XXY, 2007
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XXY, 2007

Alex nasceu com ambas características sexuais, ou seja, um pênis e uma vagina, ou seja, ela é hermafrodita. Seus pais se mudam para uma cidade pequena, protegendo-a da exposição. Muitas coisas mudam quando recebem a visita de um casal, cujo filho de 16 anos acaba se apaixonando por Alex.

Vale ressaltar a grade de excelentes atores e atrizes que esse filme tem, como os pais da Alex temos o rei da Argentina Ricardo Darín e Valeria Bertuccelli que, evidentemente, não é tão conhecida como o primeiro, mas fez o excelente “Chuva”, de 2008. Como Alex, a queridinha linda Inés Efron que parece manter a aparência dos seus 18 anos, mesmo tendo, atualmente, 29. Talvez o filme mais conhecido que ela tenha feito depois é “Medianeras”, em 2011, destaco também o “Amorosa Soledad” que ela repete a parceria com o Darín. Engraçado, eu imagino que todos os filmes Argentinos o Darín aparece em algum momento.

“XXY”, de 2007, tem uma importância de esclarecimento, de representação, para uma infinidade de pessoas que não conseguem entender o próprio corpo. Imaginem, a sexualidade é um tema extremamente complicado e alvo de julgamentos, agora, o hermafroditismo é físico, eleva as suas diferenças consigo mesmo em níveis ainda mais altos, apenas imagino o quão estranho deve ser aprender, aos poucos, lidar com a ideia de duas necessidades, não falo apenas sexual, de imagem mesmo, personalidade. Como mais usado hoje em dia, o Intersexo, aproxima o indivíduo a ideia de vulnerabilidade, imaginem só toda essa questão, aliada aos preconceitos, na cabeça de um jovem de 15 anos que, naturalmente, está na fase de descoberta do seu próprio corpo. A própria Alex, ao conhecer o novo amigo, afirma que o viu batendo punheta e, em seguida, afirma que o faz também. Enfim, fica claro um despertar sexual, mas, pelas suas condições físicas, gera um desgaste psicológico de definição. “Quem sou?”, “Gosto de homens ou mulheres?”, “Porquê eu?” etc

Muitos detalhes fazem da nossa vida pior, o fato é que existem tabus, mas eles não o seriam se não existisse pessoas acovardadas o suficiente para se esconderem atrás de máscaras de ignorância e egoísmo, as vezes não é complicado lidar com a questão em si, é imaginar a reação do redor. Isso machuca mais. Esses filmes, que abordam a sexualidade dessa forma, como aquele “Meninos Não Choram”, de 1999, têm a função de servir como um hino de auto-descobrimento, imaginem quantos jovens não passam por isso? Ainda mais, imaginem quantos irão assistir esses filmes e começar a repensar suas atitudes, suas opiniões, eu mesmo faço isso diversas vezes. Tanto que o grande clímax de “XXY” é quando Alex começa a se desprender dessa ideia de que precisa se aformar como algo, afirmar o seu querer, ela é e pronto. Como é mostrado, basta o apoio da família e só, a mãe ainda tem algumas dificuldades para aceitar – o que é normal – mas o pai trânsita entre o doce e o valente, quando tem que proteger a filha(o), ou perdido quando a vê fazendo sexo com o novo amigo, ele tenta explicar para mulher o que viu e desabafa que a filha estava enrabando o cara. Enfim, por mais que sabia que essa necessidade iria surgir, é de refletir e se colocar no lugar. Literalmente um turbilhão de reflexões.

 Assistindo o filme, sem informações prévias, já me peguei me identificando com a direção, depois fui descobrir que era a Lucía Puenzo, ou seja, é ótimo ter uma mulher a frente, ressaltando esse olhar sensível feminino sobre a questão, mesmo que nos homens do filme. Ricardo Darín, com toda sua qualidade de interpretação sútil, entende com perfeição e é um verdadeiro cúmplice dessa intenção, bem como o Martín Piroyansky – que faz o novo amigo da Alex, Álvaro – ele não sabe se gosta do menino Alex ou menina Alex, no mesmo tempo em que claramente sofre repressão por parte do pai. Por entre perdidos e descobertas, certamente o drama desses personagens comuns, irá te tirar do óbvio.

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