Eu Cinéfilo #29: Réquiem para um Sonho (2000) - crítica
Réquiem para um Sonho, do diretor Darren Aronofsky
Eu Cinéfilo

Eu Cinéfilo #29: Réquiem para um Sonho (2000)

Sobre o filme Réquiem para um Sonho:

Convidada para participar de seu programa de TV preferido, Sara (Ellen Burstyn), uma idosa dona de casa, começa a tomar pílulas para emagrecimento; caso contrário, aquele belo vestido no guarda-roupa não lhe servirá para o seu grande dia. Mas o que parecia ser apenas um simples uso de medicamento, se torna um verdadeiro pesadelo, quando Sara ignora ordens médicas e começa a ficar viciada. Seu filho Harry (Jared Leto), juntamente com a namorada Marion (Jennifer Connely), são viciados em heroína, e acabam levando essa situação ao extremo de suas vidas. O amigo Tyrone (Marlon Wayans) também deixa sua vida ruir por causa das drogas.

O diretor Darren Aronosfsky não poupa cenas chocantes ao mostrar de forma visceral o poder destruidor das drogas na vida das pessoas. Em Pi (1998), ele já havia mostrado um matemático obcecado que decide se isolar do mundo. Em “Réquiem para um Sonho”, Aronofsky vai além e mostra como a obsessão e a falta de controle pode destruir vidas. Ainda mais impactante que o tema em si, é a maneira como o filme vai mostrando os efeitos causados pelas drogas. As cenas de consumo de heroína são perturbadoras, onde vemos em close, pupilas sendo dilatadas, tornando assim mais palpável a dor e a angústia daqueles viciados.

Réquiem para um Sonho, do diretor Darren Arronofsky

Assim como a vida daquelas pessoas vai se descontrolando, o filme também vai se tornando difícil e insuportavelmente inquietante, acentuado por uma trilha sonora marcante de Clint Mansell, que carrega um ritmo estranho que incomoda e não nos sai da cabeça. Quando você imagina que já viu o pior acontecer ali, eis que Aronofsky nos prepara uma das sequências finais mais fortes e desconfortáveis já vistas no cinema, onde Marion participa de uma orgia com outras mulheres em um show para homens. Enquanto isso, a edição seca e rápida vai cortando para os outros personagens em seu extremo, deixando o espectador pra lá de tenso.

Ellen Burstyn concorreu ao Oscar e Globo de ouro, mas perdeu injustamente para Julia Roberts por “Erin Brockovich” (premiaram não a melhor atriz, mas a maior estrela, como bem disse um crítico na época). Jennifer Connely (que voltaria a trabalhar com o diretor no irregular “Noé”) tem aqui um de seus melhores momentos, em um papel corajoso e difícil. Jared Leto se mostra um ator versátil, perdendo peso para viver o personagem Suas mudanças físicas em filmes como “Capítulo 27” e “Clube de Compras Dallas” são notáveis). Marlon Wayans mostra aqui que pode ir além das comédias bobas que faz com seus irmãos. Aronofsky demonstrou grande talento ainda em obras como “O Lutador” (2008) e “Cisne Negro” (2010), mas “Réquiem para um Sonho” continua sendo o trabalho que melhor o define como um diretor genial que, assim como David Fincher, não tem medo de ousar e ultrapassar limites.

Depois desse filme, sua visão sobre as drogas (e sobre o próprio cinema) jamais será a mesma.

 

Texto escrito por:

Kley Coelho

Réquiem para um Sonho, do diretor Darren Arronofsky

Veja outro texto do mesmo autor

Deixe seu comentário