Crítica: Detenção (2010)

Ficha Técnica

Direção: Paul T. Scheuring

Roteiro: Paul T. Scheuring

Elenco: Adrien Brody, Forest Whitaker, Cam Gigandet, Clifton Collins Jr., Maggie Grace

Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2010

Sinopse: Detenção (The Experiment) foi baseado no famoso experimento de aprisionamento de Stanford, realizado em 1971. Pesquisadores americanos realizam um experimento comportamental, onde eles recrutam voluntários para simularem o ambiente de uma prisão. Alguns voluntários serão os guardas e outros serão os prisioneiros. Atenção! Esse texto contém spoilers.

Em 2014, escrevi um artigo sobre um filme alemão chamado “A Experiência” (Das Experiment, 2001), em que comparei a qualidade dos fatos apresentados no filme com a história real do experimento de aprisionamento de Stanford. “Detenção” é um remake norte-americano desse filme alemão, que consegue manter certa qualidade, mas que também peca em alguns aspectos.

Resumidamente, o experimento de aprisionamento de Stanford, realizado em 1971, teve como objetivo estudar o comportamento humano inserido em uma sociedade onde as pessoas são definidas pelo grupo ao qual pertencem. Quebrando inúmeros padrões éticos existentes hoje em dia, e aos quais eu não discutirei aqui, os pesquisadores recrutaram estudantes voluntários para simular o ambiente de uma prisão. Doze pessoas foram designadas como guardas, e doze como prisioneiros. Certas regras foram estabelecidas e deveriam ser seguidas de modo a manter a ordem naquela “prisão”. Entretanto, o experimento que foi criado para durar 2 semanas, acabou saindo do controle e foi cancelado no sexto dia.

O enredo do filme consegue nos passar a ideia do que foi o experimento realizado em Stanford. Obviamente alguns fatos apresentados diferem da realidade, como por exemplo, o valor em dólar que cada voluntário receberia ao final das duas semanas. No filme, cada voluntário receberia 14 mil dólares, enquanto em 1971 o anúncio do jornal para recrutar os voluntários garantia 15 dólares por dia de experimento. Além dos detalhes, algumas cenas são exageradas nesse remake, assim como no filme alemão de 2001. Entretanto, algo que eu achei que deveria ser notório transmitir no filme é o fato de que os indivíduos sorteados para serem os prisioneiros foram “acusados” de roubo armado, para simular um evento criminal que os levaria até a prisão. A polícia local colaborou com os pesquisadores nesse aspecto, e para mim isso era de extrema importância aparecer no filme, uma vez que todo o início dessa simulação já começa a alterar a mente humana.

Outro fator que poderia ter sido melhor explorado é o figurino. Em 2015 foi lançado um terceiro filme sobre o famoso experimento, chamado The Stanford Prison Experiment (dirigido por Kyle Patrick Alvarez, e contando com Ezra Miller no elenco), mas ainda não tive a oportunidade de assistir, e, portanto, não posso julgá-lo. Entretanto, observando as fotos do filme, notei que eles capricharam no figurino, aproximando os espectadores do evento real. Um detalhe tão “simples” poderia ter aumentado ainda mais a qualidade do filme.

Paul T. Scheuring, diretor e roteirista, já tinha experiência em produções sobre prisões. Ele é o criador da famosa série de sucesso Prison Break, e toda essa bagagem o ajudou no desenvolvimento do filme. Adrien Brody (“O Pianista”, 2002) interpreta o prisioneiro mais rebelde do experimento, inconformado com o modo que a situação saiu do controle. Sua atuação está muito boa, mas quem merece o maior destaque é Forest Whitaker (“O Último Rei da Escócia”, 2006), no papel de guarda. No começo ele aparenta ser um personagem tranquilo, mas acaba por tornar-se o maior exemplo de como um papel na sociedade pode transformar, ou até mesmo revelar, sua personalidade. O ator conseguiu interpretar um personagem único e forte, e fica evidente os mecanismos pelos quais o experimento saiu do controle durante os 6 dias.

No geral, “Detenção” é uma boa produção que gera grandes reflexões sobre o papel de grupos específicos dentro da sociedade e sobre a ética experimental. Os exageros e papéis menos importantes, como o da atriz Maggie Grace (que é totalmente desnecessário), são releváveis durante o filme e o espectador pode desfrutar dos elementos mais importantes apresentados no longa.

Agora, o próximo passo será assistir a última produção de 2015 e comparar com essa e com a de 2001. Vamos que vamos!