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Precisamos falar sobre “13 Reasons Why”

Sim, eu vou falar sobre a série “13 Reasons Why”, que tá todo mundo comentando sobre. Porque sim. E porque faz tempo que eu não escrevo na coluna Cinema e Algo Mais (não tem justificativa, então nem vou pedir desculpas).

Se quiser, leia a crítica do Lucas Albuquerque e OUÇA O NOSSO PODCAST sobre Bullying, Depressão e Suicídio!

 

Nem sei exatamente o que eu quero falar sobre ela. Só sei que tem me incomodado bastante o debate polarizado sobre a qualidade e os efeitos da série. Então vamos dividir em tópicos (é mais fácil pra eu me organizar e o Google gosta, o que facilita na estratégia de SEO, risos).

Mas primeiramente (fora Temer), é importante situar o leitor que nunca ouviu falar de 13 Reasons Why: a menina Hannah se matou, largou 13 fitas cassetes para as 13 pessoas tidas como “culpadas” pela sua morte, e o menino Clay tá ouvindo tudo devagar para deixar a temporada longa e descobrir detalhes sobre o ocorrido e sanar sua culpa. Pronto. É isso. Se quiser mais, dá um Google que tá facinho.

 

“13 Reasons Why” tem um roteiro preguiçoso e pedestre?

Comecemos com a parte mais técnica. Ora bolas: é claro que o roteiro não é o mais ousado ou inovador do mundo. É claro que tem muitas falhas. Se arrasta demais em determinados momentos, tenta abordar temas em excesso e não dá conta de fazer o arco dramático de todos os personagens funcionar.

Mas por favor! Pedestre, preguiçoso e  covarde, entre outras palavras fortes para caracterizar o roteiro, é algo muito exagerado. Tem elementos que simplificam demais a narrativa, como o machucado de Clay e algumas narrações. Tem alguns momentos de vai-e-vem que são desnecessários, e pelo menos um dos personagens é tão unidimensional que não combina com a maioria dos que são mostrados. Ah, e vale destacar que um dos “porquês” do título não é bem isso, criando uma promessa não cumprida.

Mas não podemos dizer que a série não tem seus méritos. Não só tematicamente, mas em termos de construção de personagens, conseguiu um ótimo resultado.

Este é o primeiro fator da série que não é perfeito: nem extremamente bom, nem extremamente ruim. Sinto muito, haters adeptos do “8 ou 80”: vai haver mais disso por aqui!

 

“13 Reasons Why” não é tudo isso…

Hmmm. Vamos lá. Você provavelmente tá ouvindo seus amigos dizerem que é a melhor série do mundo, né? E tem gente clamando aos quatro ventos que chorou copiosamente nos episódios finais. Se essa for a situação, então talvez você esteja contaminado por uma visão apaixonada da série.

A expressão “não é tudo isso” sempre surge como uma resposta ao excesso de exageros.

Portanto, se a sua expectativa é de ver o novo Breaking Bad surgir à sua frente… pode ir tirando a sua bicicleta do penhasco.

Entretanto, “13 Reasons Why” está longe de ser uma “Malhação bem produzida”. É uma série interessante, com elementos importantíssimos, e que atinge seu público-alvo (inicialmente, adolescentes) em cheio com mensagens que podem muito bem ajudar a moldar pessoas mais empáticas…

Mas é claro que aí chegamos no próximo tema:

 

“13 Reasons Why” é pra qualquer pessoa assistir?

De fato, eu tenho que concordar que a série não deveria ser vista por todo mundo. Além de ter cenas muito pesadas, de fato ela pode conter gatilhos que contribuam para a piora do estado de pessoas com depressão, tendência à depressão, ansiedade, etc.

Não que eu seja um especialista no assunto. Nem tenho qualquer tipo de distúrbio mental (que eu saiba). Mas basta prestar atenção na forma como a série aborda algumas questões para ver que é possível que alguém interprete a trama como algum tipo de incentivo.

Também vale destacar que pessoas muito jovens ou muito sensíveis a cenas e temáticas psicologicamente densas podem se sentir incomodadas. A série alerta para esse tipo de situação, mas apenas depois de alguns episódios, quando o público já está preso aos ganchos e “cliff-hangers” que seguram a audiência.

Houve um aumento grande de ligações ao 141, número de telefone do CVV (Centro de Valorização da Vida), mas também PODE haver um aumento do índice de suicídios nos jovens. Segundo o psiquiatra Luís Fernando Tófoli, em entrevista ao Nexo Jornal, é muito difícil de saber esse tipo de dado em tão pouco tempo. “A única maneira de saber (…) é ter acesso aos dados dos municípios, difíceis de levantar. Só vamos saber daqui uns dois, três anos”, afirmou. A entrevista completa pode ser lida aqui.

 

 

“13 Reasons Why” trata da depressão e do suicídio com total pertinência e responsabilidade?

Pertinência, sim. Em tempos em que a depressão e outros distúrbios psicológicos tomam conta da população e se tornam o “mal do século”, é importante que o assunto venha à tona. Todo assunto que é tabu e gera problemas para a sociedade só tem um caminho necessário: deixar de ser tabu e ser falado.

Responsabilidade… depende! A grande questão é que há uma diferença muito grande de interpretação, mais especificamente, da cena de suicídio da personagem Hannah Baker (isso não é spoiler, já que sabemos na sinopse que ela se suicidou). Para muitos, a cena “glamuriza” o suicídio. Para outros, ela mostra o quanto é real. Pessoas dirão que a cena é uma cartilha de “como se suicidar”. Outros afirmam que ela faria suicidas pensarem duas vezes.

Na minha opinião, o problema está na forma como se interpreta. Na dúvida, sugiro que pessoas sensíveis não vejam a série.

 

“13 Reasons Why” tem bons atores?

Sim, tem ótimos atores. O protagonista Dylan Minnette é carismático o suficiente para carregar a maioria das cenas. A australiana Katherine Langford consegue dar conta do recado, mesmo que não seja sempre perfeita. Há casos de atores secundários pouco expressivos, mas não creio que isso compromete a série. E o elenco adulto é excelente do ponto de vista de atuação.

 

 

“13 Reasons Why” pode servir de alerta para pais e educadores?

Sim. Aliás, arrisco dizer que pais e educadores deveriam assistir à série muito mais que os jovens. São eles que poderão apreender mais elementos para os debates e realmente fazer uma diferença na vida dos filhos e alunos.

Educadores possuem (ou deveriam possuir) formação propícia para lidar com assuntos mais delicados como os que estão na série, e podem aliar a produção da Netflix para organizar debates e falar sobre o tema. E se isso servir para identificarem um único aluno com depressão da escola, já será ótimo.

Já os pais, que de fato não recebem qualquer cartilha e raramente são orientados sobre como educar os filhos, estes sim poderão aproveitar a série para se aproximarem minimamente de seus filhos. Conversar com profissionais com certeza ajuda. Afinal, não me surpreenderia saber que algum pai obrigou o filho a ver a série e o forçou a falar sobre sua vida íntima… o que denotaria total falta de capacidade de aprender com a obra.

 

“13 Reasons Why” mostra apenas um viés americano de classe média?

A história se passa em uma cidade do interior dos Estados Unidos, mas não especifica onde exatamente. A série foi toda filmada em locações em diferentes cidades do norte da Califórnia (mais especificamente Vallejo, San Rafael, Mill Valley, Petaluma, Corte Madera, Larkspur, Mount Diablo e Sebastapol). Pausa para uma curiosidade: o Google Street View flagrou a produção da série (leia mais aqui). A realidade é, de fato, americana. Jogadores de baseball e futebol americano são os “populares”, enquanto algumas das meninas são líderes de torcida. Todos os estereótipos estão lá. Mesmo assim, não é difícil de transpor a realidade para as escolas brasileiras, onde talvez a única diferença é que a separação entre os tipos sociais não é tão delimitada.

Mas é claro que fica difícil fazer tantos paralelos quando se pensa em diferenças sociais. O elenco é muito diverso e feliz ao retratar muitas pessoas não brancas, mas de fato o bullying e outras questões teriam um tratamento muito diferente caso a trama se passasse em um ambiente mais pobre (o quê? Eu ouvi Moonlight?).

Isso não isenta “13 Reasons Why” de servir de exemplo – nas coisas boas e nas coisas ruins – para todos que puderem -e quiserem – assistir.

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