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Mais Forte que o Mundo: A História de José Aldo, José Loreto, Afonso Poyart
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Crítica: Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo (2016)

Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo é enérgico e dramático.

Ficha técnica:
Direção: Afonso Poyart
Roteiro: Afonso Poyart e Marcelo Aleixo Machado
Elenco: José Loreto, Jackson Antunes, Cleo Pires, Milhem Cortaz, Claudia Ohana, Romulo Neto,  Robson Nunes
Nacionalidade e lançamento: Brasil, 16 de junho de 2016.

Sinopse: trajetória do lutador de MMA José Aldo. Conta os 6 anos que antecederam a consagração no UFC. Parte dos momentos difíceis em Manaus e chegando até os ringues internacionais.

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Caminho assentado pela Família Gracie, nomes como Anderson Silva, Vítor Belfort, Minotauro, Minotouro tornaram-se bem populares com as conquistas que obtiveram no UFC, popularizando o esporte. Dentre os novos ídolos, José Aldo foi um dos principais destaques, permanecendo invicto por várias lutas e angariando fãs mundo a fora.

A abordagem do longa prima pelas relações pessoais e pelo crescimento profissional de Aldo. Contudo, o foco maior está mais nos relacionamentos do que nas vitórias em si. Muito mais que um mero filme sobre um esportista, temos em Mais Forte que o Mundo o crescimento de um homem e como um elemento se reflete no outro. Opção bem acertada, diga-se de passagem.

A primeira meia hora vem para estabelecer o contexto do protagonista em Manaus. Somos apresentados às molecagens com os amigos, algumas vezes passando bem da conta, à paquera e ao rival e, sobretudo, à família. Neste arco, sempre presente, há a figura da mãe e notadamente o dúbio relacionamento com o pai. Sem dúvidas a melhor coisa do longa.

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Seu José (o pai do lutador), guardando todas as proporções, lembra a figura do Comandante em Beasts of no Nation. Ambos são paternais, conselheiros e fundamentais para o crescimento do personagem principal. E ao mesmo tempo tem defeitos graves que os tornam quase vilões. Tal como no filme americano, aqui o bom desempenho também é dado por uma excelente atuação. O veterano Jackson Antunes dá um show. Ele constrói o tom certo para que a gente sinta asco e carinho pelo personagem.

Aliás, praticamente todas as atuações estão primorosas. José Loreto demostra o vigor necessário e a entrega que o diretor almejava. Ele é exigido muito mais que fisicamente: as emoções, dramas e explosões de Aldo são bem conduzidas pelo ator. Cleo Pires é firme como Viviane. Ela treina na academia que Aldo trabalha no Rio de Janeiro e a química dela com Loreto realmente convence. Rafinha Bastos faz o Loro, amigo de Aldo, e traz uma surpreendente atuação segura e funciona muito além de um mero alívio cômico. Romulo Neto, que faz o rival de José Aldo em Manaus, foi o único que não me agradou e toda as cenas com ele presente me tiraram um pouco da imersão do filme ao extrapolarem além do necessário. Já Milhem Cortaz é o famoso treinador Dedé Pederneiras. Ele apresenta o clássico técnico de filmes de boxe. Primeiro rejeita o aluno, depois vai cedendo, mas sempre ensinando alguma lição para além ringue. Há uma referência explícita que brinca com o clichê do gênero ao citar o filme Karatê Kid. A presença do ator é muito boa e também condizente com o todo.

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A direção de Afonso Poyart (2Coelhos e Presságios de um Crime) é bem perceptível. Ele faz questão de colocar a pincelada dele de modo claro. Muitas movimentações de câmera, passando uma sensação dinâmica e até incomum. Por exemplo, nas lutas a mão do diretor é carregada com um tom ainda mais estilizado. O uso de câmera lenta para ressaltar as expressões e movimentos dos lutadores lembra o que o Zack Snyder fez em 300. Particularmente esses recursos, movimentação exagerada e slow motion, não me agradam. Prefiro algo mais franco como os planos sequências em Creed. Mas aqui funcionou muito bem e acrescentou bastante aos embates, tal artifício vai ficar marcado quando lembrarmos de Mais Forte que o Mundo.  Vale a lembrança que Afonso Poyart falou sobre o filme  em uma entrevista para o Cinem(ação) no podcast #170.

Outros elementos da parte técnica que merecem destaque: fotografia e edição. A fotografia usa tons mais voltados para um amarelo escuro em Manaus e dá um certo aspecto de velho/sujo em conformidade com a situação vivida. Em consonância com o design de produção, temos uma ambientação quase perfeita. Depois as cores ficam mais vibrantes e claras, seguindo a proposta da história.

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A edição, tal qual a direção, também é bem marcada. Na cena do prólogo já sentimos o peso de cada soco e o efeito é bem pontuado posteriormente. A primeira parte, em Manaus, estava ficando pesada e o ritmo desafoga de modo preciso quando Aldo se estabelece no RJ. O tom do filme, portanto, muda na hora certa. Além disso, Mais Forte que o Mundo consegue mesclar o peso e a leveza de um jeito que a coisa toda flui muito bem, não sentimos as 2 horas passarem. Lucas Gonzaga, que também foi entrevistado pelo Cinem(ação) no podcast 174, é o responsável pela montagem.

O som me causou problemas no início. Ele ficou em alguns momentos alto demais. Em determinadas cenas se sobrepunha à narrativa. O sentimento a ser passado também não me cativou. A partir do segundo arco a trilha assumiu um excelente papel na parte sonora. As músicas escolhidas foram bem colocadas e, ao contrário da mixagem da primeira parte, trouxeram um ar mais condizente com a história. Há canções como Baby, Umbabarauma e Lugar Ao Sol.

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O enredo é clichê e antevemos os passos do longa, talvez o ponto mais fraco aqui. Contudo, o roteiro nem de longe desonroso, pelo contrário. Somos brindados com bons diálogos e uma trama envolvente. Uma coisa importante neste tipo de filme, e em quase todos, é que nos importamos com os personagens e entendemos a função de cada um deles na história. Um momento, no começo do longa, é bem singelo: um conto do pai de Aldo sobre uma sucuri. O jeito desenhando e não expositivo foi exemplar e a retomada dela posteriormente também vem na hora H.

Mais Forte que o Mundo apresenta uma boa história em um roteiro simples- mas não simplório. A forma como foi contada dá um brilho muito além do que vemos nas produções nacionais. Se este ano tivemos Ponto Zero que tem muitos méritos, mas é um filme não muito palatável para o grande público. A história de José Aldo une o melhor dos dois mundos: uma bela produção e um longa com alta carga de entretenimento. Agradará aos amantes de MMA e, sobretudo, os de cinema.

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