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Crítica: O Homem Irracional – Woody Allen

por Bárbara Pontelli

O Homem Irracional

Lançamento: 2015

Direção: Woody Allen

Roteiro: Woody Allen

O Homem Irracional, em cartaz atualmente nos cinemas, é mais um daqueles dramas cômicos salpicado pelo humor inteligente, típico de Woody Allen. Seguindo a ideia das produções dos últimos anos, temos o protagonista – “homem-rabugento-pessimista” – com um toque de humor irônico. Também temos o romance problemático que se desenvolve em paralelo e todas as indagações existencialistas, sempre muito bem colocadas, recheada de citações e referências filosóficas.

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A narrativa gira em torno do personagem principal – Abe Lucas (Joaquin Phoenix) – um professor universitário que, após ser traído pela esposa e sofrer a morte do melhor amigo, entregou-se à uma vida amargurada, sem motivação e constante melancolia. Paralelamente, o professor Abe vive sob o semblante de seu enorme prestígio acadêmico – o quê provoca a atração de muitas alunas e mulheres ao redor.

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Recém chegado ao campus onde dará aulas de verão, ocorre que uma de seus alunas – Jill (Emma Stone) – aproxima-se do professor e logo tornam-se grandes amigos – mesmo com a forte química e atração constante entre ambos. Entretanto, o romance entre os dois fica em segundo plano, frente ao drama particular vivido pelo professor – o quê dá origem ao título do filme O Homem Irracional. Mergulhado em depressão e melancolia, Abe não consegue encontrar sentido para sua vida até que, por acaso, ouve uma conversa em um restaurante, na mesa vizinha. O tema de tal conversa é sobre o drama de uma mãe que desabafa sobre a perda da guarda dos filhos diante um ex-marido sem escrúpulos e um juiz corrupto. Sensibilizado pela situação da mulher, Abe acaba de encontrar uma motivação para viver; sua vida ganha um propósito: ele decide assassinar tal juiz, tema da conversa vizinha. A partir dessa decisão de Abe, a trama se desenvolverá de modo a explorar tal ideia obsessiva do professor, somada às contradições dos relacionamentos amorosos e – como sempre – traz à tona a típica indagação woodyalliana sobre o propósito da vida e sobre o debate do conceito de “felicidade” frente a um mundo tão cruel, hipócrita e injusto. Nesse sentido, Woody Allen tece uma série de analogias e referências ao mundo literário e filosófico – como sempre seus filmes são muito “cerebrais” – tanto que, mais uma vez, traça relação com Dostoiévski e sua obra “Crime e Castigo” (assim como o fez em Match Point ), ou seja, o que era para ser o “crime perfeito” e trazer a paz para o protagonista perturbado, acaba por tornar a vida do mesmo um verdadeiro inferno.

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O filme rende boas risadas e prende a atenção do espectador do início ao fim – sem falar do desfecho muito bem bolado. As belas imagens selecionadas para compor os cenários são de tirar o fôlego, como por exemplo, o por do sol e os passeios com Jill no campo.

As atuações são ótimas, já que contou com um elenco pequeno mas não menos eficiente: Emma Stone prende a atenção não somente pela beleza, mas pela atuação sempre muito carismática e certeira. Joaquin Phoenix, como sempre, é um show a parte. Adoro as atuações dele; sempre dá conta do recado e o personagem do professor obsessivo com uns parafusos a menos lhe caiu como uma luva. Tem qualquer coisa de uma “melancolia natural” na sua expressão que sempre o ajuda em personagens desse tipo.

Um bom enredo e boas sacadas temperados com um pessimismo cômico em uma trama que beira ao absurdo, entretanto, sem algo muito “surpreendente” e/ou muito genial, ou seja, sem muitas novidades – tal como as produções dos últimos anos. Mesmo assim, um prato cheio para os fãs de filosofia e referências literárias com aquela boa dose de ironia que só o Woody Allen sabe fazer!

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