50º Festival de Brasília – 8º dia: Era Uma Vez Brasília + 3 filmes
Cinema Nacional

50º Festival de Brasília – 8º dia: Era Uma Vez Brasília + 3 filmes

Se o sétimo dia do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tinha sido o melhor apostando em documentários, o oitavo dia (mais ou menos com a mesma aposta) foi o pior até o momento. E a tristeza é ainda maior por contar com personagens incríveis (Carneiro de Ouro), temas atuais (Um Domingo de 53 Horas), uma distopia na favela do RJ (Chico) e o novo filme de Adirley Queirós, o diretor de Branco Sai Preto Fica (Era Uma Vez Brasília).

Veja a nossa cobertura dos demais dias do Festival de Brasília:
Abertura – Não Devore Meu Coração!
2º dia Música Para Quando as Luzes se Apagam, Vazante e mais…
3º dia Pendular
4º dia Café com Canela
5º dia Menina de Barro e Construindo Pontes
6º dia Jeitosinha e o Nó do Diabo
7º dia O Fantástico Patinho Feio e Por Trás da Linha de Escudos

MOSTRA BRASÍLIA

Longa:

Um Domingo de 53 Horas: 
Direção: Cristiano Vieira. Documentário, 93 min, 2017, DF, livre. Elenco: Paulo Moreira Leite, Cynara Menezes, Eugênio Bucci e Maria Lima.

 

O filme trata dos momentos que antecederam a votação da Câmara do pedido de Impeachment da Dilma, além de mostrar os Deputados votando. A estrutura segue o modo de entrevistar jornalistas, líderes de movimentos, políticos e pessoas “comuns”.

O grande problema é o que o diretor Cristiano Vieira compila de forma bagunçada os temas e vozes que lança em tela. O começo parece só jogar mais fogo na lenha, ao invés de tentar entender a fogueira ou mesmo de tirar algo positivo dali. Aliás, tematicamente, o filme só vai conseguir reforçar o ódio. Dificilmente alguém pensará: “de fato o outro lado tem razão…” ao ver esta obra – coisa que o longa Por Trás da Linha de Escudos, exibido no dia anterior, no mínimo tenta fazer (e acho que consegue).

Trilha que induz o pensamento do espectador, uma montagem que privilegia um recorte torto e chavões de closes que cansam, fazem com que tecnicamente Um Domingo de 53 Horas também seja um desastre – isso sem falar no relógio que marca o tempo-título não ser melhor explorado. Um dos piores filmes do Festival de Brasília de 2017. NOTA: 1 estrela.

MOSTRA COMPETITIVA

Curtas:

Chico 
Direção: Irmãos Carvalho. Drama, 23 min, 2016, RJ, 12 anos. Elenco: Jeckie Brown, Lucia Talabi, Fabricio Assis

Uma boa ideia – imaginar um futuro onde crianças negras da favela são monitoradas, pois são vistas pelo Estado como potenciais criminosas é tão assustador quanto triste e proximamente real, não à o filme se passa com apenas 12 ano de diferença pro nosso mundo. Pena que o desenrolar seja tão irregular: atuações que alteram entre o caricato e o funcional, a história que decide tardiamente o que quer ser. A direção de arte está de parabéns, a casa é complexa e bem explorada. Dava pra ir além. NOTA: 3/5

Carneiro de Ouro 
Direção: Dácia Ibiapina. Documentário, 25 min, 2017, DF, 10 anos. Com Dedé Rodrigues, Deusimar Barros, Maurício Alves, Sandro Global e Lucicleide Araújo, Maciel e Vanessa

O curta disputa, simultaneamente, na Mostra Brasília e na Mostra Competitiva. O documentário revela para o público o cineasta Dedé Rodrigues. Rodrigues faz produções trashs de forma natural, mas com uma consciência inconsciente – “vou colocar uma delegada mulher sim” (claramente ele não o faz para empoderar ou levantar uma bandeira, mas por ser o que ele julga o melhor). A marca, no entanto, são os (d)efeitos especiais divertidíssimos. De bom papo, arranca risadas do público. Porém, não confundam: ele é um excelente personagem o que não torna o doc um bom filme automaticamente. A câmera nervosa da diretora e algumas perguntas que deixam a desejar, além de apostar muito na obra e na figura de Dedé sem um direcionamento maior, tornam a produção muito aquém do carisma dele. NOTA: 2 estrelas.

Longa: 

Era uma Vez Brasília
Direção: Adirley Queirós. Documentário, 100 min, 2017,DF, 14 anos. Elenco: Wellington Abreu, Andreia Vieira, Marquim do Tropa, Franklin Ferreira

Adirley Queirós foi aclamado por Branco Sai Preto Fica há alguns festivais atrás. O longa, que está na Netflix, rompe com a fronteira da ficção e do documentário. Aqui, em Era uma Vez Brasília, ele só rompeu com a minha paciência, tudo que eu desejava era que o filme acabasse. A história de um ser intergalático que chega na Terra para matar o presidente JK, acaba indo para o tempo errado e dá de cara com a situação política atual – de queda da Dilma e ascensão do Temer. Recheado de vazios narrativos que se pretendem hiper carregados de alegorias… Confesso que não entendi o que estava em tela a proposta hermética acredito que deva afastar muitos também.

Coisas como 40 minutos de um cara em uma nave fazendo flexão e churrasco ou então sequências em uma passarela de metrô ou qualquer outra do filme dialogaram pouco comigo. Dos momentos que entendi, cada inserção política era a mais óbvia possível (os Deputados dizendo SIM naquela famigerada votação – a que o longa anterior já havia descrito… ou então vilanizando a mesóclise de Temer).

Tecnicamente, contudo, o mérito é claro. A fotografia trabalha bem a pouca luz e usa o espaço negativo para contar a história de forma mais eficaz que o próprio roteiro. A criação sonora é potente e coerente (me ajudou a não dormir, o que foi um feito inacreditável). Além do figurino e direção de arte terem trabalhado em um visual futurista/mad max até interessante. Dado estes últimos pontos, o que poderia ser o pior filme do Festival acabou recebendo uma pontuação pouco além do mínimo. NOTA: 1,5 estrela.

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