Crítica: ARQ (2016) - Cinem(ação) - Críticas de filmes, resenhas, trailers
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Crítica: ARQ (2016)

ARQ é outro dos acertos da produção original da Netflix.

Ficha técnica:
Direção e roteiro: Tony Elliott
Elenco: Robbie Amell, Rachael Taylor, Gray Powell, Jacob Neayem, Shaun Benson
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (17 de sembro de 2016 no Brasil – lançado diretamente no Netflix)

Sinopse: em um futuro onde os recursos naturais estão escassos e uma guerra assola o mundo, Renton (Robbie Amell) tem que proteger a própria casa de assaltantes mascarados. Uma peculiaridade temporal torna essa empreitada ainda mais complexa e alucinante.

ARQ

Já está ficando redundante elogiar a produção da Netflix. Com um belo algoritmo que entende os anseios do público, a empresa vem dando várias tacadas certas – Zerando a Vida é a exceção que confirma a regra, todavia mesmo essa atrocidade cinematográfica possui um público fiel graças à figura do Adam Sandler.

Mas vamos falar de coisa boa tekpix: ARQ aparenta ter um orçamento baixo, possui um diretor estreante na função em longas e conta com uma certa familiaridade com outros filmes – como No Limite do Amanhã e Feitiço do Tempo. Porém mesmo com essas características, ARQ executa com muita objetividade, tensão e eficácia o propósito do filme.

Somos jogados em um futuro próximo, mas sem uma marcação temporal determinada (se passaram 30, 50, 100 anos?). Uma perigosa falta de contexto poderá incomodar alguns. Contudo, vamos desvendando e montando aquele universo na nossa mente. Não vemos naves voadoras, vemos uma casa com alguns gadgets diferentes. Mas não tarda para termos uma boa ideia que o mundo não está lá muito bem das pernas. Uma maça é um artigo de luxo. Há uma guerra entre uma grande corporação e um grupo que faz resistência. A energia está escassa. Podemos concluir que existe uma certa doutrinação, quase religiosa. Em certa medida, tais condições lembram o mundo pós-apocalíptico de Mad Max. E, tal qual no longa de George Miller, somos conduzidos de forma orgânica e objetiva, sem perder tempo com grandes exposições.

ARQ

Cuidado com o que forem pesquisar por aí sobre este filme, pois há uma possibilidade de esbarrarem em spoiler. O que dá para revelar da história é pouco além do que está na sinopse. A peculiaridade temporal lá descrita é que os personagens estão presos em um looping que os mantém presos dentro de um espaço de poucas horas. Por falar em espaço, a ação se passa dentro da casa de Renton. Ele possui vários instrumentos tecnológicos, dentre eles a ARQ – máquina que vamos conhecendo ao longo da trama.

Talvez o grande charme da tensão construída é que o conhecimento adquirido em cada passagem de tempo traz novos desafios ainda mais problemáticos. O que aparentava ser uma vantagem acaba sendo uma tortura. As viradas na história também ajudam a despertar o interesse pelo longa. Essas mudanças na trama surgem em momentos pontuais e bem distribuídos ao longo daqueles 90 minutos – que passam voando. Dá tempo de absorver os acontecimentos, mas nunca caindo no marasmo, pelo contrário ARQ é bem intenso.

ARQ

Os atores, em boa parte do tempo, não são exigidos dramaticamente. Todavia, cumprem de forma eficaz e convencem. Há, por exemplo, um desespero no olhar da Rachael Taylor – que faz a Hannah. Já Robbie Amell, o protagonista Renton, imprime um necessário senso de urgência nos trejeitos e a fisicalidade dele é plausível.

A coloração, em boa parte dos cenários, é impregnada por uma paleta fria, um cinza esverdeado – dando um certo distanciamento e sobriedade. No quarto, cômodo onde tudo recomeça, percebemos um ar mais quente, quase nos provocando a pensar “o que virá por aí?”. A trilha está precisa e com acordes marcados com o intuito de reforçar o suspense. Alguns longas utilizam esse artifício como muleta, aqui não. O tom coaduna de maneira fluida com a narrativa.

Apesar de não ser tão criativo quanto um Ex Machina ou enérgico quanto o já citado Mad Max, ARQ dentro da proposta e das possibilidades orçamentárias, chega a um bom estágio naqueles quesitos. A situação vivida, em uma visão macro, é bem próxima da nossa realidade, o que facilita para gerar empatia e reflexões – mesmo que estas sendo um pouco engolidas pela ação.

Este ano, curiosamente, temos vários filmes que se passam em grande parte em casas ou ao redor delas. O confinamento é um recurso que poderia ser limitante, mas os filmes o tem explorado bem e de forma variada. Só para relembrar, nessa linha tivemos: O Quarto de Jack, Rua Cloverfield 10, Hush – A morte Ouve, The Invitation e, mais recentemente, O Homem nas Trevas. Seria esse um subgênero de 2016?

ARQ tem uma premissa instigante, uma execução honesta e um final que poderá desagradar a muitos, mas que condiz por completo com a sequência lógica. Alguns, contudo podem se frustar e querer algo além. Vi o corte final como uma precisa conclusão. Uma cena a mais poderia gerar explicações desnecessárias ou querer abarcar uma trama maior que a proposta. O novo filme da Netflix mostra, portanto, que menos é mais e que devemos valorizar as nossas maças diárias.

  • Nota Geral
4

Resumo

ARQ tem uma premissa instigante, uma execução honesta e um final que poderá desagradar a muitos, mas que condiz por completo com a sequência lógica. Alguns, contudo podem se frustar e querer algo além. Vi o corte final como uma precisa conclusão.

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