Crítica: Aquarius (2016) - 3. - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Aquarius (2016) – 3.

Ficha técnica de Aquarius.

Direção: Kleber Mendonça Filho.
Roteiro: Kleber Mendonça Filho.
Elenco: Sônia Braga, Maeve Jinkings, Carla Ribas, Irandhir Santos, Humberto Carrão, Zoraide Coleto…
Sinopse: Aquarius conta a história  da jornalista e escritora Clara, que venceu um câncer ao longo de sua vida e hoje vive sozinha em um antigo apartamento na praia de Boa Viagem, em Recife, passa a ser perseguida pela construtora que deseja comprar seu apartamento, o último ainda habitado do prédio.

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Primeiramente… (tinha que fazer essa piada) o novo filme do diretor Kleber Mendonça Filho (KMF) fez um burburinho (ok! Muito mais que isso) em todos os festivais internacionais em que percorreu. Porém, no Brasil ficou conhecido como um filme de artista vagabundo sustentado pelo governo petralha, já que seu elenco se posicionou no tapete vermelho de Cannes contra o impeachment (ou golpe, de acordo com seu pensamento… respeito todos s2). Então, se criou uma polarização em cima dessa obra: alguns loucos para assistir, outros tantos querendo boicotá-lo. Enfim, Aquarius estreou no Brasil, está sendo um sucesso desgraçado e não foi selecionado pra concorrer ao Oscar. Por quê? Bom, isso é um pequeno segredo.

Já de início, somos transportados para a década de 80 em um design de produção excelente: carros, vestimentas, arquitetura, tudo nos faz lembrar a época em que está se passando essa parte do longa. Além disso, KMF dita um ritmo lento justamente para nos prepararmos para o restante da projeção, já que boa parte da história está escondida nos pequenos detalhes do dia a dia de Clara (Sonia Braga). Nessa introdução, o diretor utiliza a montagem de forma significativa para representar um dos elementos fundamentais do ser humano: a lembrança. É agridoce notar a senhora olhando para uma velha cômoda com os olhos brilhantes e lembrando-se de um sexo muito bom que foi ali realizado, mas que agora é apenas uma velha lembrança de uma juventude que não volta.

Do mesmo modo, vemos Clara (já no tempo atual) tendo sentimentos por um disco de vinil que comprou em um sebo, mas deixa claro que não vive de passado, e adora mp3. Além disso, recusa-se a vender o único apartamento habitado do edifício Aquarius, pois o mesmo não é apenas sua moradia, e sim onde construiu toda sua vida. É natural preferirmos algo que além de um mero produto seja um item de lembranças e sentimentos. Não por menos me lembrei na hora de uma pelúcia que tenho aqui em casa. Quando a olho, não vejo um produto comprado em uma loja para ser decoração em uma estante, e sim um gesto de carinho e a doce lembrança de quando o ganhei de uma amiga querida; ou mesmo de um pequeno anel que ganhei de uma amiga (hoje, minha namorada). São mais do que simples objetos: são lembranças, sonhos, momentos, sentimentos – e isso é algo que não tem um valor físico.

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A atuação de Sonia Braga é maravilhosa.  Sua face, movimentos de sobrancelhas, lábios se encaixam perfeitamente na personagem de Clara. Também vemos outros detalhes que compõe Clara serem estudados de forma sublime por Sônia e KMF, já que a presenciamos mexendo no cabelo em vários momentos (sinônimo de força, pois sua personagem venceu um câncer). Muitos colocam Sonia Braga como uma forte candidata ao Oscar, e assim espero que aconteça. O resto do elenco cumpre seu papel, mas são engolidos por Braga.

Outro ponto relevante é a trilha sonora: combinando perfeitamente cada música tocada com a cena e o momento da vida das personagens. Desde Caetano Veloso até Maria Betânia, muitas músicas nacionais reforçando nosso grande dom artístico de compormos maravilhosas obras.

Ainda por cima, KMF entrega uma direção comprometida com a mensagem e composição do longa. Não faz movimentos absurdos na câmera ou a mexe sem a intenção de nos dizer algo. Cada enquadramento é composto de uma mensagem seja ela direta ou simbólica. Na cena em que Clara chama um garoto de programa, podemos presenciar o enquadramento cortando a cabeça desse personagem e depois focando em seu genital, pois ele está ali apenas servindo como um corpo bonito para satisfazer sexualmente a personagem principal.

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Por fim, Aquarius desperta vários sentimentos no espectador, seja a revolta por ver a construtora fazendo de tudo para desalojar Clara, a esperança ao vê-la sempre lutar pela sua convicção ou mesmo analisar a crítica social sobre o imobiliário de Recife. Porém, o que mais marca é sua certeza, muitas vezes esquecidas por nós, de que o dinheiro não consegue comprar tudo. Por mais que tentem, nossas raízes, conhecimento, cultura, lembranças e sentimentos não é algo que tenha um valor físico, não é palpável, apenas a própria pessoa a entende… E isso é algo que o capital nunca vai compreender.

Escrito por: Will Bongiolo

  • Roteiro
  • Direção
  • Atuação
  • Montagem
  • Trilha
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Resumo

O que mais marca em Aquarius é a sua certeza, muitas vezes esquecidas por nós, de que o dinheiro não consegue comprar tudo. Por mais que tentem, nossas raízes, conhecimento, cultura, lembranças e sentimentos não é algo que tenha um valor físico, não é palpável, apenas a própria pessoa a entende… E isso é algo que o capital nunca vai compreender.

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