"A Deformação Profissional" (Top Girl) - 2014
Artigo

“A Deformação Profissional” (Top Girl) – 2014

O viés da reflexão sempre traz para mim um interesse mais profundo do que o viés da pura diversão. Isso não quer dizer que o segundo é pior e o primeiro melhor, é só uma questão de opinião. Na verdade, o que aprecio, é o momento no qual o letreiro do filme começa a subir na tela e fico ali sentado, ainda, por alguns minutos comigo mesmo olhando para àquela imagem. É um estático acontecer que na verdade nem sei se realmente estou pensando ou não, como se estivesse numa nebulosa sem ida e sem volta, só estaria presente, ali, naquele espaço. A sensação distorcida que faz com que eu não consiga fazer outra coisa se não pensar, é a que senti quando sai do cinema após assistir A Deformação Profissional ou Top Girl da diretora alemã Tatjana Turanskyj.

Quando decidi ver tal filme foi por acaso, não sabia quem era ela como também não conhecia o seu trabalho, contudo, após sair do cinema, pesquisei e descobri que ela tivera feito, no ano de 2010, o longa intitulado de Eine Flexibe Frau – traduzindo para um português simples e nada robusto: Uma Mulher Flexível. Com isso, percebi que seus trabalhos têm caminhos comuns, ou seja, têm como vertentes principais o sexo feminino, seu estado de ser, tanto em si quanto na e para à sociedade – neste caso alemã.

A trama conta a história de uma atriz – Helena (Julia Hummer) –  que um dia fez sucesso mas acabou sendo esquecida pela sua arte, e assim, acaba pendendo para o mundo da prostituição. O caminho trilhado por Helena é de fato aterrorizador uma vez que ela não faz o que deseja mas acaba se deixando levar pelo hábito e pela segurança do dinheiro que torna-se fixo nesse ramo que acaba sendo sua profissão. É sua mãe, Lotte (Susanne Bredehöft) uma professora de canto com a qual não tem uma relação muito estável,   quem cuida de sua filha quando está trabalhando. Helena, além disso, vive num apartamento pago por um de seus clientes, ou seja, em troca de sexo, ele a permite que more no local, contudo, a estabilidade de um lugar pra viver acaba sendo sua prisão, visto que seu cliente tem as chaves e pode entrar a seu bel prazer.

Não tem glamour. A diretora Tatjana Turanskyj exibe o que realmente é vivido neste meio, retrata nada mais que a realidade do trabalho de uma prostituta, não obstante, cita um filme considerado “forte” como Cinquenta Tons de Cinza, até num tom sarcástico, e que faz jus ao seu argumento. As mulheres não são magras, modelos, manequins, assim como, os homens que compram o seu trabalho não são musculosos, bonitos e atraentes; são nada mais nada menos que pessoas normais em busca de prazer. Uns buscam um sexo normal, outros sadomasoquismo, outros fazem o que geralmente forjam na vida real, etc. Todas essas ocorrências dizem por si só o teor da trama e ao quê ela veio, ou seja, mostrar seu objetivo, seu foco para com a realidade a qual acaba sendo muito bem retratada. O incômodo é maior que a excitação. A mulher não é um objeto do prazer masculino como geralmente vemos nos filmes mais picantes, e em contrapartida, tem um papel distinto, em Top Girl o papel dela faz com que o espectador a perceba diferente, gerando desta forma um desconforto, um acúmulo de desvios sensoriais e perceptívos que no instante ao ver tais imagens, misturam-se com pensamentos acerca do tema.

É uma narrativa lenta e que pode desorientar a atenção de quem vê, como também pode ser considerado um filme difícil de assistir mas a temática é de tamanha importância e tem um fluxo cinematográfico distinto dos demais filmes do mesmo gênero. Não se compara a filmes como Bonequinha de Luxo (1961), Uma linda Mulher (1990), assim como o já citado, Cinquenta Tons de Cinza (2015). É necessário, pois, um público para além da narrativa, àquela não muito atrativa e com fluxos e cortes rápidos com intuito de contar o início, o meio e o fim da história, quer dizer, com Top Girl, isso não acontece.

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