Crítica: Mindhunter (Série NETFLIX 2017) - Cinemação
4 Claquetes

Crítica: Mindhunter (Série NETFLIX 2017)

“How do we get ahead of crazy if we don’t know how crazy thinks?” – Holden Ford (Mindhunter)

Atenção fãs de drama policial, este seriado é bem diferente do que vocês podem estar acostumados! Com uma narrativa mais lenta e com muito mais diálogo do que ação (são raras as cenas com sangue e tiros), Mindhunter foca na psicologia do crime acima de tudo e surpreende te prendendo a cada palavra.

No final na década de 1970, dois agentes do FBI, com ajuda de uma psicóloga recrutada pelo bureau, procuram analisar as mentes dos piores assassinos em uma época onde crimes eram justificados apenas por motivações financeiras ou passionais. Os indivíduos que saiam dessa linha eram vistos apenas como malucos que matavam por nada, “nasceram maus”. Mas Holden Ford (Jonathan Groff), querendo saber os reais motivos por trás das terríveis transgressões (estupro de inúmeras vítimas, assassinatos em série, necrofilia, esquartejamento, entre outras), se une ao agente Bill Tench (Holt McCallany) e a Dra. Wendy Carr (Anna Torv) para entender o que se passa na cabeça de uma pessoa que comete tais atos através de entrevistas cara a cara com os próprios criminosos. Eles literalmente criam o termo serial killer.

Criada por Joe Penhall e produzida por Charlize Theron e David Fincher, a série é baseada no livro Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano que conta a história real dos ex-agentes do FBI John Douglas (autor do livro) e Robert Ressler. Junto com a Dra. Ann Burgess, eles fizeram justamente o mesmo que os protagonistas do seriado: lançaram um projeto de pesquisa sobre as mentes dos assassinos. Ver os nomes de Theron e Fincher já me passou uma certa expectativa. Afinal nenhum dos dois é exatamente um novato no tema, ela com o famoso papel da Aileen Wuornos em Monster – Desejo Assassino (2003) e ele por dirigir filmes como Se7en – Os Sete Crimes Capitais (1995), Zodíaco (2007), Millenium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011) e Garota Exemplar (2014).

Fincher dirigiu quatro dos dez episódios da primeira temporada e definiu o estilo da série através de um visual simples, discreto e até frio. A fotografia é cheia de tons pastéis, que difere do que geralmente é usado para representar os anos 70, sem as cores vibrantes. Pode-se dizer que chega a passar certa morbidez, além do que já tem na trama. Até o som da série é cuidadoso, eles ambientam bem cada cena sem jogar na sua cara. Não existe exagero, é tudo delicado e as vezes até imperceptível, o que pode deixar a história ainda mais lenta (mas não desista!).

A estética talvez sirva para contrastar com os diálogos que são intensos e alguns até chocantes. Os serial killers da séria são todos homens (grande parte deles na vida real o são) e a maioria de seus crimes são contra mulheres, contendo em maior parte agressões sexuais pesadas. As entrevistas e conversas entre os personagens pode chegar a chocar, pois ao contrário da fotografia, não é discreta nem toca no assunto com muito cuidado. Chega a ser perturbador como Ed Kemper (Cameron Britton) fala sobre o que fez com suas vítimas com enorme naturalidade e eloquência, principalmente por causa dos close-ups utilizados na cena. E ainda mais por saber que é verdade. Sim, os assassinos da série são reais.

A única coisa que não me faz dar cinco claquetes para Mindhunter é por sentir que as personagens femininas são usadas basicamente para mostrar a mudança do arco de Holden. Principalmente sua namorada, Debbie Mitford (Hannah Gross). Gosto bastante dela e da Dra. Carr (que tem maior destaque na série, ainda bem), mas gostaria que elas fossem mais exploradas.

Com 10 episódios e cerca de 50 minutos cada, Mindhunter não é repleta de cliffhangers em cada episódio, não tem muita ação e mostra a burocracia que os agentes tem que passar para conseguir apoio para a pesquisa. O foco principal está nos diálogos, nos personagens e nas suas atitudes. Mas o estudo do que se passar por trás das mentes dos serial killers mostrado a cada entrevista te faz prender a respiração sem nem ao menos perceber.

A série já tem segunda temporada confirmada, mas ainda não há data de lançamento.

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Resumo

Apesar de avançar devagar, a trama e os personagens prendem e garantem uma experiência diferente do que pode-se estar acostumado com dramas policiais.

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