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Crítica: Kóblic (2016)

Koblic é a prova que não é só da Alemanha que o Brasil perde de 7×1.

Ficha técnica:
Direção: Sebastián Borensztein
Roteiro: Sebastián Borensztein, Alejandro Ocon
Elenco: Ricardo Darín, Oscar Martínez, Inma Cuesta
Nacionalidade e lançamento: Argentina, Espanha, 2016 (13 de outubro de 2016 no Brasil)

Sinopse: Kóblic é um capitão do exército argentino e em plena ditadura resolve se refugiar em uma pacata região interiorana. O que ele não esperava era que a turbulência iria permanecer na vida dele.

Kóblic

É gritante como em Kóblic praticamente tudo funciona bem. Os elementos (a saber: atuação, direção, fotografia, som) são consistentes e com méritos perceptíveis. Mas é no fio condutor da trama que Kóblic de fato se sobressai. Em Truman, também protagonizado pelo Darín, vemos como o cinema argentino sabe contar bem uma história. Ou então em Um Conto Chinês, também dirigido por Sebastián Borensztein e, pasmem, com Ricardo Darín no papel principal. Aqui essa mania, de ter essa consciência narrativa, é posta em tela mais uma vez pelos hermanos – além do ótimo hábito de Darín ser onipresente.

Contudo, talvez você não se encante pelo filme logo no início, porém se perceber o quão bem construído esta película é verá que não há cenas inúteis nas quase duas horas de exibição. O ritmo, principalmente no primeiro ato, pode afastar alguns e fazer a obra ruir. Todavia, tal cadência mais vagarosa é justificada pelo ambiente interiorano e a sensação de repetição ou de que nada acontece e torna-se, portanto, um elemento narrativo.

Outro fator que pode causar um desconforto, ou a sensação de que as coisas estão sem vida, é a paleta de cores.O Kóblic usa roupas em tons mais fechados e o ambiente com um filtro mais frio – mesmo no verde das plantas sentimos uma descoloração. A personagem Nancy (Inma Cuesta, de Julieta) também usa um pouco de vermelho. A não composição plena voltada para um tom mais quente, também decorre dela não possuir uma vida e, até então, ter uma certa conformidade com isso. Em um dado momento falta luz no posto que trabalha e ela diz que isso é “normal”, denotando o costume com as trevas.

Kóblic

Já no evento que marca a entrada no terceiro ato, a fotografia se abre para tons mais claros – curiosamente em uma cena que caberia um ar mais soturno. A própria narrativa muda um pouco a dinâmica. A sucessão dos fatos torna-se mais ágil, mas sem perder a precisão e carga dramática. O filme, aliás, tem o corte final perfeito. Não há pontas soltas e o roteiro é finalizado de maneira redonda.

Alguns detalhes valem ser ressaltados. Logo no começo um personagem diz para Kóblic que X é confiável e com Y é melhor não se meter. Essa afirmativa é comprovada no trato de Y com um cachorro, enquanto o próprio Kóblic tem um jeito bem diferente de tratar outro cão. Outra metáfora pode ser apreendida ao associarmos um trauma que Kóblic sofrera em um voo pretérito à narrativa, o percalço aéreo no início do longa, com o fechamento do arco do personagem. Tais eventos o fazem cogitar desistir de voar. Mesmo com essa recusa ele não consegue fugir da turbulência na qual se envolve na pacata região.

E ele o faz por ser um “Piloto experiente”, como ele mesmo se autodefine. Notadamente ele sabe pilotar aviões, a vida dele e daquele que os cercam. E essa segurança também é dada pela atuação de Darín. Não é a melhor interpretação da carreira, ele estava melhor nos dois longas supracitados e em O Segredo dos Teus Olhos, por exemplo. Aqui o relacionamento de Kóblic com os demais personagens serpenteia uma base unidirecional, porém com nuances para cada um. Temos firmeza, carinho, charme, senso de humor… Poucos atores conseguiram imprimir esses caracteres sem soar forçado. Ou seja, Darín está excelente, mas abaixo do que já fez – mal de atores desse quilate é ser nivelado pela perfeição.

Kóblic

Se tudo isso não bastasse, o longa conta, como plano de fundo e tema central, uma questão política referente aos anos de chumbo argentino. O que torna ainda mais incrível por ser a transposição de uma história local para dilemas universais. Quem carregar a base histórica e tiver sentimentos ligados à região vai se sensibilizar ainda mais. Quem for alheio à situação, no entanto, também apreciará em alguma medida.

Kóblic, portanto, não é um filme fácil. A afirmação inicial “senhor, estamos prontos” deveria ser uma pergunta e deixar que a gente decidisse se encarava ou não. Mas ele pressupõe que estamos. E o faz por ser Sebastián Borensztein, por ser Darín, por ser Kóblic e por ser Cinema, cinema argentino.

  • Nota Geral
5

Resumo

Kóblic, portanto, não é um filme fácil. A afirmação inicial “senhor, estamos prontos” deveria ser uma pergunta e deixar que a gente decidisse se encarava ou não. Mas ele crê que estamos. E ele o faz por ser Sebastián Borensztein, por ser Darín, por ser Kóblic e por ser cinema, cinema argentino.

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