Treinador de animais para cinema em Hollywood lança livro de memórias
Cinema Mundial

Maior treinador de animais para cinema em Hollywood lança livro de memórias

Hubert Wells é considerado o maior treinador de animais em Hollywood. São décadas de carreira, em que trabalhou em centenas de filmes, tendo viajado os quatro cantos do mundo a serviço da indústria do cinema.

Atualmente aposentado e com 85 anos, Wells decidiu contar suas memórias de anos de profissão ao lado de todos os tipos de animais, no livro Lights, Camera, Lions. Infelizmente não há ainda uma versão em português do livro, mas quem entende pelo menos um pouco de inglês ficará surpreso com tantas aventuras que este amante dos animais viveu ao longo de sua carreira.

Nascido na Hungria, Hubert Wells foi para os Estados Unidos onde não demorou para começar a trabalhar com animais no entretenimento. Alguns anos depois, ele compra uma propriedade na Califórnia onde cria a sua própria empresa, a Animals Actors of Hollywood que veio a ser um dos segmentos mais promissores no que se refere a treinar animais para o cinema.

Durante os anos da AAH, ele tinha uma variedade de animais, como leões, elefantes, lobos, chimpanzés, leopardos, gaviões e muitos outros bichos que era frequentemente usados em filmagens. Wells, trabalhava em conjunto com uma equipe de aprox. 5 a 6 treinadores, a maioria mulheres, onde as vezes ele atuava tanto como treinador ou coordenador de animais no set.

O livro aborda histórias curiosas ocorridas durante as filmagens de algumas produções em que ele e sua equipe trabalharam, mas é impossível listar todas quando ele tem no currículo mais de 150 filmes e comerciais de TV, mas o livro exibe os melhores “causos” dentre muitos que este simpático senhor vivenciou.

Hubert Wells lembra com saudade quando treinou os animais para o filme “SheenaA rainha da selva” (1984), foi o maior carregamento de animais para um outro continente e ao longo dos 7 meses de filmagem, passou por muitas aventuras e também apuros, quando por exemplo o rinoceronte rompeu a grade de proteção e saiu correndo pela savana no meio da cena ou mesmo a experiência de viver em tendas na selva, tendo a visita de leões selvagens na calada da noite, isso sem contar frio e calor intenso em algumas regiões do Quênia.

Wells tem um carinho enorme pela África, tendo visitado a trabalho diversos países africanos por mais de 50 vezes. Em 1985, ele estava novamente no Quênia, treinando os leões para o filme “Entre dois amores” (Out of Africa) com Meryl Streep e Robert Redford.

Nas cenas de ataque dos leões, 2 treinadoras de animais serviram de dublê para atriz, embora nos extras do DVD, Meryl Streep tenha dito que ela própria fez as cenas.

E por falar em ataque, todas as vezes que a cena exigia o ataque de um animal, os dublês entravam em cena caracterizado como os atores, por motivos de segurança. Hubert inclusive tinha vários animais de uma mesma espécie, como no caso dos leões, pois como cada animal tem uma personalidade diferente, eles poderiam ser usados em diferentes cenas, um dos leões era treinado só para cenas de ataque, enquanto outros para cenas menos importantes ou mesmo menos complicadas.

Nos anos 70, ele também trabalhou no filme e na série televisiva Born Free (baseado no livro de mesmo nome que no Brasil recebeu o título de “A história de Elsa”, inspirado na vida real da ativista Joy Adamson que vivia com a leoa Elsa). A filmagem no Quênia foi tranquila, embora Joy Adamson fosse uma mulher de temperamento difícil e egocêntrica, a ponto dos leões treinados não terem nem gostado dela (Joy foi assassinada em 1980 por um ex-funcionário).

A série de TV foi cancelada após a primeira temporada, devido ao alto custo e a baixa audiência. Em 1987, no filme “Projeto Secreto – Macacos”, Wells foi alvo de uma calúnia que por pouco não destruiu a carreira dele: um jornal na época noticiou que os chimpanzés usados no filme sofreram maus tratos para fazer algumas cenas.

Wells precisou se explicar quanto a isso e no livro ele revela como surgiu o boato, o motivo do mesmo e como terminou essa história triste, de um filme que tinha no elenco Matthew Broderick e Helen Hunt. Outro fato lamentável relembrado pelo renomado treinador, ocorreu durante uma filmagem na Namíbia, com um leão que pertencia a outro treinador de outra empresa do ramo.

Em um dia de folga, a equipe estava em uma fazenda e o leão em um recinto a parte, quando uma família com um menino veio conhecer o local, enquanto os pais conversavam, a criança estava brincando na área externa com um tipo de aeromodelo, por um fatalidade do destino, o vento jogou o aeromodelo dentro do recinto do leão, e sem notar que havia uma fera ali, o menino entrou para pegá-lo e o pior aconteceu.

De acordo com Hubert Wells, mesmo um leão domesticado ainda tem os seus instintos de caça, principalmente ao ter o território dele invadido. Foi necessário sacrificar o leão para que ele pudesse soltar o corpo, Wells optou por não revelar o nome da possível obra que muito provavelmente deve ter sido cancelada após essa tragédia.

Fatalidades a parte, Wells sempre priorizou a segurança do elenco e equipe, em uma era pré-CGI, onde se utilizava animais de verdade, teve que bater de frente com diretores em função disso, foi o que ocorreu nas filmagens de Os lobos nunca choram (1983), rodado nas montanhas de neve do Canadá. Uma das cenas que mostrava um lobo urinando, teve que ser repetida mais de 50 vezes por ordem do diretor, que na coletiva de imprensa no lançamento do filme, argumentou que eram lobos selvagens, irritando o treinador que teve trabalho junto com a sua equipe para treiná-los em cada cena.

São muitos filmes, muitas histórias, muitas viagens e acima de tudo muitas aventuras, algumas produções que foram encabeçadas por Hubert Wells e sua equipe foram: Cão Branco (1981), Pee Wee (1988),Cheetah (1988, dos estúdios Disney, rodado no Quênia), Babe o porquinho atrapalhado (1998), Drácula (1992), Meu pequeno ladrão (1994), além de ter sido dublê no filme A cidade do ouro perdido (1985).

Um dos filmes que o famoso treinador lembra com carinho (além de Sheena, seu melhor trabalho na opinião dele, pelo número de animais envolvidos) também se passava na África, A sombra e a escuridão (1994), com Michael Douglas e Val Kilmer. Foram levados para a África do Sul vários leões de 2 treinadores diferentes além de Hubert Wells, para serem usados em diferentes cenas, como ataque, perseguição etc.

Hubert recorda dos papos animados regados a cerveja com o astro Val Kilmer após um dia inteiro de filmagem, inclusive a tenda do treinador era próxima a do ator, que em um determinado dia recebeu a visita ilustre da topmodel Cindy Crawford, sua namorada na época. Apesar do filme ter custado milhões de dólares e o resultado ter sido bom, o mesmo não ocorreu nas bilheterias, se revelando um fracasso.

Hubert Wells teve a vida que muitos gostariam de ter tido, lidando com os animais mais fascinantes da natureza, viajando por todos os continentes, em contato com os maiores astros de Hollywood, reunindo histórias incríveis que seriam impossíveis de serem descritas todas elas neste livro Lights, Camera, Lions, para quem tem décadas de carreira.

Há alguns anos atrás, Wells vendeu a Animal Actors of Hollywood para a Cheryl, que no passado pertenceu a equipe de treinadores dele, e hoje comanda uma das empresas mais conceituadas quando o assunto envolve animais no cinema e na publicidade.

Aposentado, hoje Hubert Wells conta apenas com a companhia de um pequeno cão, algo difícil de imaginar partindo de um homem que um dia teve uma verdadeira selva africana em uma imensa propriedade em Thousand Oaks, Califórnia.

Em 2016, quando eu estava em Los Angeles, enviei uma mensagem para Cherly, interessado em visitar AAH para fins jornalísticos, gentilmente, ela me respondeu que seria complicado naquele período, pois estava trabalhando muito treinando alguns animais para um filme.
Lights, Camera, Lions pode ser adquirido no site Amazon ou mesmo e-book, no idioma original (inglês), o livro também possui fotos e muitas outras histórias interessantes, que pra quem é fã de cinema e ama animais, vai apreciar muito a vida aventureira do Tarzan dos animais.

Texto escrito por: André Araújo ([email protected]).

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