Cine PE 2018 | Dia 1 - Mulheres Alteradas
Cine PE
Artigo

Cine PE 2018 | Dia 1 – Mulheres Alteradas

Filme baseado nas histórias em quadrinhos de Maitena foi o longa de abertura do 22ª Cine PE

As origens de Mulheres Alteradas – longa-metragem de abertura da 22ª edição do Cine PE pela Mostra Hors-Concours, fora de competição – ficam claras até mesmo para quem não conhece as cultuadas histórias em quadrinhos de Maitena, que inspiram o filme. Seja na direção de arte que aposta em cores vivas e primárias, nas atuações acima do tom que transformam as personagens do filme em criaturas caricaturais e na dinâmica direção de fotografia de Will Etchebehere, tudo está em constante movimento no primeiro longa de Luis Pinheiro (experiente em trabalhos para a televisão que incluem as séries Descolados (2009) Lili a Ex (2016)).

 Mulheres Alteradas acompanha as desventuras de quatro mulheres e seus caminhos que frequentemente se cruzam. Keka (Deborah Secco) faz uma viagem para salvar seu casamento. Sua chefa, a control-freak Marinati (Alessandra Negrini) se apaixona justamente quando sua carreira deslancha. E sua amiga Sônia (Monica Iozzi), super-mãe, resolve inverter os papéis por uma noite com sua irmã baladeira Leandra  (Maria Casadevall), no auge da crise dos 30.

A paixão do diretor pelos quadrinhos de Maitena (e até mais pelas possibilidades que essa estética dos quadrinhos trás narrativamente, talvez) é perceptível, com interlúdios animados que transformam as atrizes principais em suas equivalentes das hqs no traço da autora que referenciam – e reverenciam – o material de origem. É curioso perceber, então, como os problemas vistos em Mullheres Alteradas parecem ligados diretamente com o material de inspiração, onde o cartunesco e o real se misturam. Se as figuras cartunescas e suas situações absurdas pulam das páginas e conquistam o leitor justamente pelo toque de realidade que vem com o autêntico texto feminino, sente-se na transposição para a telona um estranhamento, onde as situações absurdas e atitudes cartunescas diminuem a força dos discursos.

O que não significa que essa narrativa não funcione em muitos momentos: o plano no qual Leandra anda por um corredor de balada enquanto suas expressões faciais (raiva, tristeza, aceitação) mudam em questão de segundos – com as luzes piscantes que refletem cada uma dessas emoções de acordo com sua representação emocional – consegue ser divertido e elegante ao mesmo tempo. Em contraponto, o momento no qual o marido de Keka se engasga com um camarão – e as consecutivas tentativas de salvamento -, de tão exagerado acaba não funcionando, e isso se reflete inclusive nas atuações, onde temos casos como a Marinati de Alessandra Negrini saída do mundo dos quadrinhos, com exageros e maneirismos, enquanto a Sônia de Monica Iozzi vem numa interpretação mais contida, naturalista.

Com uma estilização de universo que evoca filmes modernos e também baseados em histórias em quadrinhos, como Scott Pilgrim Contra o Mundo (outro filme que se divertia imensamente com os quadrinhos dos quais eram baseados), Mulheres Alteradas deve agradar ao grande público – dada a calorosa recepção da audiência -, com uma estética envolvente, um ritmo frenético e mensagens pró feminismo passadas através deste universo feminino visto aqui.

Se estas mensagens nem sempre funcionam como desejado, os já citados interlúdios animados resumem de forma bem literal: nestas transições, suas protagonistas de carne e osso se transformam nos desenhos – cartunescos, exagerados – do material de origem, e não o contrário.

 

Deixe seu comentário