)

Elenco: Adam Driver, Scarlett Johansson, Laura Dern, Alan Alda, Ray Liotta, Merritt Wever, Julie Hagerty, Azhy Robertson

Fotografia: Robbie Ryan

Direção de Arte: Jade Healy

Música: Randy Newman

Montagem: Jennifer Lame

Sinopse: Nicole (Scarlett Johansson) e seu marido Charlie (Adam Driver) estão passando por muitos problemas e decidem se divorciar. Os dois concordam em não contratar advogados para tratar do divórcio, mas Nicole muda de ideia após receber a indicação de Nora Fanshaw (Laura Dern), especialista no assunto.



A habitual atmosfera pacata e os diálogos palpáveis das narrativas da filmografia de Noah Baumbach compõem a verossimilhança de suas histórias criadas para o cinema e definem sua marca como diretor e roteirista, além de afirmarem sua relevância para gênero que podemos classificar como dramédia, através de suas obras como Frances Ha, fruto de seu maior prestígio como realizador. Em História de um Casamento, segunda colaboração de Baumbach com a Netflix (após The Meyerowitz Stories), o cineasta consegue estabelecer um equilíbrio perfeito entre o drama e a comédia em que é hilário na maior parte do tempo, porém doloroso desde seu princípio.

E a palavra “equilíbrio” é a que melhor define seu novo filme pois este pode ser observado não só na convergência entre os dois gêneros cinematográficos que definem sua carreira (e que aqui estão mais presentes como nunca) mas também na estrutura que o diretor emprega para abordar as diferentes perspectivas individuais de um casal de artistas, Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson), em relação ao longo e exaustivo processo de divórcio que os dois enfrentam. Baumbach aposta na criação de planos semelhantes entre os dois personagens que funcionam como paralelos e exacerbam a contradição que enfrentam no casamento e que posteriormente estimula essa ruptura.

Estabelecendo um primeiro ato em que explora o cotidiano de ambos os personagens através de um relato feito pelo outro dizendo os pontos positivos de cada um na relação, o diretor consegue transparecer ao público uma dinâmica consideravelmente ágil através de uma montagem fluída com diversos flashbacks e cortes secos. A troca de diálogos entre os personagens se mostra eficaz em todo o tempo em sempre dar a atenção necessária aos dois personagens, tanto no tempo de cena de cada um como também no que diz respeito a sua estética e sobre os planos, como citado anteriormente.

Ao passo que nos atos seguintes somos introduzidos a toda a burocracia de um divórcio matrimonial. Nesse momento, o roteiro se mostra inteligente ao fazer uma crítica ao sistema judicial sobre como ele faz por negligenciar as vontades do casal (e o filho do casal) sendo tratados como meros produtos por seus advogados, vividos intensamente por Laura Dern (Nora Fanshaw) e Alan Alda (Bert Spitz), e como esse sistema é responsável por criar uma inimizade entre as duas partes, mesmo com a obra nunca optando por fazer juízo de valor sobre quem está certo ou errado na relação. Essa mudança de ritmo entre os atos é uma grande característica do filme e consegue impor com leveza momentos mais sérios e sensíveis seguidos de outros completamente engraçados, conferindo uma humanidade a obra que também é apresentada no pesadelo que vivem através do divórcio e como lutam para que este processo termine rápido, mesmo tendo grande noção de que isso sempre fará parte de suas vidas.

Portanto, a condução narrativa fluída da obra e seu grande encanto deve-se justamente também as performances de Driver e Johansson, que aqui apresentam seus melhores papéis e uma grande retomada artística por Johansson ao conferir uma enorme complexidade a um personagem desde seu trabalho em Under The Skin (2013), ou até mesmo como a voz de Samantha em Ela (2013). Já Driver, se reafirmando cada vez mais o ator mais interessante em atividade da atualidade, confere diversas camadas ao diretor teatral Charlie e é responsável por um dos momentos musicais mais belos da obra.  É curioso notar como os dois apresentam uma química tão eficaz que faz com que seja impossível analisar suas atuações individualmente mesmo quando os personagens não convivem mais um com o outro de uma maneira que um precisa do outro para funcionar completamente em sua plenitude.

O grande brilhantismo de Histórias de um Casamento está na forma como Noah Baumbach explora duas perspectivas sobre o fim de um casamento através da criação de paralelos e as diferentes perspectivas que coloca seus protagonistas em pé de igualdade em sua estrutura narrativa, além do balanço entre o drama e a comédia que é o grande causador da humanidade que a obra apresenta, sendo amparada por performances verossímeis por seu elenco principal.

  • História de um Casamento (Marriage Story)
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Resumo

O grande brilhantismo de Histórias de um Casamento está na forma como Noah Baumbach explora duas perspectivas sobre o fim de um casamento através da criação de paralelos e as diferentes perspectivas que coloca seus protagonistas em pé de igualdade em sua estrutura narrativa, além do balanço entre o drama e a comédia que é o grande causador da humanidade que a obra apresenta, sendo amparada por performances verossímeis por seu elenco principal.

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