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Crítica: Tatuagem (2013)

Tatuagem não é só uma marca na pele, representa também a profunda beleza de seu significado.

Roteiro e Direção – Hilton Lacerda

Elenco – Irandhir Santos, Jesuíta Barbosa, Rodrigo García, Sílvio Restiffe, Sylvia Prado, Ariclenes Barroso

Data de Lançamento – 15 de novembro de 2013

Sinopse –  Brasil, 1978. A ditadura militar, ainda atuante, mostra sinais de esgotamento. Em um teatro/cabaré de periferia entre duas cidades do Nordeste do Brasil, um grupo de artistas provoca o poder e a moral estabelecida, liderado por Clécio Wanderley. Ao conhecer Fininha, um soldado de 18 anos, a vida de Clécio muda, provocando um conflito entre esses dois universos distintos.

Hilton Lacerda (Foto) é um cineasta recifense que já roteirizou outros trabalhos como Amarelo Manga, Baixio das Bestas e Baile Perfumado. Tatuagem é o seu primeiro trabalho como diretor em um longa-metragem de ficção.

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Este filme nos traz o personagem de Clécio Wanderley, magistralmente interpretado por Irandhir Santos. Líder de uma companhia de teatro chamada “Chão de Estrelas” que apresenta espetáculos provocadores nesse contexto, com intervenções públicas debochadas. E por outro lado, temos o soldado Fininha, também muito bem interpretado pelo ator Jesuíta Barbosa.

Aliás, a interpretação dos atores é o grande destaque desse filme. Tanto que, Irandhir ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Gramado, Jesuíta Barbosa de melhor ator no Festival de Cinema do Rio e Rodrigo Garcia como melhor ator coadjuvante, também no Festival do Rio. O filme é recheado de bons momentos com grandes interpretações. As cenas de Irandhir e Rodrigo são de imensa beleza artística, os dois dão um show de sensibilidade e leveza nas partes que contracenam juntos por nos revelar a alma desses personagens com muita verdade cênica, como por exemplo, a cena em que Clécio chama Paulete para esclarecer os fatos e para resgatar a amizade entre eles, balançada com a chegada de Fininha. Cada emoção chega nos atores no momento certo, demonstrando a compreensão que tiveram de seus personagens, da cena e da importância de como cada palavra deveria ser dita, um orgulho para qualquer diretor.

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Em relação ao roteiro, a divisão dos três atos ficou muito clara, isso manteve o filme na linha, sem fugas desnecessárias. Acompanhamos uma história que funciona muito bem. Apenas o terceiro ato que deixou um pouco a desejar. O roteirista/diretor optou por nos fazer imaginar as melhores cenas, ao invés de vê-las. Um roteiro que vinha muito bem desde o início, apresenta um final com deslizes. Mas percebe-se que, realmente, essa foi a intenção, uma opção consciente dele, que não me agradou. Eu fiquei ansiosa para ver o clímax, para ver o bicho pegar no terceiro ato, mas só vemos o resultado do grande confronto. Porém, o roteiro acerta muito nas construções dos diálogos com muitos subtextos e mostrando sutilmente as segundas intenções dos personagens em parágrafos bem construídos.

Um ponto muito a favor do roteiro está na apresentação da história e de seus personagens. Ouvimos primeiramente a voz de Clécio, apresentando o seu trabalho e o grupo teatral; já deixando claro que a linha da trupe é o deboche. Eles se consideram como o Moulin Rouge do subúrbio recifense, a Broadway dos pobres e o Studio 54 da favela. Com isso, já imaginamos o que vem pela frente.

Conhecemos a linda amizade de Clécio e Paulete e como eles conduzem seus trabalhos na arte. Criamos uma simpatia por eles. Já Fininha nos é revelado em doses, vamos conhecendo-o bem conforme o filme se desenvolve.

Vemos Clécio (Irandhir) e Fininha (Jesuíta) se conhecerem e se apaixonarem. Os dois se amam de forma diferentes. Fininha é mais carnal, aventureiro. Clécio é paternal, sensível, carrega um amor genuíno. Conhecendo bem os dois personagens, não consegui torcer para que ficassem juntos.

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Quanto à direção, uma opção de planos mais longos foi bem acertada com enquadramentos mais centrados no geral e no conjunto, nos mostrando tudo o que acontece com os atores e ao redor deles. É como se estivéssemos espiando aquelas situações sem eles saberem. Essa linguagem tem se tornado muito típica nos filmes nordestinos que soma a uma impressionante naturalidade dos atores em cena. Acreditamos piamente em cada frame apresentado. Nada soa falso.

Outra coisa que chama a atenção, até mesmo por conta da linguagem adotada, é a falta de pudor nas cenas de nudez, uma forte característica do teatro de Clécio, apresentada como algo muito natural daquele ambiente. Não tem nenhuma forçação de barra de cenas exibidas para explorar corpos nus. A nudez é inerente àquele espaço e àquelas situações artísticas. Eles também se divertem muito com o que fazem.

Um filme que vale muito a pena assistir com um balde de pipoca em mãos. Confira o trailer!

 

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Resumo

Tatuagem não é somente um filme sobre uma rebeldia de artistas durante a ditadura militar. Ele nos apresenta, metaforicamente, a beleza do amor e da amizade.

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