Crítica: Entre Abelhas
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Crítica: Entre Abelhas

EntreAbelhas_posterApós assistir “Entre Abelhas“, arrisco-me a dizer que a maioria do público sairá insatisfeita do filme. Não que seja um filme ruim: muito pelo contrário. No entanto, o longa se difere bastante dos trabalhos anteriores de Fábio Porchat e do diretor Ian SBF.

Entre Abelhas” conta a história de Bruno (Porchat), que após se separar da esposa (Giovanna Lancellotti) começa a deixar de ver as pessoas. Com a ajuda de sua mãe (Irene Ravache) e a presença do amigo David (Marcos Veras), ele vai tentar investigar o que está acontecendo com ele.

Com roteiro conciso e enxuto, que se explica pelos 10 anos que demorou para ser finalizado e encontrar viabilidade de produção, o filme se apresenta como “dramédia” ou “tragicomédia”, mas é muito mais focado nos temas sérios do que em realmente fazer rir. Não que não haja humor no filme: algumas boas piadas – e outras ruins – podem arrancar alguns risos, mas no fundo o objetivo do filme é fazer-nos refletir.

Fábio Porchat, assim como muitos dos atores que trabalham com humor, mostra-se bastante à vontade em um papel dramático. E se outros atores do filme não ganham oportunidade de se destacarem, Irene Ravache prova por que é uma das maiores atrizes de sua geração, com uma personagem que, com tantos defeitos, se mostra extremamente preocupada e carinhosa com o filho, à sua maneira. E a forma como o roteiro e a direção de Ian SBF retratam um importante acontecimento com ela demonstra bastante maturidade para demonstrar a dor do protagonista sem pender para o melodrama.

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EntreAbelhas_02Quanto à principal temática do filme, é interessante notar o contraponto entre Bruno e David. Se a “síndrome” apresentada por Bruno pode ser interpretada como uma forma de egoísmo, acompanhada da busca pela necessidade de enxergar as pessoas como resultado do fim da tristeza pelo fracasso do casamento, David é a personificação do egoísmo puro, e talvez a “cegueira” dele seja muito pior que a do amigo, já que este não se preocupa com ninguém além de si próprio.

Com um final que certamente desagradará os espectadores de mentalidade cartesiana, “Entre Abelhas” flerta com o realismo fantástico, lembrando filmes como “A Garota Ideal” e “Cisne Negro”, por exemplo – e alguns livros de José Saramago, também.

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O filme não é perfeito. A relação do drama de Bruno com o sumiço das abelhas na natureza poderia ter um desenvolvimento melhor, e o impacto dramático do final, da forma como se apresenta, parece simplificar o roteiro. Ainda assim, trata-se de um bom longa-metragem, diferente do que costuma ir para o “mainstream” do cinema brasileiro. É uma pena, portanto, que “Entre Abelhas” possa causar um desencontro entre expectativa e resultado final para o público, seja pelas obras passadas da equipe, seja pela forma de divulgação que o filme teve.

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4/5

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