PATERNIDADE NO CINEMA | Especial Dia dos Pais
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PATERNIDADE NO CINEMA | Especial Dia dos Pais

Dia dos pais – dia de crianças fazerem potes e chinelos de macarrão, de fazerem porta retratos artesanais e darem para seus pais, dia dos mais velhos almoçarem com seus pais, dia de comprar meias, dia de mandar gif animado no whatsapp da família… Mas como existem vários tipos de pais e de famílias – solteiros, casados, com dois homens, duas mulheres, nada mais justo do que convidar pessoas diferentes para falarem sobre filmes e paternidade.

Para essa brincadeira chamei o empático Daniel Cury, o emocionado Lucas Albuquerque, o inspirado Thiago de Mello e eu, um mero contador de histórias.

 

HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO (2014)

(por Daniel Cury)
Apesar de o filme não ser sobre paternidade propriamente, tem uma cena muito tocante na qual o protagonista cego Leonardo aprende a fazer a barba enquanto discute com o pai sobre a ideia de fazer um intercâmbio. A ideia de fazer uma viagem é muito mais do que a vontade de ir a um outro país, e sim a vontade de “fugir de si mesmo” (e dos problemas), algo extremamente normal para um adolescente. O diálogo é sutil.

 

 

 

CASA GRANDE (2014)

(por Daniel Cury)
Mais um ótimo filme brasileiro para a lista. No filme, Marcello Novaes vive o pai do protagonista Jean, e personifica os erros de um pai extremamente preocupado com a condição social – e portanto pouco presente na vida do filho. Quando surge diante dele, é para fazer cobranças ou reclamar. Não há a preocupação com o que o menino sente, e muito menos a tentativa de estabelecer um diálogo – o que pressupõe escutar. Serve como contra-exemplo de pai… e ótimo exemplo de um bom filme!

 

 

 

 

FILHO ETERNO (2016)

(por Lucas Albuquerque)

Se hoje a Síndrome de Down ainda é cercada de desconhecimento e preconceitos, imagine na década de 80. Essa é a proposta do nacional “O Filho Eterno”. Como um pai (Marcos Veras) lida com o nascimento de um filho com essa condição. O lado cômico do ator é deixado um pouco de lado e diversas emoções são colocadas em tela. Você em um dado momento pode até se revoltar em como um pai pode agir daquele jeito, em outros poderá se sensibilizar com a dinâmica pai e filho. Além de suscitar várias discussões sobre a criação da criança. O longa retrata a realidade de três décadas atrás, porém continua bem atual. PS: e tem toda uma rima da paternidade com as Copas do Mundo. Para quem gosta de futebol, tem esse adicional.

 

 

O GAROTO (1921)

(por Thiago de Mello)
O Garoto de Charlie Chaplin é icônico por vários motivos. Trata-se do primeiro filme dirigido por Chaplin (que também produziu, escreveu, compôs a bela trilha sonora e, obviamente, atuou). O filme também criou o primeiro astro mirim do cinema, Jackie Coogan. Mas o grande valor de O Garoto é a inovação narrativa ao unir, de maneira magistral, comédia e drama (além do contexto e crítica moral e social) num equilíbrio que apenas um gênio como Chaplin conseguiria fazer.

Após uma série de eventos, durante uma caminhada descompromissada, um vagabundo (Chaplin) o encontra um bebê abandonado na rua. Embora tente tente ignorá-lo ou deixá-lo com qualquer outra pessoa, o vagabundo decide cuidar da criança. Assim, inicia-se uma jornada tão divertida quanto emocionante sobre amor paterno.

A relação do garoto com o vagabundo possui uma sensibilidade tocante. Muitos atribuem que essa relação foi consequência do falecimento do filho recém-nascido de Chaplin, apenas 10 dias antes do início das filmagens. Cenas como a luta que o vagabundo trava contra os homens da assistência social que querem levar o garoto para o orfanato ou o reencontro de ambos na caçamba do carro são carregadas de dor e emoção.

O Garoto é um filme eterno, uma história divertida e comovente de um pai por acaso e seu filho adotivo. Afinal, quem disse que pai é só o biológico? Pai é quem ama e cria!

 

 

PEIXE GRANDE E SUAS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS (2003)

(por Fernando Machado)
Somos todos contadores de histórias! Fato. E por mais fictícia que uma história seja, ela carrega uma verdade imutável – a verdade de quem a conta.

Se possível ilustríssimo leitor e leitora, leia esse pequeno texto ouvindo essa música, que em um de seus trechos diz o seguinte:

E a estrada
Que o velho homem [pai] pavimentou
Os remendos ao longo do caminho
As placas enferrujadas
Deixadas para mim
Ele estava me guiando
Amando de sua própria maneira

 

PEIXE GRANDE (Big Fish, 2004) dirigido por Tim Burton conta a história de Edward Bloom, um nato contador de história que diante da idade avançada se encontra sob os cuidados de seu filho Will Bloom, que se manteve afastado do pai por anos por julgar não o conhecer de verdade, e sim suas histórias fantasiosas.

O que Tim Burton faz aqui é nos mostrar como histórias carregam vidas. Will por anos ignorou seu pai e suas histórias sem se aperceber que naquelas histórias estava a vida do seu pai e tudo o que este gostaria de deixar como legado para ele.

Tim Burton explora toda liberdade que uma história contada tem para usar e abusar de imagens surreais de estética onírica e cheia de luz, criando um mundo muito particular dentro da história. O que me faz pensar: como seria a representação visual das histórias que meu pai contava quando eu era criança?

Lembro de uma que ele conta até hoje (se você estiver lendo isso meu pai, saiba que eu te amo) quando estávamos em uma praça enorme e movimentada de São Paulo e minha irmã mais velha achou um relógio no chão. Meu pai no empenho de achar o dono do relógio foi perguntando para cada pessoa que estava ali presente até que depois de muito tempo encontrou o dono que ficou extremamente grato. Será que a história aconteceu exatamente assim? Não importa! O que importa é a lição de honestidade que meu pai me deixou. E é disso que se trata PEIXE GRANDE. Não importa se as histórias que nossos pais nos contam são repetitivas ou exageradas, o que importa é que essas histórias são metáforas que carregam suas histórias de vida. Por que nossos pais podem até morrer, mas suas histórias permanecerão para sempre.

A música acima chama-se Man Of The Hour (Pearl Jam) e é com ela que o filme acaba. A música se encerra com as seguintes palavras:

Agora o homem da hora
Recebeu seu aplauso final
Enquanto a cortina se fecha
Eu sinto que este é só um adeus por enquanto

 

FELIZ DIA DOS PAIS!

 

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