Crítica: Caminhos da Floresta
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Crítica: Caminhos da Floresta

Merryl Streep e amigos.

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Musicais são gêneros difíceis. Há quem diga que eles são do estilo “amem” ou “odeiem”, e que se você não aceita a proposta inicial, que é a de que você passará em torno de duas horas ou mais vendo uma narrativa em que as falas são quase todas ditas cantarolando e com melodias, você vai se dar mal. Eu não sou lá um grande fã de musicais, mas decidi conferir esta nova obra que a Disney lançou e… Ainda não sou fã de musicais. Caminhos da Floresta tem um enredo interessante e relativamente simples: uma bruxa amaldiçoou um padeiro e sua esposa para que eles não possam ter seu desejado filho. Para que o feitiço seja quebrado, o padeiro e a sua esposa devem procurar e entregar para a Bruxa quatro itens mágicos: uma capa vermelha como sangue, uma mecha de cabelo amarelo como o milho,  um sapatinho tão puro como o ouro e uma vaca branca como o leite… já deu pra entender para onde isso caminha certo? Contos de fadas e seus personagens se misturam aqui, e a promessa é de uma nova abordagem nestas histórias, modernizando-as ao mesmo tempo que faz uma divertida paródia. E Merryl Streep faz o papel da bruxa. E a atriz foi indicada ao Oscar pela performance. Imperdível.

Porém não.

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O filme começa e acaba e não mostra a que veio. Estamos assistindo ao filme, esperando que as canções e história ganhem fôlego, mas os minutos se passam e a narrativa não flui. O extenso elenco, que entre os atores conta com  Anna Kendrick, Emily Blunt, Chris Pine e Johnny Depp, é, no geral sub utilizado. Depp, o  Lobo Mau, tem apenas alguns minutos de tela, que são quase inteiramente compostos por uma interessante canção, esteticamente falando, já que o subtexto sexual que a música do Lobo (recitada de Depp para uma garota de, no máximo 15 anos) incita, ao invés de irônico/engraçado, acaba simplesmente soando bizarro.

Das músicas, poucas merecem destaque. Destaque para um hilário dueto envolvendo dois príncipes, que provoca o riso através da vergonha alheia. Mas as músicas, no geral, são facilmente esquecíveis e remetem sempre a produções melhores e mais interessantes. E não pode-se dizer que a culpa é dos atores. Todos encarnam seus papéis com ânimo, é perceptível, mas o roteiro precário simplesmente impedem que nos importemos, ou simplesmente nos entretenhamos com os personagens. Tirando, é claro, Merryl Streep, que engole todos os personagens com quem contracena, devido a presença e energia com que incorpora a única personagem minimamente interessante no meio de personagens tão uni dimensionais.

INTO THE WOODS

O que contradiz a própria proposta: A de tomar “cuidado com o que deseja”. A intenção dos realizadores obviamente foi nos apresentar personagens superficiais (a aversão de Cinderela a tomar uma escolha de verdade, já que é apenas um esteriótipo de “princesa indefesa” é uma das únicas boas sacadas do longa) que agem, literalmente, como caricaturas de um livro infantil e, no terceiro ato, fazer uma brusca reviravolta, trazendo-os ao “mundo real”, onde todos tem uma epifania e passam a tomar decisões significativas no meio de todas as tragédias e…no final, o que Rob Marshall (diretor deste longa, e do fraco Nine)  consegue justamente isso. O problema é que, somos obrigados a passar dois atos acompanhando personagens aborrecidos com dilemas aborrecidos que quando as supostas reviravoltas de gênero aparecem, o filme já tinha perdido a atenção de metade da audiência. E não há paródia ou auto consciência que salvem o público de uma hora e meia de enrolação. E o filme poderia até ser “simpático”, uma diversão pipoca com a família, se não fosse os 30 minutos finais, que procuram reinventar a roda. As vezes é melhor saber a hora de parar, senão, como já diziam as frases feitas, fica feio.

Os únicos méritos do longa, tirando a performance de Streep, são visuais. O filme merece aplausos pelo design de produção e figurinos (que também foram indicados ao Oscar). O visual do próprio lobo mau de Johnny Depp faz uma mescla de tom carnavalesco ao mesmo tempo que definem o personagem, e o terno, chapéu e casaco de pele que ele usa o transforma quase num cafetão, e a sua sequência musical oferece bons floreios estilísticos. A sequência em que acompanhamos a própria chapeuzinho vermelho e sua avó no estômago do lobo causam estranhamento no início por serem bruscas, mas condizem com toda a “teatralidade” da narrativa construída até então. Mas o roteiro se contradiz totalmente nos 30 minutos finais, com seus dilemas e lógica do “mundo real”.

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No fim, Caminhos da Floresta pretende fazer uma paródia autoconsciente com tiradas inteligentes do gênero de Conto de Fadas, mas no final, só consegue uma mistura desajeitada de estilo, substância e atuações que não conseguem se sustentar, apesar de ótimo visualmente e de uma performance energética de Merryl Streep. E se compararmos a sua atuação aqui com sua performance entregue em outro famoso musical, Mamma Mia, ela realmente merece o Oscar. 😉 

  • Nota Geral:
2

Resumo

Caminhos da Floresta pretende fazer uma paródia autoconsciente com tiradas inteligentes do gênero de Conto de Fadas, mas no final, só consegue uma mistura desajeitada de estilo, substância e atuações que não conseguem se sustentar, apesar de ótimo visualmente e de uma performance energética de Merryl Streep. E se compararmos a sua atuação aqui com sua performance entregue em outro famoso musical, Mamma Mia, ela realmente merece o Oscar.;)

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