Crítica: Azul é a Cor Mais Quente (La vie d'Adèle - 2013) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Azul é a Cor Mais Quente (La vie d’Adèle – 2013)

avidadeadele_cannes2013_posterEstou a alguns parágrafos de me arriscar muito, ao terminar de escrever sobre o filme vencedor da Palma de Ouro (principal prêmio do festival de Cannes) no ano de 2013. Não só isso, em 2014 o mesmo filme foi indicado à vários prêmios nos EUA e venceu uma boa parte deles. Também foi indicado ao BAFTA e no Festival de Toronto como melhor filme de língua estrangeira e venceu o segundo. O filme em questão é “Azul é a Cor Mais Quente (La vie d’Adèle – 2013)”.

Entrei nesta roubada por causa de um grande amigo que me disse: “você só escreve sobre ‘blockbusters’, está na hora de você escrever coisas alternativas”. Mal sabia ele da lista de prêmios que este filme ganhou… e veio à calhar, afinal, percebi que nós do Cinem(ação) não falamos sobre ele. Perdão pessoal. Falha nossa. Vamos corrigir isso agora.

O nome em francês do filme não diz muito sobre o mesmo… “A vida de Adèle” (tradução livre) é um nome fraco para dizer sobre o filme. O nome em português é realmente, muito mais comercial e diz muito mais sobre o filme, assim como o nome em inglês. Na verdade, o nome “Le Bleu est une couleur chaude” é o nome do romance gráfico de Julie Maroh de onde foi baseado o filme. le-bleu-est-une-couleur-chaude-copieAo lado estão algumas imagens da HQ (história em quadrinhos, pois romance gráfico é para os fracos) em questão que lembram algumas cenas do filme.

Graças à esta história, posso dizer tranquilamente nunca ter passado por tanta vergonha assistindo um filme dentro do meu apartamento… Ele tem cenas muito, mas muito picantes, de sexo explícito, e como são cenas de sexo lésbico, é algo muito diferente, e que inocentemente eu não esperava do filme. O duro foi atender o celular, sair da sala para conversar sem o barulho da TV e ter que voltar correndo para parar o vídeo pois as protagonistas estavam em uma inesperada cena de sexo… e aos gritos! Cheguei até ouvir a vizinhança abrir e fechar a porta… até hoje penso que estavam prestes à bater na porta do meu apartamento para reclamar do barulho… e espero nunca descobrir se estavam fazendo isso mesmo ou não! E para explicar ao telefone o que estava acontecendo?! Nossa… essa cena me deu trabalho! Deste ponto em diante fiquei mais atento.

A direção do filme ficou à cargo de Abdellatif Kechiche, um diretor Franco-Tunísio, que coloca algumas influências culturais árabes no cotidiano do filme, especialmente com músicas (o que aparentemente já é comum na Europa). Mas o destaque não está aí. Está na forma de contar a história e a passagem do tempo. Demora para perceber que esta passagem se refere à anos ou meses, e não à dias ou semanas.  No começo a troca de cenas se refere a dias, mais no fim, se refere à anos. Não sei se não tive inteligência ou sensibilidade suficientes para perceber isso logo ou se é difícil mesmo de se entender, mas quando me toquei disso (já no fim do filme) ele ficou mais agradável. Aliás, o fim do filme é o mais interessante, mostrando uma daquelas lições de vida onde deixar algumas coisas como estão é o melhor a se fazer. Mas as últimas cenas são… como diria… elas geram muita ansiedade! Ao fim, você quer que a principal personagem fique bem, mas não vou me estender mais no assunto para gerar uma expectativa do filme pois vale assistir.

Cannes 9 2013 4Agora as protagonistas, outro ponto forte do filme. A principal personagem é Adèle (cuja atriz que a interpreta curiosamente se chama Adèle Exarchopoulos, uma atriz francesa cujo avô era Grego, e até o momento, não fez outro papel marcante, com apenas 19 anos durante o lançamento do filme), uma jovem e bonita adolescente que ainda não saiu do colegial, que em meio à crise de emprego da Europa planeja um futuro garantido no lugar de um futuro espetacular. Apesar da visão econômica tre tradicional (e outras posições extremamente tradicionais na própria vida) se vê atraída (e muito) por uma lésbica assumida que viu na rua. Após entender esta preferência, ela procura pela mulher de cabelo azul que viu no semáforo: Emma (interpretada pela linda Lèa Seydoux, que já tinha participado de uma “ponta” no filme “Bastardos Inglórios” e agora tem participação garantida no vigésimo filme de James Bond: “007 contra Spectre”). Esta última personagem, uma artista sonhadora que é mais preocupada com sua arte do que com sua condição financeira é mais velha que a primeira e muitas vezes assume uma posição mais masculinizada, que fica mais acentuada durante o filme, mostrando uma ótima interpretação e uma grande evolução da personagem e da atriz.

Por fim, o roteiro escrito por Julie Maroh (a autora da HQ) Ghalia Lacroix (uma roterista francesa) o próprio diretor  Abdellatif Kechiche, conta uma história de amor, não diferente de uma história que você, eu, ou no mínimo alguém que você conhece viveu (em um relacionamento heterosexual ou homesexual, tanto faz, um relacionamento de amor de verdade, de paixão, de ciúmes, encontros e desencontros). A roupagem homosexual deixa tudo diferente, assim como a descoberta da própria personalidade (no caso da personagem Adèle). A direção, o roteiro, as imagens (que muitas vezes são sem falas na tentativa de reproduzir a sensação que as imagens dos quadrinhos provocam)  e o roteiro são atrativos (apesar do filme arrastar em alguns momentos). Pena que as cenas de sexo explícito são muito intensas e em alguns momentos deixam o filme muito próximo da vulgaridade. É certo que levou a Palma de Ouro e tenho que admitir que o filme é bom… mas honestamente… já assisti melhores.

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