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Filmes Sobre Escritores Reais – Primeira Parte

Quem lê literatura sabe que as histórias de vida de muitos escritores são tão interessantes e intensas quanto seus próprios livros. E o cinema não poderia deixar de explorar essas histórias maravilhosas de gênios que mudaram a forma de escrever e pensar. Alguns escritores tiveram suas vidas relatadas em biografias, tornando assim mais fácil conhecê-los e entendê-los melhor. De outros mais antigos (ou nem tanto) pouco se sabe, levando historiadores e estudiosos a especularem mais do que propriamente terem certeza de alguma coisa.

Se o cinema é uma arte que toma algumas liberdades artísticas, sabemos então que não se pode ter certeza de que tudo que é mostrado em biografias condiz totalmente com o que de fato ocorreu. Mas é interessante lembrarmos da fala de um personagem no clássico western “O Homem que Matou o Facínora (do diretor John Ford): “Quando a lenda é mais interessante que a realidade… imprima-se a lenda”. Então levamos em conta que os filmes sobre escritores contêm, se não a verdade em um todo, boa parte de suas essências. Curiosamente, alguns filmes mostram escritores que de fato existiram (ou existem) em histórias das quais eles nunca viveram.

Esta é a primeira parte de uma série de textos sobre filmes que abordam a vida dos gênios das letras. Para os amantes da boa literatura e da Sétima Arte, conhecer um pouco mais sobre os escritores será um interessante passeio por descobertas, redescobertas e algumas surpresas.

 

William Shakespeare (1564 -1616) – Principais obras: “Hamlet”, “Macbeth”, “Otelo”, “Romeu e Julieta”, “Sonho de uma Noite de Verão”, “Rei Lear”

Shakespeare Apaixonado (1998), direção: John Madden

Sabe-se tão pouco sobre William Shakespeare, que alguns historiadores já chegaram a dizer que ele na verdade nunca existiu, e que seus textos foram escritos por outra (ou outras) pessoa (em breve abordaremos uma produção que relata exatamente isso). O fato é que, passados 500 anos da morte do dramaturgo, hoje fica difícil afirmar que ele não era real. Em “Shakespeare Apaixonado” vemos o escritor (feito por Joseph Fiennes) sem inspiração para continuar sua nova peça, com esperança de que uma musa inspiradora (Gwyneth Paltrow) lhe ajude nessa missão. O filme, que é um misto de comédia, drama e romance, funciona muito bem, trazendo ricas e divertidas informações da época, tudo feito de maneira exemplar, com figurinos e cenários primorosos, além de um excelente elenco de apoio. Venceu sete Oscars, inclusive melhor filme.

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Emily Brontë (1818 – 1848) – Principal obra: “O Morro dos Ventos Uivantes”; Charlotte Brontë (1816 – 1855) – Principais obras: “Jane Eyre”, “Villette”, “O Professor”; Anne Brontë (1820 – 1849) – Principais obras: “Agnes Grey”, “A senhora de Wildfell Hall”

As Irmãs Brontë (2016), direção: Sally Wainwright

Uma produção francesa de 1979 contou um pouco da história das irmãs inglesas interpretadas por Isabelle Adjani (Emily), Marie-France Pisier (Charlotte) e Isabelle Huppert (Anne). Mas, apesar das grandes atrizes e de uma direção de arte impecável, o resultado é um pouco frio, distante, onde perde-se muito tempo com os dramas do irmão Branwell. A produção da BBC feita em 2016 é mais objetiva, focando mais nas irmãs escritoras e as dificuldades e necessidade em esconderem a autoria das obras. Claro que o irmão Branwell não poderia ser deixado de lado, porque ele fazia parte do núcleo familiar. Era um poeta fracassado e problemático que virou alcoólatra e assim tornava ainda mais difícil a vida das irmãs (interpretadas por Chloe Pirrie (Emily), Finn Atkins (Charlotte) e Charlie Murphy (Anne). Uma obra caprichada e humana que mostra a força daquelas três mulheres geniais e suas lutas diárias.

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Leon Tolstói (1828 – 1910) – Principais obras: “Guerra e Paz”, “Anna Karenina”, “A Morte de Ivan Ilitch”

A Última Estação (2009), direção: Michael Hoffman

O escritor russo Leon Tolstói (Christopher Plummer) era também um conde. Sendo assim, conhecia muito bem a nobreza. Porém no final da vida o que lhe interessava mais era o povo e suas necessidades, e menos a riqueza material. O genial escritor era auxiliado por um secretário que o convencera a abrir mãos dos direitos de suas obras, mas isso entrava em desacordo com as vontades de sua esposa Sophia (Helen Mirren). Na tentativa de barrar a ‘intromissão’ da matriarca, um grupo de auxiliares leva Tolstoi para longe no intuito de conseguir que o autor alcance seus objetivos sem a interferência de sua esposa. “A Última Estação” é um filme bonito de se ver, recriando a despedida de um dos maiores escritores de todos os tempos, mostrando como ele era muito querido pelo grande público. Além do formidável casal de atores, destaque também para James McAvoy e Paul Giamatti.

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Anne Frank (1929 – 1945) – Principais obras: “O Diário de Anne Frank”, “Contos do Esconderijo”

“O Diário de Anne Frank” (1959), direção: George Stevens

A Segunda Guerra ceifou várias vidas, e uma delas foi a da menina judia Anne Frank. Anne tinha sonhos, projetos, vivia de forma intensa, mas com o eclodir da guerra e tendo que se esconder dos nazistas, sua vida mudou drasticamente. A obra do diretor Stevens aborda os dois anos em que Anne (Millie Perkins) ficou isolada em um esconderijo juntamente com sua família, relatando a convivência deles com outras pessoas que também lutavam pela sobrevivência. Um filme sincero e comovente, com um excelente elenco de apoio que conta com Shelley Winters (Oscar de melhor atriz coadjuvante), Joseph Schildkraut e Ed Wynn, entre outros. Venceu também os Oscars de direção de arte em preto e branco e fotografia em preto e branco. Em breve falaremos de outra produção sobre Anne Frank, dessa vez englobando outra fase de sua vida.

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Graciliano Ramos (1892 – 1953) – Principais obras: “Vidas Secas”, “São Bernardo”, “Memórias do Cárcere”, “Angústia”

“Memórias do Cárcere” (1984), direção: Nelson Pereira dos Santos

O escritor alagoano Graciliano Ramos escreveu suas memórias de quando, em 1936, foi preso durante a ditadura do governo de Getúlio Vargas, acusado de ter vínculos com o Partido Comunista. A obra intitulada “Memórias do Cárcere” foi adaptada para o cinema pelo diretor Nelson Pereira dos Santos (que já havia feito “Vidas Secas”, outra obra original de Graciliano). O escritor é bem interpretado por Carlos Vereza, e o que vemos em seus relatos são denúncias de maus tratos nas prisões imundas, o descaso das autoridades, o caos estabelecido nas instituições brasileiras da época. Tudo é feito de forma sóbria por Nelson Pereira, sem poupar detalhes sórdidos. O filme só pôde ser feito em 1984, quando a ditadura chegava ao fim. Uma aula de história de um dos períodos negros da História do Brasil.

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Sylvia Plath (1932 – 1963) – Principais obras: “A Redoma de Vidro”, “Ariel”, “Johnny Pannic and the Bible of Dreams”

“Sylvia – Paixão além das palavras” (2003), direção: Christine Jeffs

A vida da escritora Sylvia Plath (Gwyneth Paltrow) foi cercada de angústias e desesperanças. Bastante depressiva, Sylvia há tempos carregava um histórico do problema, agravado pela morte do pai quando ela tinha apenas 8 anos de idade. Na universidade ela conhece o poeta Ted Hughes (Daniel Craig), com quem se casa e tem filhos. Porém, excessos de ciúmes e um desespero incontrolável fazem com que o casamento fracasse. Hughes vai viver com uma amiga do casal, causando assim uma maior aflição em Sylvia, que começa a perder os rumos de sua vida. O filme não é nada agradável de se ver, mostrando de forma muito triste o desespero de uma mulher genial que não conseguiu superar suas dores, culminando em um final trágico. Por sinal, a obra foi muito criticada por mostrar a escritora de forma bastante sofrida. Melancólico e desesperador, não é indicado para todos os públicos.

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Truman Capote (1924 – 1984) – Principais obras: “A Sangue Frio”, “Bonequinha de Luxo”, “Música para Camaleões”

“Capote” (2005), direção: Bennett Miller

Philip Seymour Hoffman está excepcional no papel do excêntrico escritor Truman Capote, e por esse papel venceu o Oscar e todos os principais prêmios de melhor ator. É um belo trabalho do ator, que dá vida a um dos mais influentes escritores do século 20. Capote escreveu romances, contos, ensaios, roteiros para cinema e peças de teatro. Em suma, foi um escritor completo. O filme mostra como ele escreveu seu principal trabalho “A Sangue Frio”, um grande e polêmico texto documental relatando a história de dois criminosos que assassinaram uma família de forma impiedosa durante um assalto. Ao lado de Capote vemos frequentemente a escritora Harper Lee (autora de “O Sol é para Todos”, e que aqui é interpretada por Catherine Keener). O filme “Confidencial” (2006) conta basicamente a mesma história, porém com resultados inferiores.

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A seguir:

Um escritor russo mergulhado em dívidas; uma escritora inglesa dividida entre o amor e a razão; um escritor e dramaturgo irlandês envolto em polêmicas; uma poetisa norte-americana fechada para o mundo à sua volta; e mais…

 

 

 

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