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Formatos de Tela

Formato de Tela, Proporção de Tela, Aspecto de Tela ou Aspect Ratio

Nos anos 80, os formatos de tela dos filmes na TV eram um só. O filme cobria toda a tela, sem aparecer aquelas tarjas pretas que vemos nas TVs modernas. Mas porque isso acontece? Para entendermos isso, vamos revisitar um pouco a história dos formatos de tela do cinema.

Os curtas do início do século 20, e depois os médias e longas-metragens, apresentavam obras em um formato retangular mais próximo a um quadrado, mais precisamente 4×3 (Fullscreen), ou seja, 4 de largura por 3 de altura, também conhecido como formato 1.33:1 (a divisão de 4 por 3). Com a chegada do som, o formato 1.33:1 foi alterado para 1.37:1. Mas o formato inicial prevaleceu devido a uma alteração feita em sua altura.

Durante esse tempo, algumas poucas produções experimentavam novos formatos de forma tímida, como foi o caso do filme “A Grande Jornada” (1930. Direção de Raoul Walsh), que pôde ser vista em sua época em uma dimensão diferente de tela. O formato Grandeur utilizava não o 35mm, mas o 70mm, e sua imagem ganhava uma lateralidade que chegava a 2.1:1, ou seja, para 2 de largura, um de altura. A imagem crescia horizontalmente e, assim, o público podia ver mais detalhes do que acontecia em cena, porque a imagem enquadrava vários elementos.

Mas o formato (quase) quadrado é que predominou por algumas décadas. Sendo assim, basicamente todos os filmes produzidos antes dos anos 50 tinham este formato.

Na segunda metade dos anos 40, a TV se popularizou nos EUA. Acostumados com a ida aos cinemas, o público começou a ver na TV uma nova forma de entretenimento. Os filmes agora podiam ser vistos na comodidade do lar, e o fator novidade “prendia” os telespectadores em suas casas, porque, além dos filmes, outras atrações na TV chamavam a atenção de famílias e amigos.

“Em Busca do Ouro” (1925). Formato 4×3 ou 1.33:1.

Com isso, o público nos cinemas consequentemente começou a diminuir. O que os estúdios de cinema poderiam fazer para atrair as pessoas de volta às salas de cinema? Os filmes já estavam estabelecidos enquanto narrativa; novos equipamentos, como o uso de câmeras mais leves, já não limitavam tanto as filmagens. O som já estava em uso há mais de duas décadas, e a cor já era utilizada desde os anos 30.

A resposta para o problema veio através da Twentieth Century Fox, que criou um novo sistema de tela, o Cinemascope, baseando-se no que já havia sido experimentado no final dos anos 20: a tela larga (Widescreen). Para isso, utilizou-se lentes anamórficas (um processo que consiste em filmar com uma lente que espreme a imagem e, depois para a projeção, troca-se a lente para uma lente anamórfica que irá esticar a imagem, ficando na mesma proporção à que foi filmada originalmente). Os formatos variavam: 2.35:1; 2.55:1; 2.66:1…

O filme que inaugurou esse novo formato de tela foi “O Manto Sagrado” (1953. Direção de Henry Koster). O público lotou os cinema para assistir aos filmes em um formato de faixa, um alargamento que fazia uma grande diferença, criando um aspecto de horizontalidade. Era como se a tela tivesse se duplicado. Começou então uma corrida dos estúdios para a mudança do novo formato. O clássico “Os Brutos Também Amam” (1953. Direção de George Stevens) foi filmado originalmente no velho formato, mas cortado e ajustado para ser exibido em tela larga. Isto aconteceu pela necessidade em se adaptar ao novo mercado. Vários outros processos foram criados posteriormente: VistaVision, Technirama, Panavision, Techniscope, IMAX, etc.

“O Manto Sagrado” (1953). Formato 2.35:1.

Sindicato de Ladrões” (1954. Direção de Elia Kazan) foi o primeiro vencedor do Oscar de melhor filme a ser exibido em tela larga. Sendo produzido em 3 formatos, o filme é hoje mais visto no formato 1.66:1.

A matemática do formato de tela é muito curiosa, porque entendendo o tamanho de cada formato, fica fácil, por exemplo, saber como determinado filme ficará em sua TV moderna quando você comprar aquele filme em DVD e Blu-ray (ou se você assistir online), e a característica estiver escrita na parte de trás da capa.

Vamos supor que você adquiriu o filme “Lawrence da Arábia” (1962. Direção de David Lean); lá vai estar escrito ‘widescreen anamórfico 2.20:1’, um formato em que as tarjas pretas (Letterbox) ficarão menores do que em um filme como “Forrest Gump – O Contador de Histórias” (1994. Direção de Robert Zemeckis), que apresenta o formato 2,35:1. “Os Vingadores” (2012. Direção de Josh Whedon), foi filmado para ser exibido em formato 1.77:1 (ou 16×9, aquele formato que ocupa toda a tela de sua TV). O formato 1.77.1 é o sonho de consumo de várias pessoas que detestam ver barras pretas na lateral ou na horizontal.

“Sindicato de Ladrões” (1954). Formato: 1.66:1.

Rocky: Um Lutador” (1976. Direção de John G. Avildsen) apresenta o formato 1.85:1, em que as tarjas são bastante pequenas. Isso acontece por uma questão simétrica, quando você observa que, quanto maior a numeração do formato, maior será sua largura de imagem, menor será sua altura, e, consequentemente, maior serão as barras pretas em cima e em baixo. Por isso que o formato 1:66 apresenta pequenas barras nos lados esquerdo e direito, porque sua proporção ultrapassa o 1.77:1 de sua TV.

Você está assistindo “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008. Direção de Christopher Nolan) e percebe que em alguns momentos as tarjas somem e reaparecem. Isto acontece porque o filme foi filmado em 2.40:1 (com grandes tarjas pretas), mas o diretor Nolan filmou algumas sequências mais espetaculares (como o assalto do início) em IMAX, um processo moderno que expande a imagem, se tornando 16×9 quando exibida na TV wide.

“Lawrence da Arábia” (1962). Formato: 2.20:1.

Hoje em dia poucas pessoas têm TVs convencionais (aquelas quadradinhas, chamadas Crt). No meu caso, quando eu assistia aos filmes nos anos 80 nestas TVs, não existiam as barras, porque não havia um interesse da TV em exibir filmes que não ocupassem toda a tela. As TVs quase quadradas mais usuais eram de 14 a 29 polegadas, e um filme exibido originalmente tal como ele foi produzido (estamos falando dos filmes em widescreen) ficariam com a imagem pequena.

Mas com a chegada dos DVDs, começou a aparecer o interesse em apresentar o filme tal como ele realmente é (há exceções, como falaremos mais abaixo), e o público tinha o direito em assistir a esses filmes em seu formato original. Se o filme não fosse com aquele formato que surgiu no cinema mudo e foi até 1953, ele teria que aparecer as tarjas. Mas porque os filmes em widescreen não eram exibidos com tarjas nas TVs convencionais até meados dos anos 90? Simplesmente porque você assistiu aos filmes mutilados. Como? Tente encaixar um retângulo em um quadrado. Não vai caber. Então o que você faz? Encaixa o que der, e o restante você deixa de fora.

“Sob o Domínio do Mal” (2004). Formato: 1.85:1.

Era isso que acontecia. Vamos a um exemplo: Você assistiu “Ben-Hur” (1959. Direção de William Wyler) nos anos 80 em uma TV convencional, e, sem entender ou conhecer formatos de tela, achava que estava vendo o filme com sua imagem inteira ali. Mas aí vem a notícia chata: Você era enganado e não sabia. “Ben-Hur” é um épico exibido originalmente em 2.76:1, um dos formatos que apresentam a imagem mais esticada. Colocar este formato em um 4×3 implica em um enorme corte nas laterais do filme, que chega a praticamente 50%.

Chegamos à questão do Pan & Scan. Pan é o processo em que se corta as laterais de um filme em widescreen, para caber em uma TV convencional. O corte Pan é feito de forma automaticamente centralizada, ‘jogando fora’ tudo que está nas laterais. O Scan passa por um processo “menos pior”, em que é analisado o que deve ficar de fora ou não, imagem a imagem; podendo ser laterais ou o centro. O processo Pan vai acompanhando as cenas e decidindo quais pontos da imagem ficam e quais não ficam. Ambas as formas lhe tiram o prazer em ver o filme em seu formato original. Assista ao DVD do filme “O Jardim Secreto” (1993. Direção de Agnieszka Holland) e você verá aquelas belas imagens em um quadrado, sabendo que há pedaços em suas laterais que não estão ali. Este processo descaracteriza a obra, porque, antes de tudo, recorta elementos fundamentais para o seu entendimento narrativo. É como se em uma foto de formatura com 20 alunos, alguém a cortasse, aparecendo apenas 10 alunos.

“Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” (2004). O processo Scan.

Por um bom tempo, alguns filmes em DVD apresentaram esse corte absurdo. A chegada do blu-ray serviu, entre outras coisas, para consertar isso, trazendo os filmes em sua versão original. Quer dizer, grande parte dos blu-rays, porque ainda existem distribuidoras que lançam alguns filmes com problemas de formatação. Não apenas com cortes laterais, mas também com outros problemas na reprodução do widescreen original da obra. Por exemplo: um filme exibido em formato 2:35 é apresentado em formato 1.77:1 (16×9), tomando toda a tela. Onde foi parar o restante da imagem? Ela simplesmente foi cortada.

Quando as pessoas hoje reclamam das tarjas pretas, dizendo que estão perdendo a imagem, na verdade elas estão é ganhando. E a geração atual tem o privilégio em assistir aos filmes em sua totalidade de imagem, o que não acontecia com o público oitentista. Ainda assim, erroneamente algumas pessoas insistem em se livrar das barras, esticando a imagem nos aparelhos de TV e DVD/blu-ray, ficando aquela imagem estranha e feia, onde tudo fica fino; ou elas simplesmente dão um zoom, deixando a imagem com cortes verticais e horizontais. Uma dica: assista da forma como o filme é apresentado. Você só tem a ganhar.

 

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