Crítica: Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída

O próprio nome do filme já consegue explicar sobre o que se trata. Baseado no livro de mesmo nome, no filme alemão “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída” (Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, 1981) é contada uma parte da vida de uma jovem de Berlim que vive no mundo da heroína. A história do filme é real e ocorreu na década de 70. Christiane (interpretada por Natja Brunckhorst) tinha apenas 12 anos quando começou a se envolver com drogas. Ela era uma menina, com alguns problemas em casa, e que, como quase todo jovem que passa pela puberdade, queria ser aceita em um grupo de amigos. Foi na boate Sound que Christiane conheceu os amigos que a acompanhariam futuramente na luta diária para conseguir uma picada, inclusive o seu namorado, Detlef (interpretado por Thomas Haustein).

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Naquela época, a heroína era uma novidade em Berlim, e as pessoas a chamavam de “H”. A primeira vez que Christiane a experimentou foi após um show do David Bowie. Iniciou com a inalação, mas com o passar do tempo, ela escolheu a injeção. O filme mostra o seu declínio e o avanço de seu vicio, que a leva à prostituição para alimentar sua dependência. Christiane vê seus amigos se afundarem junto com ela, e vivencia a morte em seu cotidiano. Nesse filme, é exposta a vida real de muitos jovens que ficavam na Estação Berlin Zoologischer Garten em busca de drogas. Eles deixavam suas casas, pois não havia mais motivo para continuar tentando esconder o vício de suas famílias.

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Diferente de “Trainspotting – Sem Limites” (1996), o diretor Ulrich Edel optou por representar a realidade dos jovens sem nenhum elemento cômico. “Christiane F.” é um filme escuro, denso e forte. Alguns interpretam como um filme de má qualidade, mas eu vejo totalmente pelo contrário. As sombras, a escuridão e os diálogos curtos são recursos propositais para te situar naquele momento. É para ser assistido com uma preparação mental prévia. Edel não poupa os espectadores dos detalhes da dependência química, e acredito que tenha criado uma das cenas mais fortes de abstinência que já vi. O choque de ver uma menina, praticamente uma criança, se injetando com heroína na veia dentro de um banheiro público imundo não é para qualquer um. Saber o que acontece é uma coisa; ver o que está acontecendo é outra. E Edel nos transporta para a visão que esses jovens possuem do mundo afora e nos impressiona durante todo o filme. Não é um filme nada fácil, não é uma história agradável, não é para distração.

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A atuação de Brunckhorst é incrível. Fiquei sem palavras quando soube que esse foi o primeiro trabalho dela. Pegar um papel tão tenso e pesado para interpretar não deve ser moleza. Ela consegue expressar o sofrimento de Christiane, físico e psicológico. É realmente espetacular.

Não espere um final surpreendente e bem explicado, afinal, não é esse o propósito do filme. Recomendo fortemente a leitura do livro também. Vale à pena fugir um pouco de filmes e documentários forçados sobre drogas, defendendo os dois lados extremos, e entrar na realidade de uma pessoa que vivenciou isso para construir suas próprias críticas.

  • Nota Geral
4

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