"Nerve" - (2016) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
Artigo

“Nerve” – (2016)

Nerve: quem acessa o jogo tem duas opções, uma delas é jogar, a outra assistir.

Há uma solidão no mundo. Mesmo havendo muitos interesses ao nosso redor, tais cuidados, não dizem respeito à felicidade que todos procuram sentir um dia, é como um abraço sem braços, um aperto estando longe. São pequenas as coisas que na verdade fazem sentido. As minúcias, o pouco – o menos, são caracteres que deveriam ser mais valorizados ou olhados com mais calma diante de tanta obscuridade, agilidade e individualismo que nos cercam atualmente. Há uma falta de consideração e de afeto sincero; o que falta: é tempo. Queremos o que hoje já não dá pra suprimir, isto é, já passou o momento daquilo desejado, está no passado, o agora virou ontem, estamos angustiados, ansiosos, perenes num marasmo solitário. Há tanta comunicação que não se comunica. Há tanto interesse desinteressado. É incessante a procura pelo perfeito, pelo estético, pelo belo padronizado o qual através de camadas acaba por definir, então, quais parâmetros devemos seguir em nossas vidas.

Talvez isso tudo pode parecer pessimista ou mesmo muito triste, contudo, é sombrio o momento vivido –  onde só há nuvens e sombras ao nosso redor, já que o virtual prevalece sem virtudes, em potência, cuja força ou caminho bamboleia diante da falta do senso de comunidade, aliás, algum dia tal discernimento existiu? Feliz é aquele quem acessa tal felicidade a cada espasmo ansioso e propulsor, ou seja, sacia-se o eterno a partir do momentâneo. As vontades e desejos são menores, uma vez que o reflexo de nossos desejos condiz com o modo de vida que levamos: estamos sozinhos num mundo repleto de seduções. O “ao vivo” atual reflete o presente do nada, daquilo que não nos diz nada, é um puro desfrutar-se ocioso, e dentro desse barco trêmulo que a cada onda traz e leva ideias e cada uma delas é levada e se leva por diversos caminhos distintos, a moda agora – segundo vemos em Nerve, é jogar ou assistir; e tudo vale. O jogo funciona da seguinte forma: quem acessa o jogo tem duas opções, quais são: uma delas é jogar e a outra assistir. Um adendo aqui, já que quem assiste, não é apenas um voyeur, e pelo contrário, pode apostar ($) e pode desafiar os jogadores, e mais uma vez, pode-se tudo.

Independente dos desafios lançados, sempre haverão câmeras, muita conexão e pouca conectividade. A maioria das pessoas querem assistir, querem estar presentes e vivas diante dos acontecimentos virtuais que na verdade nada mais são do que a própria realidade daqueles que decidiram jogar. A sedução do jogo e do vício tanto de desafiar quanto de ter o poder de mandar o jogador fazer qualquer tipo de coisa, faz com o que tais testemunhas fiquem cegas diante do que veem visto que de fato o que observam é pura ilusão, mas, real; só que percebem isso quando já é tarde demais.

Em resumo, pode-se dizer que há um empobrecimento do ser humano quando ele se fecha para si e para com suas relações de afeto. É como quando sentamos num restaurante para jantar e pedimos a senha do wi-fi ou observamos que durante uma conversa, todos os aparelhos celulares estão ligados à espera de alguma mensagem de uma outra pessoa ou mesmo sendo usado concomitantemente com a conversa ali estabelecida. Talvez todas essas transições comportamentais sejam sintomas de angústias e ansiedades as quais acabam tendo parcela significativa num mundo em que a comunicação virtual acaba tendo mais vida que a própria realidade.

Nota: 4

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