Crítica: Lady Bird: É Hora de Voar (2017) - 5 Indicações ao Oscar
Lady Bird
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Crítica: Lady Bird: É Hora de Voar (2017) – 5 Indicações ao Oscar

Lady Bird é a cota de filme “fofo” da temporada do Oscar.

Ficha técnica: 
Direção e roteiro: Greta Gerwig
Elenco:  Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Timothée Chalamet
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (15 de fevereiro de 2018 no Brasil)

Lady Bird

Lady Bird vai encantar os que apreciam este tipo de história (um beijo pro nosso chefe Daniel Cury), mas não espere um grande arroubo, não tem nada de extraordinário, só a vida como ela é – o que de forma alguma é errado, mas fica uma sensação de água com açúcar.

Temos aqui uma trama que gira em torno de uma menina de 17 anos que por birra adolescente ou forma de estabelecer uma identidade resolve se auto intitular Lady Bird. Acompanhamos no longa um momento definidor da vida dela: a tentativa de entrar na faculdade. Na vida pessoal, tem que lidar com problemas financeiros da família, a rigidez de um colégio católico, primeiro amor e, principalmente, com ela mesmo. É aquilo que você já viu mil vezes.

Qualquer história pode gerar um filme bom ou ruim, então apesar de Lady Bird ter um trajeto bem pedestre, o como é contado é que tem potencial aqui. Para começar: não há uma grande falha. Nada que dê para apontar técnica ou narrativamente que desmereça o todo. Por outro lado, ironicamente com o título, o filme não decola. Pode-se alegar que a ideia era não decolar, mas sinto que falta um que a mais.

Outro ponto positivo é que a protagonista é palpável. O jeito como ela ama e odeia (às vezes a mesma pessoa), sonha, mente, chora, vive, torna quase impossível não ver uma humanidade muito límpida. Para completar as figuras que a cercam, no geral, também seguem a mesma linha.

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Não temos heróis e vilões. Por exemplo quando há uma traição (não vou dizer de que tipo) esta logo é justificada e por mais que quem a sofra sinta raiva, não tarda para a coisa voltar aos trilhos – em abordagens mais maniqueístas, tomaria-se outros rumos. Alguns tipos, contudo, beiram a caricatura ou tem arcos meio soltos. O personagem Kyle ( Timothée Chalamet) entra na primeira categoria. E o professor de teatro, na segunda.

Se os personagens tem altos e baixo (mais altos, sendo justo), para os atores é só elogios. Das 5 indicações no Oscas as únicas que de fato o filme merecia eram de Melhor Atriz para Saoirse Ronan (que foi indicada anteriormente por outro filme água com açúcar, Brooklyn) e Laurie Metcalf. Ambas com poucas chances de levar já que Frances McDormand e Allison B. Janney têm dominado a temporada.

Ronan e Metcalf dão vida a uma mãe e filha tão bem que possivelmente é o ponto mais alto do filme. Enquanto a filha é elétrica, impetuosa e rebelde, a mãe tem que ser centrada, trabalhadora e dura, mas sem perder a ternura (como dizem por aí…). A relação delas é fechada de forma plena em um movimento de câmera e uma sacada no carro.

O espaço da cidade (Sacramento) também é bem explorado e com muito sentido narrativo. O local limita Lady Bird, como uma gaiola, ela então estabelece uma série de negações e a tentativa de voar dali. As diferenças financeiras também são evidenciadas, mas sem deixar o texto carregado – não vemos uma briga de classes panfletária. O jeito como a menina descreve a casa para o namorado é um marco nesse sentido.

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A religião, tema para alguns espinhoso, é tratado ao mesmo tempo com deboche e com respeito. Como algo que merece ser questionado e como um ninho acolhedor. Até a frase “com Jesus não se brinca” é desvirtuada aqui.

As passagens de tempo tem o enorme mérito de serem pouco expositivas. Não há um letreiro incomodo dizendo quanto se passou. Você pode até ter um segundo de confusão, mas o roteiro dá conta de te situar de forma eficaz. O ritmo tem uma agilidade frenética, então banalizar com explicações desnecessárias ia ser um atestado de incompetência que Greta Gerwig não quis passar, ainda bem.

Apesar de todo valor, indicação ao Oscar, especialmente de Melhor Filme e Direção é bastante questionável. Como deixar de fora direções como Aronofsky em mãe! ou Denis Villeneuve em Blade Runner 2049. Lady Bird é muito bom, mas pouco memorável, ao contrário deste dois citados.

  • Nota Geral
4

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