#EspecialCineclubes: A resistência histórica dos cineclubes brasileiros – Parte I - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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#EspecialCineclubes: A resistência histórica dos cineclubes brasileiros – Parte I

SÍMBOLO HISTÓRICO DA RESISTÊNCIA CINEMATOGRÁFICA, O CINECLUBISMO REAGE AOS AVANÇOS TECNOLÓGICOS.

 

Além de simbolizar o ciclo de resistência de um “fazer cinematográfico” que vai à contra corrente da indústria, os cineclubes carregam em sua natureza uma essência democrática, que se solidifica e preserva um caráter cultural e educativo.

É inquestionável a reação em cadeia que o Cineclubismo provoca naqueles que compartilham de tal experiência. Cada sessão conduz o público a aguçar um olhar crítico, de reflexão de contrapontos estéticos, narrativos e atemporais.

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Foi com o objetivo de defender esse estímulo ao público, que na década de 60 foi criado o Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros. O CNC teve uma atuação importante nas décadas de 60 e 70, reunindo uma variedade de instituições (sindicatos, escolas, universidades, etc.).  Nessa linha do tempo de quase meio século, o CNC teve suas atividades interrompidas pela ditadura militar (1968), retomou-as após uma reunião de cineclubistas em Curitiba (1974) e criou alguns órgãos para suprir as demandas dos cineclubes.

Assim como ocorre em outras ramificações da produção cinematográfica brasileira, a falta de continuidade dos projetos de suporte aos cineclubes é um dos fatores que ajudam a compreender o déficit na quantidade e rotatividade dos filmes. A falta de infraestrutura, da criação de políticas públicas, de suporte financeiro e investimentos tecnológicos, acarreta uma série de situações que além de comprometer todas as conquistas dos cineclubes brasileiros ao longo dos anos, minam as possibilidades de reverberação e alcance do movimento.

As estatísticas se revelam ainda mais paradoxais se confrontadas com a quantidade de filmes (curtas e longas metragens) produzidos anualmente em território nacional que lutam por seu espaço nas salas de exibição. Devido às restrições das grandes salas, e o número insuficiente de espaços alternativos, muitos desses filmes acabam não tendo a devida projeção e empacam na pós-produção.

 

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Segundo dados da ANCINE (Agência Nacional do Cinema) no ano de 2014, dos 666 exibidos no Brasil em 2014, 244 são americanos e 180 brasileiros e os 242 restantes de demais nacionalidade (Argentina, França, Reino Unido e etc.). A presença dos blockbusters americanos ainda é majoritária, mas se comparado aos dados de 2013, onde 167 filmes foram exibidos, os números mostram-se crescentes.

Se existem filmes para serem exibidos e os cineclubes podem ampliar os horizontes da exibição, por que a grande maioria deles encontram sérias dificuldades em manterem-se ativos?

O problema não é a matéria-prima, mas sim os métodos de produção. O cerne que inviabiliza o funcionamento saudável – e autossuficiente – dos cineclubes perpassa uma série de ações (ou a ausência delas) que juntas, contribuem diretamente para que a lei da oferta e da procura não feche como deveria.

Os Cineclubes que conseguiram resistir na contracorrente do mercado cinematográfico são reflexos da dedicação e do amor dos seus envolvidos: atores, cineastas, roteiristas, diretores e produtores que estão na linha de frente dessa luta pela memória e reafirmação do movimento cineclubista no Brasil, e entendem esse espaço como um ato de democratização da cultura indispensável para o país.

O diálogo entre a “obra” e o “público” não pode ser silenciado, assim como o direito a acessibilidade não pode se perder entre as burocracias do sistema e a visão míope do poder público. Nessa inversão de papéis entre POVO e ESTADO, as ações interligadas entre Departamentos e Institutos Audiovisuais, Coletivos de Cinema e o Público Cinéfilo Atuante são fundamentais para dar visibilidade as grandes películas e a própria produção cinematográfica em suas raízes e estações. O incentivo governamental deve ser legítimo e não instrumentalizado como moeda de troca para suprir os trabalhos de difusão. Dar subsídios para a realização cinematográfica não deve ter como consequência qualquer interferência – direta ou indireta – nos conteúdos e nos métodos de produção cineclubista. A autenticidade e a essência histórica do movimento devem ser preservadas acima de tudo.

A realização quase sempre gratuita, sem fins lucrativos ou a preços simbólicos, fideliza o público e dá um suporte importante para o processo de formação de plateia. Ampliar o suporte estrutural a cultura cineclubista, além de amparar a rede de cineclubes em todo território nacional, ajudaria a sanar uma problemática histórica do nosso cinema, que é a distribuição dos filmes.

Um Cineclube se organiza antes de tudo pela vontade do compartilhar, pelo convívio comunitário, pelo desejo de reunir pessoas e culturas diversas. Pela democratização do acesso popular! Continua…

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