Crítica: Um Suburbano Sortudo (2016) - Cinem(ação)
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Crítica: Um Suburbano Sortudo (2016)

Um Suburbano Sortudo é bem engraçado, mas o filme vai além disso…

Ficha técnica:
Direção: Roberto Santucci, Marcelo Antunez
Roteiro: L.G. Bayão, Paulo Cursino, Rodrigo Sant’anna, Roberto Santucci
Elenco: Rodrigo Sant’anna, Carol Castro, Stepan Nercessian, Fábio Rabin, Victor Leal, Claudia Alencar
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 11 de fevereiro de 2016

Sinopse: Denílson (Rodrigo Sant’anna) é um camelô que vende DVDs piratas. Ao descobrir que é herdeiro de uma grande fortuna terá a vida revirada.

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Há um modelo muito lucrativo no mercado nacional que é o das comédias com atores famosos, também conhecidas como “Globo Chanchada”. Em geral esses tipos de filmes, ilustrado recentemente por Até que a Sorte nos Separe, Se eu Fosse você, Meu Passado me Condena, pouco acrescentam à linguagem cinematográfica e são clichês. Enquanto o público lota as salas, a crítica os rejeitam.

Este ano, no entanto, parece que os responsáveis por replicar aquela fórmula tem tido um cuidado maior. Claro que tivemos coisas pífias como Porta dos Fundos: Contrato Vitalício, Tô Ryca! e o recente É Fada. Por outro lado filmes de qualidade regular/boa como Entre Idas e Vindas e Desculpe o Transtorno também chegaram às salas de cinema. E ainda produções muito boas como Um Namorado para Minha Mulher.

Felizmente – e até surpreendentemente –  Um Suburbano Sortudo  se encaixa neste último grupo. Há a segurança de um roteiro simples, óbvio e bobo, além do uso de um tanto de esteriótipos. Contudo, mesmo com esse terreno infértil, brotou-se uma história redonda, com críticas e referências inteligentes, além de muito humor.

O longa aposta na capacidade do protagonista Rodrigo Sant’anna. E tal cartada se mostrou um acerto. Ao contrário de Samantha Schmütz, em Tô Ryca!, que abusa do overreact, Rodrigo está mais contido. Mas isso não significa menos presente. Ele apresenta uma figura mais real e com simples tiradas consegue trazer o público, não havendo necessidade de tantas caras e bocas. A primeira cena após o prólogo é um bom termômetro para a tua simpatia ou não com o ator e com o filme como um todo.

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A cena da perseguição a partir do “rapa” correndo atrás de Denílson coloca de forma cômica e visual uma crítica ao papel da polícia e de criminosos na sociedade atual, onde por vezes eles se confundem. A gag visual ali é muito boa, lembrando os melhores tempos dos Trapalhões.

Ainda nessa linha, a do retrato dos tipos sociais, temos uma demostração da hipocrisia das classes mais altas “sou a favor da ascensão da classe C, mas bem longe de mim” ou então quando a personagem aponta o dedo para os drogados enquanto ela mesmo está fumando. Em uma festa há um diagnóstico, feito por Denílson, que beira a genialidade. Ele descreve as pessoas, ou o que elas representam, com um fidedignidade absurda – em umas das melhores cenas de Um Suburbano Sortudo.

Contudo, o humor esbarra em piadas machistas e estereotipadas além da conta. Ele tenta ter um discurso de diversidade, mas se utiliza de velhos “xingamentos” como o de “bichinha”. Essa alternância entre uma boa visão da atualidade e consciência social de um lado e precisar prestar reverência a velhas práticas de outro, acaba fazendo a nota geral cair.

Além da fisicalidade de Sant’anna, a comicidade de Um Suburbano Sortudo se baseia em alusões intencionalmente tortas. A série americana Baywatch (1991-2001), o longa clássico Tubarão (1975), a rede lojista Ricardo Eletro e a atriz/cantora Clarice Falcão são bem parodiados. Essa diversidade das referências torna a ferramenta mais rica.

Um Suburbano Sortudo

Outro ponto digno de elogios é a maquiagem. Em uma cena Rodrigo Sant’anna interpreta simultaneamente 5 personagens bem distintos. O mérito interpretativo tem que ser levado em consideração é claro. Postura, voz e movimentos estão particularizados. Mas a caracterização é assustadoramente bem feita – por vezes eu duvidada que aquele era o mesmo ator.

O roteiro tinha tudo para ser um absurdo completo, porém – com uma certa suspensão de descrença – temos uma trama redonda e com elementos bem plantados. O tempo (1h44) do filme se prolonga em uns 15-20 minutos. A cena do embate entre duas personagens mais para o final é desnecessária, está ali para gerar uma piada a mais – que fica solta.

Um Suburbano Sortudo tem um propósito, cumpre-o de maneira eficaz e apresenta um resultado bem positivo. A trilha com uma pegada muito atual corre o risco de ficar datada. A direção derrapa em pequenos detalhes. E os vilões são afetados. Contudo, o filme é agradabilíssimo, tem situações hilárias e sabe aproveitar ao máximo o talento do protagonista. Não vi o filme na época do lançamento no cinema por puro preconceito. Hoje me redimo e me arrependo de não ter contribuído com o meu ingresso.

  • Nota Geral
3.5

Resumo

Um Suburbano Sortudo tem um propósito, cumpre-o de maneira eficaz e apresenta um resultado bem positivo. O roteiro tinha tudo para ser um absurdo completo, porém – com uma certa suspensão de descrença – temos uma trama redonda e com elementos bem plantados.

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