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Crítica: Millennium – Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

Mikael Blomkvist (Daniel Craig) é um jornalista que, após publicar uma matéria polêmica sobre um empresário, vê sua credibilidade ser questionada e é obrigado pelas circunstâncias a se afastar da revista Millennium, para a qual trabalha. Ele é então convidado por um rico magnata a investigar um crime cometido 40 anos antes. As circunstâncias também o levarão a precisar da ajuda de Lisbeth Salander (Rooney Mara), uma assistente nada convencional, porém incrivelmente inteligente.

O novo filme de David Fincher pode começar a ser analisado pelo seu título. Baseado no livro do escritor sueco Stieg Larsson, o título em português respeita a tradução brasileira e também o título original (embora ele não tenha o “Millennium”). Enquanto isso, o título do filme em inglês é o mesmo da tradução literária para a língua inglesa: “The Girl with the Dragon Tattoo”. Portanto, podemos nos perguntar qual é o principal foco da história: os homens que não amavam mulheres (estupradores e assassinos, presentes em diversos personagens), ou a garota tatuada, que co-protagoniza a história com o jornalista.

A história investigativa adaptada pelo roteirista Steven Zaillian pode parecer complexa, mas Fincher consegue contá-la em 158 minutos de ritmo nada cansativo, com cortes dinâmicos e sempre em tom de suspense. Com o mesmo talento mostrado em “Zodíaco”, “Se7en” e “A Rede Social”, o diretor mostra fatos e elementos da investigação por meio de flashbacks, zooms em fotos e frases grifadas ao mesmo tempo em que trabalha o desenvolvimento dos personagens principais. Craig vive um jornalista humanizado, cansado, cheio de falhas e com abarba por fazer, ao mesmo tempo em que Mara vive uma jovem violenta, imprevisível, vítima das circunstâncias e antissocial.

Com ajuda de uma fotografia gelada e cenários muito bem caracterizados (a casa “de vidro” é especialmente icônica), “Millennium” é surpreendente não só pelo andamento da trama, mas também por não evidenciar qualquer possível suspeita do espectador, garantindo assim sempre uma surpresa a cada descoberta. No primeiro ato, o filme consegue contar de maneira natural as duas histórias paralelas de Mikael e Lisbeth, sem parecer episódico ou inconstante.

Além das questões técnicas quase sempre perfeitas e da narrativa excelentemente bem realizada (por mérito de Fincher, Zaillian e Larsson – difícil é saber quem é mais responsável), o filme merece destaque por trazer à baila questões sobre o abuso sexual. Fica subentendido que Lisbeth é problemática porque foi estuprada quando criança, e justamente por isso ela se interessa tanto em resolver o caso que lhe é apresentado. A maneira brutal como o “supervisor” do governo é colocado na trama para fazê-la sofrer mostra com mais realismo o modo como ela responde à violência: ela aprendeu que não deve responder com fragilidade (como provavelmente as outras vítimas responderam). O fato de ocorrerem estupros em uma família de ascendência nazi-fascista e misógina também mostram elementos que certamente podem ser discutidos e revirados.

Como todo grande filme, “Os Homens Que Não Amavam As Mulheres” pode ser revisto por diversas vezes e ainda assim trará surpresas, novidades e detalhes novos que escapam à primeira vista.

O espectador mais preguiçoso não pode esperar ter tudo mastigado. Fincher não subestima quem o assiste e, apesar de se render a algumas explicações verbais, pressupõe a atenção total à projeção. O filme marca a estréia da franquia “Millennium” nos cinemas Hollywoodianos, e provavelmente terá continuações. Aos que não leram os livros, resta a vontade de devorar as palavras publicadas antes das possíveis continuações.

Nota máxima: 5 claquetes

 

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