Das Experiment: Uma análise do filme e do caso real
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Das Experiment: Uma análise do filme e do caso real

“A Experiência” (Das Experiment, 2001) foi o primeiro filme dirigido por Oliver Hirschbiegel, diretor alemão que mais tarde lançou outros filmes, sendo dois bem conhecidos: “A Queda: As Últimas Horas de Hitler” (Der Untergang, 2004) e “Invasores” (The Invasion, 2007). “A Experiência” é um longa-metragem baseado em um caso real, e foi lançado em 2001. Assisti ao filme faz pouco, e depois fui procurar sobre a história verdadeira. Trata-se de um experimento realizado em 1971 para investigar como o comportamento humano na sociedade pode ser definido através de grupos. Não vou discutir sobre ética na pesquisa durante o texto, senão isso vai virar um livro. Vocês próprios notarão que o experimento é totalmente antiético em inúmeros pontos, e eu não vou ficar ressaltando isso. Vou explicar melhor o experimento em si, e depois uma análise do filme. Já aviso que o texto contém spoilers!

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O Caso Real

Em 1971, um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford (EUA), liderados pelo professor Philip Zimbardo, colocaram um anúncio no jornal recrutando voluntários para um experimento simulado de aprisionamento. Os voluntários receberiam um determinado valor em dólares por dia para participarem do experimento. O grupo selecionou os 24 candidatos (estudantes universitários) que possuíam boa saúde e que foram julgados como psicologicamente estáveis.

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O geral do experimento foi o seguinte: foi criado um ambiente igual ao de uma prisão na própria Universidade de Stanford. Os candidatos foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: um grupo de prisioneiros e outro grupo de guardas da prisão. Os dois grupos eram uniformizados de maneira diferente. Para os guardas, foi instruído que eles liderassem os prisioneiros como se estivessem em uma prisão de verdade, porém a violência física não seria permitida. Eles poderiam deixá-los com medo e fazê-los acreditar que a vida deles era totalmente controlada naquele ambiente. Ou seja, os prisioneiros deviam sentir-se como se estivessem em uma prisão de verdade. A polícia local colaborou com o experimento, e no dia do início, eles acusaram os prisioneiros de roubo armado e prenderam todos.

O intuito do experimento, como eu já citei, foi estudar o comportamento social dos humanos quando eles estão inseridos em um determinado grupo na sociedade. Zimbardo queria analisar se haveria a desindividualização, ou seja, se as pessoas perderiam sua identidade pessoal quando são inseridas em um grupo característico na prisão (guarda ou prisioneiro).

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Não vou ficar citando detalhes, mas, como esperado, um experimento com duração prevista de 2 semanas durou apenas 6 dias. Os candidatos incorporaram seus papéis, e até demais. Os prisioneiros foram humilhados, recebiam castigos, muitas vezes não podiam usar o banheiro, alguns dormiam nus no concreto e até foram obrigados a limpar vasos sanitários sem nenhuma proteção. Aos prisioneiros, foi dito que se eles abandonassem o experimento eles não receberiam o valor combinado por dia, apenas se ficassem até o final. Alguns prisioneiros chegaram a ficar doentes e com distúrbios emocionais. A única pessoa que questionou o estatuto moral do experimento foi uma pesquisadora com quem Zimbardo estava tendo um relacionamento na época (sua atual esposa).

Quero ressaltar que isso ocorreu na década de 70! Um experimento desse tipo jamais seria realizado nos dias de hoje.

O Filme

A trama gira em torno de Tarek Fahd (Moritz Bleibtreu), um taxista que acaba se tornando um dos candidatos do grupo dos prisioneiros no experimento. Como qualquer filme que é baseado em fatos reais, há muitas cenas fictícias e até exageradas no decorrer do filme. O que mais me incomodou foram algumas cenas de flashbacks que Tarek tem em relação a uma mulher. Achei bem desnecessário no contexto da história, não tem nenhuma ligação com a trama principal.

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Outra coisa que achei muito exagerada foi a cena final. Não vou dar o maior spoiler e contar como acaba o filme, mas para quem viu ou para quem for assistir, creio que concordará comigo. É uma boa cena para um filme de ação, porém pode acabar por prejudicar a credibilidade do autor do experimento, pois quem não conhece a verdadeira história talvez pense que aquilo realmente aconteceu. Por isso os diretores devem tomar um cuidado especial quando vão dirigir um filme que é baseado em fatos reais, ainda mais em relação a um assunto tão polêmico, como a ética na pesquisa. De fato o experimento saiu do controle sim, mas não como expõe o filme.

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Excluindo esses exageros, considero “A Experiência” um bom filme. Mesmo com alguns buracos no roteiro, acredito que de certa forma o ambiente dentro da prisão foi retratado realisticamente, com os castigos e humilhações que os candidatos passaram no experimento. Você passa a se perguntar como o ser humano consegue desempenhar um papel que nem é dele de verdade, de maneira tão intensa. Como esperado, é um filme de muita tensão, com muitos momentos de angústia, deixando o espectador em estado de choque várias vezes. Mas o mais importante, o filme consegue passar a sua mensagem principal e contar o básico do experimento que ocorreu em 1971.

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