Os Filmes da Minha Vida Cinéfila - parte II - Cinem(ação)
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Os Filmes da Minha Vida Cinéfila – Parte II

Esta é a segunda parte dos filmes que marcaram minha vida e que me fizeram ser um cinéfilo apaixonado pela Sétima Arte. Caso não tenha visto a primeira parte deste texto, clique aqui para ler a Parte I onde falo sobre outros filmes essenciais na minha formação pessoal.

E agora, vamos falar de Cinema!

PARTE II

CINEMA PARADISO (Nuovo Cinema Paradiso, 1988)

Este talvez seja o mais poético dessa lista e também o que teve maior valor prático na minha vida de cinéfilo, afinal CINEMA PARADISO é uma declaração de amor ao Cinema.

CINEMA PARADISO começa em Roma, onde um bem sucedido cineasta (conhecido como Totó na infância) vive uma vida sem muitas aspirações. Mas um dia ele recebe uma ligação de sua mãe que lhe avisa que seu amigo e mentor Alfredo morrera, o que o leva a retornar à sua cidade natal no interior e ali reavivar lembranças de uma infância marcada por tragédias mas também por muitos momentos de alegria e inocência vividas dentro do cinema de rua chamado Cinema Paradiso.

O que torna esse filme tão marcante é a forma como Giuseppe Tornatore, diretor do filme, externa sua paixão pelo cinema, e não cinema apenas como arte, mas cinema (espaço físico) como evento de catarse coletiva, o que me faz lamentar nunca tê-lo visto numa tela de cinema.

Hoje, com advento de smartphones e tablets, e de serviços de streaming como Netflix, HBO Go, Amazon Prime e os famigerados torrents (estou parecendo velho falando assim né) ir ao cinema já não tem a mesma magia de outrora. E não há problema nenhum nisso. Veja meu caso – 80% dos filmes que assisto, o faço em casa. Mas isso não significa que ir ao cinema tenha menos valor para mim.

Cinema é uma arte sensorial, e quando estamos diante de uma tela de cinema, com uma iluminação e som apropriados, nossos sentidos são aguçados e conseguimos abstrair melhor tudo o que vemos e ouvimos do filme. E por mais que as TVs sejam cada dia maiores e melhores, a experiência do Cinema é incomparável. A catarse coletiva que acontece quando rimos em conjunto e aquele som delicioso de gargalhadas ao final de uma gag invade a sala, aquele silêncio absoluto numa cena tensa, aquele som de “ufá” quando nossa personagem escapa do perigo. São reações que só teremos numa sala de cinema com outras pessoas. Isso é insubstituível!

Totó cresceu dentro de uma sala de projeção, observando essas reações das pessoas diante de um filme, e isso foi algo que ele nunca esqueceu. E mesmo quando ele parecia ter esquecido, bastou uma fagulha para que toda emoção que sentira na infância ao estar numa sala de cinema voltasse de forma avassaladora, derrubando lágrimas de seus olhos. A belíssima cena final do filme deixa isso bem evidente.

Meu sincero desejo é que, se por algum motivo você que está lendo esse texto perdera esse encanto para com o cinema, essa fagulha de texto reaviva a sua paixão. Muitas vezes quando tenho uma má experiência, oriunda da falta de educação das pessoas dentro de uma sala de cinema, tendo a querer ver mais filmes em casa, mas depois eu lembro de quantas sensações incrível vivenciei diante de uma telão e a vontade de ir ao cinema retorna.

CINEMA PARADISO retrata essa magia que o cinema tem de emocionar seu público por meio de filmes que marcam nossa vida, assim como o próprio Cinema Paradiso marcou minha vida e a vida de seus personagens. Hoje é impossível eu ouvir a famosa trilha sonora que Ennio Morricone compôs para o filme sem que eu me emocione… (pausa para eu me recompor).

TOURO INDOMÁVEL (Raging Bull, 1980)

Martin Scorsese talvez seja hoje o cineasta vivo mais respeitado de Hollywood. Fruto da Nova Hollywood, movimento cinematográfico que renovou significativamente a produção técnica e estética da indústria de cinema hollywoodiano na década de 70, após vivenciar uma profunda crise econômica e de paradigmas na primeira metade dos anos 1960 onde a liberdade criativa parecia estar estagnada nos Estados Unidos e indo na contra-mãos dos movimentos cinematográficos que rolavam na Europa.

TOURO INDOMÁVEL é tido por muitos como a grande obra prima de Scorsese, mesmo estando longe de ser seu maior sucesso comercial. E o fato do filme ser em preto & branco, numa época onde filmes em cores já era o padrão estabelecido, afastou muita gente do filme e infelizmente deve afastar até os dias de hoje.

O que faz esse filme ser tão especial para mim é o fato dele ter me introduzido ao mundo cinematográfico de Martin Scorsese, mas além disso, foi com esse filme que participei do meu primeiro hangout assistido sobre cinema, promovido pelo CONACINE (Congresso Nacional de Cinema), o que para mim representou um ponto de virada na minha vida de cinéfilo. Isso por que ao participar do programa pude analisar com detalhe cada frame do filme e reparar no cuidado que Scorsese teve em trabalhar a mis-en-scene (expressão francesa relacionada com encenação ou o posicionamento dos atores e dos objetos de uma cena) para enriquecer a narrativa, como por exemplo os diversos objetos sacros nos cômodos da casa de Jake, misturando o sagrado e profano tão presente nos filmes do diretor.

Depois disso, a forma como eu enxergo e também estudo um filme se aprimorou. Passei a “enxergar” os filmes com outros olhos. No caso de TOURO INDOMÁVEL, se antes eu assistia-o como um filme sobre um lutador de boxe problemático e explosivo, que vai do céu a inferno devido seus próprios erros, agora vejo que o filme fala sobre orgulho e derrocada, sagrado e profano, ascensão e queda, o homem em busca de sua redenção, tudo criando um paralelismo com a dicotomia do preto e branco.

Palmas para Martin Scorsese!

 

PODEROSO CHEFÃO Parte II (Godfather Part II, 1974)

Sempre que se fala em PODEROSO CHEFÃO a imagem clássica de Don Vito Corleone vem a mente da maioria das pessoas. Até por que a imagem de Vito Corleone faz parte da cultura pop e é facilmente vista em capa para celulares, camisetas, broches, cadernos e afins. Mas sempre que eu penso em PODEROSO CHEFÃO eu penso na verdade em Michael Corleone, especialmente no Michael do segundo filme, que (pasmem) é o melhor da trilogia.

Se no primeiro filme temos uma história focada num homem querendo proteger a família apesar dos negócios ilícitos, no segundo temos duas histórias paralelas – a de um homem querendo proteger os negócios ilícitos apesar da família, e outra de um italiano recém chegado da Itália querendo se encontrar num país que oferece pouca ou nenhuma oportunidade para quem for imigrante. E essa dinâmica entre as duas histórias que me fascina nesse filme. Coppola cria uma história de sequência orgânica do primeiro filme ao mesmo tempo que conta um prequel (ou pre-sequência – nome dado a uma obra cuja história antecede ao trabalho anterior) que nos mergulha na vida dos Corleone.

Essa ferramenta que o cinema nos apresenta de poder nos transportar para o passado, presente e futuro, faz de PODEROSO CHEFÃO Parte II algo tão rico. É a forma mais funcional possível de se dar continuidade a uma história tão sublime. Uma obra dessas nas mãos de qualquer outro diretor poderia ser catastrófico, afinal são dois filmes diferentes, contando histórias de pessoas diferentes, em momentos diferentes, tudo isso dentro do mesmo filme. E isso só é possível graças à uma montagem que consegue fundir as histórias de ambos para criar um paralelo entre as ações de Vito que o levará a ser o “Godfather”, o homem de família, e entre as ações de Michael que estão levando-o a ser o “Chefão”, o homem de negócios.

 

Então chegamos ao fim dessa Viagem Pessoal aos filmes que marcaram minha vida cinéfila. A ideia desses dois textos é apenas uma apresentação pessoal, baseada nos filmes que vejo e como eu os vejo. Espero poder falar de cinema com vocês por muito tempo e trocar experiências. Quero saber de vocês, qual filme marcou sua vida e por que?

Se quiser conhecer mais do meu trabalho, eu escrevo para blog ArteCines e semanalmente falo de cinema no meu Canal no Youtube

Um forte abraço e até a próxima.

 

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