Era uma vez... várias Chapeuzinhos - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Era uma vez… várias Chapeuzinhos

A literatura tem como objetivo primordial ser lida, como qualquer texto. Ela auxilia na formação do cidadão crítico, pensador, já que permite que o indivíduo seja capaz de analisar os mais diversos aspectos de sua vida.

As relações entre o cinema e a literatura são complexas e se caracterizam, sobretudo, pela intertextualidade, ao ser realizadas adaptações dos clássicos literários infanto-juvenis para o cinema.

Desse modo, evidencia-se uma quase certeza de que é impossível apanhar aquilo que está no livro e colocá-lo, de forma literária, em animações ou filmes. Usa-se a essência das histórias, por vezes junções com outras obras (e com nossa realidade), a imaginação e criatividade do roteirista para se transmitir a mensagem, visto que a possibilidade de transformação de uma fantasia escrita para o cinema é uma forma de interação entre mídias, a qual dá espaço a interpretações, apropriações, redefinições de sentido.

Vivemos um momento em que o mundo está abarrotado de aparelhos eletrônicos sofisticados, telefones celulares e computadores que modificaram a vida das pessoas. Deixou sua rotina mais ágil, não mais escrevem longas cartas e sim curtas mensagens eletrônicas. Se por um lado as mudanças foram benéficas, por outro trouxe seus inconvenientes.

Adaptações cinematográficas de livros não são novidade. No entanto, nos últimos anos, elas têm “invadido” os cinemas, atraindo um grande número de espectadores. Definitivamente, Hollywood tem investido “pesado” nessas produções. Afinal, é um investimento com retorno praticamente garantido: o dos fãs dos livros.

Muitas pessoas não rejeitam a literatura como um todo, de forma que se aproximam de textos mais fáceis e próximos a eles. É necessário atrair o leitor com livros estimulantes, de seu gosto. Até mesmo aqueles mais comerciais, indicados pelos meios de comunicação e que sigam certa receita com ingredientes que fazem parte do gosto desse nicho de mercado, como ação, aventura, suspense e romance.

São esses mesmos livros comerciais, com ingredientes atrativos, que são transformados em filmes. É mais uma forma de vender aquele produto. Porém, apesar desse caráter mercadológico, é necessário apreciar o seu valor. Eles são capazes de formar um leitor, pois o jovem que se acostuma a ler livros fáceis, adquirindo o hábito e o gosto pela leitura, acaba avançando, na maioria das vezes, para outros tipos de literatura, mais elaborados e considerados mais próximos da literatura arte.

Seja a adaptação de obras infanto-juvenis, ou até de suspenses mais ‘pesados’. Porém, vale ressaltar que o sucesso não é certo, apesar de a possibilidade ser grande.

É uma via de mão dupla em que um chama o sucesso do outro. Mas o que quero dizer com respeitar é saber entregar uma obra inteligível. Livros e filmes são plataformas muito diferentes.

O cinema tornou-se uma forma de linguagem altamente expressiva em nossa sociedade. Porém, é necessário ressaltar que seu aspecto didático muitas vezes é esquecido. Ele é visto, na grande maioria das vezes, apenas como uma forma de entretenimento e lazer. Não nego que o seja, apenas acredito que não se restringe somente a isso.

Assim, produtor, roteirista e/ou diretor não pode simplesmente adaptar a obra literária em seus mínimos detalhes porque nem tudo é ‘filmável’. Ou pode até ser, mas para as produções o que vale, às vezes, apenas manter a essência é melhor do que entregar tudo. Realmente, é complicado não associar o livro ao filme, afinal, um é adaptação do outro, mas um longa não deve ser a ‘cópia’ de uma obra literária completa.

 

 

ERA UMA VEZ…

 

Todo mundo tem um filme que marcou a infância. Seja pelas personagens divertidas, pelas aventuras cheias de reviravoltas ou pelos cenários de sonho, esses filmes se tornaram clássicos por encantarem gerações — e marcarem para sempre a infância como um momento tão mágico e especial.

A maioria dos contos de fadas, como Chapeuzinho Vermelho, surgiu por volta da Idade Média, em rodas de camponeses na Europa, onde eram narrados para toda a família, pois a fome e a mortalidade infantil serviam de inspiração e ensinamento para todos.

Dentre tantos filmes que foram feitos – seja para difundir a obra ou somente para entretenimento – destaco a seguir sobre a Chapeuzinho Vermelho.

Chapeuzinho Vermelho, no Brasil, ou Capuchinho Vermelho, em Portugal, é um conto de fadas clássico, de origem europeia do século XIV. O nome do conto vem da protagonista, uma menina que usa um capuz vermelho. Publicada pela primeira vez pelo francês Charles Perrault, e depois pelos Irmãos Grimm (da versão mais conhecida), o conto sofreu inúmeras adaptações, mudanças e releituras e da cultura popular mundial, e uma das fábulas mais conhecidas de todos os tempos. Nas versões cinematográficas, há algumas versões bem diferentes da história original.

Temos, a partir do conto original, várias versões cinematográficas, tanto longa metragem como filme de animação.

 

Chapeuzinho Diferente (título original de Red Riding Hoodlum) é o septuagésimo sexto episódio do desenho animado “Pica-Pau” e o primeiro de 1957. Com direção de Paul J. Smith, roteiro de Milt Schaffer, Dick Kinney. É a segunda aparição dos sobrinhos do Pica-Pau: Toquinho e Lasquita. Também é a primeira aparição de Wolfie Wolf nos anos 1950.

Na trama Toquinho e Lasquita vão levar uma cesta de docinhos à casa da Vovó, e o lobo Wolfie arma mais um plano para cozinhá-los e devorá-los. Enquanto a Vovó pensa que está lendo para os netinhos na sala, estes estão aprontando várias com Wolfie na cozinha. No final do episódio, a Vovó se casa com o Wolfie.

 

O longa A Companhia dos Lobos, é um filme britânico de 1984, com roteiro e direção de Neil Jordan, o filme é baseado em um conto de Angela Carter. Aqui vemos uma produção mais próxima dos contos de fadas originais, que eram sombrios e muito mais assustadores, criaturas meio humanas, meio lobo, assombram os pesadelos de uma jovem mulher, após esta cair no sono lendo uma revista.

O filme reinterpreta a história do Chapeuzinho Vermelho numa perspectiva de emergente sexualidade adolescente. É constituído por uma série de histórias sobre lobos, lobisomens e uma pequena aldeia, num ambiente de conto de fadas, e cheio de referências e conotações sexuais. Nesta versão do antigo conto, o lobo é um lobisomem e a Chapeuzinho Vermelho é uma jovem garota de 14 anos, Rosaleen. O elenco conta com Sarah Patterson, Angela Lansbury, David Warner, Tusse Silberg, Stephen Rea etc.

 

Já a animação japonesa Chapeuzinho vermelho, de 1995, direção de Toshiyuki Hiruma, Takashi Masunaga e roteiro de George Arthur Bloom.

Vemos a história mais conhecida. Chapeuzinho Vermelho, chamada assim por causa da capa que ela veste, um dia perguntou para mãe se podia levar doces para sua avó doente, que vive no outro lado da floresta. A mãe pede para ela ter cuidado e para não falar com estranhos, em vez disso, ela não obedece a mãe e o lobo mau acaba cruzando seu caminho.

 

Mais recentemente, temos uma versão muito mais animada e divertida Deu a louca na chapeuzinho (HOODWINKED!), do ano de 2005, teve direção e de produção de Cory Edwards, Todd Edwards e Tony Leech.

Aqui a tranquilidade da vida na floresta é alterada quando um livro de receitas é roubado. Os suspeitos do crime são Chapeuzinho Vermelho, o Lobo Mau, o Lenhador e a Vovó, mas cada um deles conta uma história diferente sobre o ocorrido. Cabe então ao inspetor Nick Pirueta investigar o caso e descobrir a verdade, levando o chefe Grizzly e o detetive Bill Stork a investigar a verdade. Como dubladores das vozes tivemos Andy Dick, Anne Hathaway, Anthony Anderson, Chazz Palminteri, David Ogden Stiers, Glenn Close, James Belushi, Patrick Warburton, Xzibit.

 

Já no filme Chapeuzinho no Século XXI, de 2006, com direção de Randal Kleiser, produção de Steve Austin e no elenco nomes como Cassandra Peterson, Henry Cavill, Morgan Thompson, Lainie Kazan, Joe Fatone e Debi Mazar.

Uma saudável e engraçada gozação do clássico da literatura infantil escrita pelos Irmãos Grimm, onde a protagonista possui um telefone celular e um iPod, o Lobo Mau é um lobisomem cozinheiro e piadista e a Vovó faz ioga e conversa em chats da internet.

 

Em A garota da capa vermelha (RED RIDING HOOD), mistura de fantasia e terror, produzido em 2001 por Leonardo DiCaprio, a partir do roteiro escrito por David Leslie Johnson e dirigido por Catherine Hardwicke. No elenco temos Amanda Seyfried, Shiloh Fernandez, Max Irons, Billy Burke, Gary Oldman.

Nessa história, quando criança Valerie era apaixonada por seu melhor amigo Peter. Depois de muito tempo, ainda no vilarejo de Daggerhorn, ela se vê apaixonada pelo lenhador em que ele se transformou. Porém, seus pais a prometeram um casamento com Henry, jovem ferreiro. Peter e Valerie planejam fugir, porém descobrem que a irmã dela foi morta por um lendário lobo que aterroriza a vila há anos.

O padre Solomon é então chamado para terminar com a ameaça e comunica então que o lobo é na realidade um dos habitantes do vilarejo. A garota então entra num dilema, pois desconfia que alguém que ela conheça seja a fera.

 

Em 2011, temos Deu a Louca na Chapeuzinho 2. Direção de Mike Disa, Roteiro: Mike Disa, Cory Edwards, Todd Edwards, Tony Leech.

Na trama, enquanto treina com um misterioso grupo, Chapeuzinho vermelho recebe uma ligação urgente do chefe da Agência de Espionagem Feliz Para Sempre. A bruxa malvada sequestrou João e Maria e Chapeuzinho é a única que pode salvá-los.

 

Chapeuzinho Vermelho no Castelo das Trevas, uma produção americana de 2015 que mistura fantasia e terror e foi dirigida por Rene Perez, com a participação de Iren Levy, Allana  Forte e Robert Amstler.

Chapeuzinho Vermelho acaba se escondendo em um antigo castelo em meio à floresta, em sua tentativa de fugir dos perigos escondidos na mata fechada. No entanto, uma vez lá dentro, Chapeuzinho irá descobrir novos perigos, problemas ainda maiores que a colocam em risco, de maneira iminente e fatal.

 

Transpor clássicos da literatura para o cinema requer criatividade e desprendimento.

O papel que literatura de massa e suas respectivas adaptações desempenham na formação do indivíduo é muito importante para o desenvolvimento do país, já que permitem que se formem cidadãos críticos e, consequentemente, ativos em nossa sociedade, com capacidade de reflexão e ação. Auxiliar na formação de cidadãos pensantes equivale a auxiliar com o crescimento do país.

Visto deste modo, não podemos ignorar o crescimento da “cultura de massa”, pois ela reproduz a arte libertadora do homem contemporâneo, por ser a linguagem que o representa.

Os filmes feitos hoje em série, ou sequência de livros que estouram em vendas, transformam-se, assim, também num entretenimento de massificação da cultura, mesmo sendo para crianças.

 

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