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Crítica: Ida (2013)

Ida concorreu em duas categorias do Oscar, levando a de melhor filme estrangeiro.

Ficha técnica:
Direção:  Pawel Pawlikowski
Roteiro: Pawel Pawlikowski, Rebecca Lenkiewicz
Elenco:  Agata Trzebuchowska, Agata Kulesza, Halina Skoczynska
Nacionalidade e lançamento: Polônia, 2013 (25 de dezembro de 2014 no Brasil)

Sinopse: Ida é um drama que se passa no período pós segunda guerra e conta a história de Anna. Ela é uma noviça órfã que se defronta com o próprio passado: a busca dos corpos dos pais (mortos na guerra) e o motivo exato da morte deles. Para essa empreitada, ela conta com ajuda da tia, única parente viva e até então desconhecida por Anna. Ao encontrá-la descobre que sabia muito pouco sobre o próprio passado, inclusive o verdadeiro nome (Ida) e a origem judia.

ida

Ida tem uma história instigante e elementos técnicos primorosos. Contudo, pode causar uma estranheza em muitos que não estão acostumados com uma linguagem fora dos padrões de Hollywood. A jornada de autoconhecimento de Anna/Ida traz vários aspectos que podem afastar o grande público, porém convido-os a conhecê-los já que da é daqueles filmes que dá para encher a boca e dizer: “isso é cinema…”.

Obra Polonesa e em preto e branco (escolha não gratuita). A trilha sonora quase ausente passa uma sensação de crueza. Ela aparece apenas de forma diegética, ou seja, quando os personagens estão em um ambiente que está tocando música – para tal o há um uso constante de instrumentos musicais e vitrolas. Outro ponto diferenciado é a edição com cortes bruscos (de certo modo, esses cortes lembram o que acontece em Boyhood). Às vezes demora alguns segundos para entendermos onde os personagens estão e com quem estão interagindo. Não tem aqui uma explicação fácil, expositiva, no estilo: “vamos para tal lugar?” e mostra o caminho ou uma ambientação prévia. Você é jogado ali e vai descobrindo aos poucos, tal como a protagonista desbravando o próprio passado.

A relação de Ida com a tia Wanda traz um tempero todo especial. Wanda enxerga o mundo de forma diferente da sobrinha freira e isso estabelece embates até engraçados, mas sem enveredar muito no tom cômico. Esse encontro traz momentos excepcionais, como no questionamento da tia sobre sacrifício e pecado: se você não tem pensamentos pecaminosos como a ausência deles pode ser um sacrifício?

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A atriz Agata Trzebuchowska passa, às vezes com um olhar, o momento que a personagem vive. Desajuste, curiosidade, determinação e uma frieza pétrea. Os bons diálogos com a tia, interpretada por Agata Kulesza, mostram uma química em cena cujo objetivo é refletir o antagonismo que as personagens possuem.

A alegoria de Anna receber um novo velho nome também não é gratuita. A transformação da personagem é nítida. A redescoberta da própria identidade nominal e religiosa mexe com as estruturas dela. O conflito interno, devido à rígida criação católica e a origem judia, geram em Ida um paradoxo em relação ao passado e futuro – a busca pela tia foi justamente proposta por uma madre antes que Anna fizesse os votos para concluir a formação como freira.

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Os posicionamentos não convencionais da câmera transmitem os sentimentos que o filme pretende passar e de forma bem delicada, gerando um desconforto consonante com a escolha idealizada pelo diretor Pawel Pawlikowski. A razão de aspecto da tela também não é gratuita. Reduzindo o espaço a agonia quase claustrofóbica da personagem é ressaltada. A duração de pouco mais de 1h20, curta, reflete outra boa opção: ir direto ao ponto, sem colocar gorduras.

Ida concorreu ao Oscar em fotografia e melhor filme estrangeiro em 2015, ganhando esta segunda. O longa é histórico e pessoal. Alegórico e cru. Contido e expressivo. Promovendo aqui uma leveza dura muito bem realizada. Ida é simplesmente imperdível.

 

 

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