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Crítica: O Relatório – 43ª Mostra de São Paulo

Um funcionário do Senado Federal norte-americano é designado para investigar documentos relacionados ao Programa de Detenção e Interrogação da CIA iniciado após os atentados de 11 de Setembro. Em O Relatório (The Report), Daniel J. Jones, interpretado por Adam Driver, mergulha de cabeça na pesquisa e descobre segredos chocantes sobre os métodos de tortura utilizados por pseudo-psicólogos contratados pela CIA para desenvolver as técnicas cruéis.

Este é o segundo longa-metragem do diretor e roteirista Scott Z. Burns, que decidiu ser ousado ao cavar e expor novamente os crimes contra os direitos humanos cometidos pelo governo de George W. Bush e de seu vice-presidente Dick Cheney. Este mesmo assunto já foi retratado em Um Táxi para a Escuridão, vencedor do Oscar de melhor documentário em 2008.

Dez anos depois o assunto está de volta as telas do cinema. O longa baseado em fatos acompanha a busca incessante de Daniel J. Jones para encontrar provas que incrimine a CIA de ter cometido tortura contra mais de 100 presos, que possivelmente teriam ligação com a Al-Qaeda. Seu envolvimento com a investigação é tamanho que ele e seus companheiros de trabalho se envolvem emocionalmente com os casos descobertos.

A direção e o roteiro encontram na criação de uma linha do tempo ao longo do filme para fazer o espectador compreender a narrativa de forma didática, um dos grandes acertos do filme.

Adam Driver está bem no filme apesar da nula profundidade de personagem que é oferecida ao ator. Vemos apenas o personagem de Jones em uma queda de braço com o Senado e a CIA para divulgar sua pesquisa de milhares de páginas produzidas ao longo de exaustivos cinco anos.

O roteiro raso nos deixa distante do personagem, jogando informações sobre a vida de Jones em diálogos, mostrando total desinteresse sobre quem ele é e suas motivações pessoais. Tecnicamente isso não atrapalha a narrativa, mas fica a sensação que Adam Driver poderia ser mais bem explorado.

O filme ganha o espectador com diversas cenas chocantes de tortura. A ideia da direção em mostrar o que de fato acontecia nos porões da CIA é inteligente, pois cria um clima de revolta e indignação e envolve quem assiste. E assim mostrar que mais uma vez os poderosos nunca são punidos por seus crimes.

É possível ainda fazer um paralelo entre O Relatório e Vice (2018), dirigido por Adam McKay, que traz os bastidores da política norte-americana durante o governo de Bush e o poder nas mãos do vice-presidente Dick Cheney, interpretado pelo camaleão Christian Bale. Diferente de Vice, que trata a política com humor e ironia, O Relatório tenta ser um drama de denuncia, mas se torna  um “morde e assopra”. “Veja como nós fomos maus, mas nos perdoem, reconhecemos nos erros, prometemos que vamos mudar!”. E assim a história se repete.

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