Into the Forest (Patricia Rozema, 2016) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Into the Forest (Patricia Rozema, 2016)

Em “Into the Forest”  a diretora Patricia Rozema nos lembra constantemente da força feminina através dos seus olhares atenciosos sobre detalhes do cotidiano. Esse cotidiano é revelado sob a perspectiva de duas irmãs que, com toda a coragem do mundo, precisam sobreviver em um mundo quase pós-apocalíptico. O “quase” é pela situação: no filme, o mundo não sofreu uma invasão alienígena, não explodiu, nada do tipo, apenas ouve um problema com a energia, o que, em um mundo futurista, onde a tecnologia é cada vez mais presente e necessária, pensar em um mundo sem energia é a mesma coisa de o entender como inútil.

Começamos com imagens maravilhosas, com inserções da floresta e mesclando com Eva ( Evan Rachel Wood ) dançando. Como se, de imediato, a diretora já estabelecesse um elo entre a mulher e natureza. A dança sugere movimento, desprendimento e liberdade, e a floresta representa a mesma coisa, principalmente quando tencionamos imaginá-la como um lar.

As cenas belíssimas do começo acontecem ao som da Cat Power com a música Wild is the wind que, em sua letra, traz um significado filosófico e levemente entregue, como se sugerisse a liberdade ou a transformação natural.

O pai das irmãs conduz as duas para a conexão afetiva, parece ser o fio que os une e mantém assim, fiel à família. No entanto, a obra começa a introduzir ainda mais dilemas quando as duas precisam se entender sozinhas. Nas cenas iniciais, ambas não parecem se conhecer e, aos poucos, através da situação, são obrigadas a desligar a Internet, televisão ou qualquer outro aparelho de alienamento e, finalmente, se olham. O fim do mundo acontece após a queda de energia ou acontecia antes? O distanciamento da família e isolamento não seria, por si só, o fim do mundo?

Para confirmar essa conexão entre natureza, família, mulher e tecnologia, há uma frase da professora de Eva onde ela pede para a garota “colocar mais energias nos seus braços“, de forma bem intimista, a história parece nos conduzir à hipótese de que, no fundo, a energia que falta ao mundo é a mesma que falta para ela colocar nos braços, ou seja, a entrega para a arte, a leveza, desprendimento, aceitação etc.

Tanto Ellen Page quanto Evan Rachel Wood estão maravilhosas, dialogando muito bem e demonstrando uma sintonia excelente. Page, como sempre, chama mais atenção pelas suas expressões, carisma e andar, mas Evan Rachel Wood compõe uma personagem destinada a sabedoria, extremamente forte e coerente, percorrendo caminhos tristes e fazendo deles uma ferramenta para a evolução; É perceptível a diferença que existe entre ela no primeiro ato – silenciosa e observadora – para o final, onde se torna uma líder.

Pela sutileza que essas questões são abordadas, pelas personagens complexas e bem desenvolvidas e pela direção segura e inteligente, o filme merece bastante atenção. O seu ritmo lento pode afastar alguns, mas o processo é enriquecedor e profundo.

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