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CRÍTICA: GOTTI: IN THE SHADOW OF MY FATHER

Uma obra que consegue ser mais problemática do que a própria vida do biografado.

Ficha técnica:

Direção:Kevin Connolly
Roteiro: Lem Dobbs e Leo Rossi
Elenco:John Travolta, Kelly Preston, Stacy Keach, Pruitt Taylor Vince e Spencer Lofranco
Nacionalidade e lançamento: EUA, 15 de Junho de 2018 (mundial)

Sinopse: Biografia que relata três décadas da conturbada vida do chefão do Crime Organizado, John Gotti e seu filho, Gotti Jr, de seus primeiros trabalhos na rua até a chegar ao trono da Família Gambino em Nova York.

Vou tentar separar esta Crítica em três atos: relatos técnicos do filme, alguns motivos para ele ter este resultado em tela e a conclusão da minha nota.
Temos diversos problemas técnicos… péssimas atuações, roteiro sem clímax que só usa boas frases como muleta e uma direção sem pulso ou objetivo. A parte que cabe ao Kevin Connolly é decepcionante de muitas formas, por depender de uma obra sobre alguém tão grande e interessante, por ser mais um oportunidade de conhecermos mais a fundo a máfia com relatos reais e por se tratar de um jovem e ao mesmo tempo experiente diretor, que poderia trazer coisas novas ao gênero. Mas… não é bem assim. Connolly que tem curtas, dirigiu diversas episódios de séries e está no seu 3° longa, sendo um deles um documentário, aparentemente estava com a faca e o queijo na mão para fazer Gotti. Mais para frente entro nos detalhes que lhe trocaram a faca por uma colher e lhe deram um queijo errado. Mas a sua direção não tem força, não tem face e se perde a cada sequência.
Cenas de violência ou dramáticas que teriam um peso emblemático, passam como carros em uma agitada avenida sem nenhum deles te tomar a atenção. Não há exaltação. Não te instiga, não atiça sua curiosidade e você mal quer ver a próxima cena. Tudo sem clímax, tensão ou objetivo. Fora que não há uma assinatura, e poxa, se é um gênero com tantas fontes a se beber, beba, banhe-se e até se afogue, mas não faça algo vazio assim. Um grande nome como Gotti ter um longa desalmado destes, é um pecado. Trabalhar em um filme de máfia é saber engolir clichés, mas mesmo assim, se bem talhados, os devoramos de muito bom grado. Nos deparamos aqui com falas muito bem escritas mas que são ditas por bocas mortas ou sem nenhum tipo de amarra convincente por parte dos profissionais. Parece que aqui temos alguém querendo mudar o gênero mesmo demonstrando estar perdido em meio a ele. Connolly evitou imitar o que já fora feito, escapando até mesmo de um ”feijão com arroz” de base, porém na hora de inovar, também não cumpre com o que propõem em ser distinto. Falha miseravelmente em ambos. Não que eu esperava algo como um Coppola muito menos um Scorsese, mas não ter assinatura alguma e faltar em referenciar os mestres do gênero… é assustador e amargura toda a experiência.
O trailer é bem montadinho, lembrava muito o naipe do Punisher, tanto dos filmes como da série mais atual. Aquele tom de filme de baixo orçamento feito com garra, com vontade, abordando temas frios e com cenas bem quentes, mas do nada há um plot twist e nos deparamos com um filme extremamente B por não saber o que fazer com o budget que tinha. Ah, e claro, o montador não pode ser o mesmo do trailer, pois o resto do longa temos uma continuidade horripilante. Todo o trabalho de pós-produção é espinhosa, até a trilha sonora agride por ser tão perdida em sua falta de nexo.
Há ma frase no filme que diz: ”Precisamos de homens que saibam mais do que matar. Precisamos de homens com corações batendo no mesmo ritmo”, e é quase um relato que quebra a 4° parede por qui. Ali sobravam atores e faltava devoção, entrega, gana por seus personagens terem o mínimo de vida fora do papel. Travolta manda bem, mantém um nível por todo o longa – mesmo mudando bastante de idade durante este percurso – mas não conseguiu de forma alguma sustentar o filme todo. Belas locações, fotografia competente mas um casting de amargurar… haviam momentos que pareciam ”não-atores” em set, mas que de fato também não eram, pois este recurso é usado por não haver necessidade de que profissionais tenham que esculpir nuances ao personagem e não traz uma carga elaborada no trabalho não verbal. Não-atores são usados para trazerem sim uma vivência, uma realidade mais crua – como o trabalho maravilhoso em Cidade de Deus – o que no caso contradizia a cada cena. Nem se quer um entre dúzias de personagens figurantes, coadjuvantes e até mesmos a linha de frente, tinha uma gota de carisma. Nenhum.
Com o paladar baleado e a falta de mensagem durante o filme todo, temos a inquietante pergunta ”por que eu assisti até o fim??”, então aqui vai algumas possíveis explicações pela falta apreço:

Começando pelos anos desta produção. A Fiore Films comprou os direitos de Gotti Jr. em setembro de 2010, com o intuito de transformar o material da história de seu pai em um longa biográfico de um dos maiores nomes da máfia ítalo-americana. Começaram então o trabalho em cima do roteiro, que levou anos e com centenas de tratamentos entre Lem Dobbs – chamado para compor o time – e Leo Rossi – idealizador do filme. Dizem que Leo Rossi entrou de cabeça quando viu que Sylvester Stallone havia pulado fora graças ao seu sucesso na época com Os Mercenários. Dizem que Stallone já estava xavecando Gotti Jr. a algum tempo, pois ele queria produzir e estrelar este filme, mas a família não queria aceitar, mas foi Rossi que os convenceu que seria uma puta ideia.

Parece que a dupla de roteiristas tiveram uma conturbada trajetória mas em 2013/2014 começaram a trabalho de casting, onde foram chamados Al Pacino e Joe Pesci pra linha de frente, mas com tantos tratamentos, dizem que o papel de Pesci foi diminuindo e diminuindo, até que o cachê também diminuiu e então Pesci processou a Fiore Films e lhes tomaram 3 milhões do budget do longa. Al Pacino sai em seguida, junto a outros nomes cotados para o papel de Jr. que seriam Ben Foster e James Franco, fora Lindsay Lohan que faria o papel da esposa de Gotti.

Na direção tivemos primeiramente Nick Cassavetes (Alpha Dog) em 2011 que saiu para terminar um projeto independente – chamado Yellow – e Joe Johnston (Capitão América: O Primeiro Vingador) que ficou levando a produção em ”banho maria” e aceitando outros trabalhos antes de assinar contrato. Depois a produção fora atrás do grande Barry Levinson (Assédio Sexual e Ray Man) que chegou a gravar algumas cenas em 2012, mas que acabou desistindo do projeto por não ver potencial no mesmo. Gravações paradas por mais um tempo.
Eis então que surge John Travolta para encabeçar o filme que até então só perdia tempo e consequentemente, dinheiro. Travolta além de adorar papéis assim, se identificou bastante com o personagem, pois ambos perderam um filho ainda jovens, e aparentemente gostaria de recriar esta cena em tela. Em 2015 então, Kevin Connolly é chamado e outras produtoras se associam ao projeto que começa sair do papel novamente. Eis que 2016 eles gravam enfim e tem a Lionsgate Premiere na distribuição.
No ano seguinte, 2017, mais problemas, com pós-produção e não conseguem lançar o filme na data que planejavam. Mais dinheiro que vai embora e o seu título que vai se sujando cada vez mais em toda essa lama. Quando fora assistido por especialistas da área em cabines vips, Gotti conseguiu ter a marca impressionante de 0% no Rotten Tomatoes, com todos os jurados votando negativamente contra a obra apresentada, ”vencendo” filmes como Contato de Risco que tinha uma das piores notas da história. O diretor e a produção defendeu o filme com unhas e dentes e tinham fé que o público ainda iria gostar, No festival de Cannes agora em 2018, segundo a Deadline, Gotti fora mais uma vez massacrado pelos críticos antes de ser lançado mundialmente em junho, o que desanimou muito os produtores.
Foram tantos problemas que até o nome foi alterado algumas vezes, passando anos como: “Gotti: Three Generations“, até voltar para a ideia inicial. Um filme assim, ou você faz o uso de clichés para ter uma base e inova no decorrer – olha a beleza que é Os Infiltrados – ou você abusa pesadamente do óbvio e escreve um retrato foda do que já vimos, mas de uma maneira suculenta. Aqui não vemos nada disso. Aqui não vemos nada de interessante. O que nos resta é torcer que o próximo trabalho de Travolta, Moose seja mesmo incrível e compense um pouco.
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Resumo

Com tantos problema, talvez seja mesmo mais cabível o resultado final, porém, a falta de entrega dos atores menores, o roteiro sem peculiaridade ou arbítrio com algum conteúdo e a direção que não sabe o quer da própria obra, trazem cerejas podres para este bolo que erra em todos os seus ingredientes, deixa tempo de mais no forno e ao tirar da forma, teve a capacidade de quebra-lo todo. Uma pena.

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