Crítica: Leviatã
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Crítica: Leviatã

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É difícil encontrar um filme que não tenha simbologias: um personagem que sintetiza uma classe social, uma cena que indica a situação de um país, etc. No caso do filme russo “Leviatã“, do diretor Andrey Zvyagintsev os simbolismos estão por toda parte, a começar pelo título.

A palavra Leviatã foi utilizada no Velho Testamento da Bíblia, no Livro de Jó, para descrever uma criatura mitológica que se assemelharia a um grande polvo ou uma grande baleia, e que na obra “O Leviatã”, de Thomas Hobbes, é utilizado para simbolizar o poder do Estado autoritário, que segundo o filósofo seria a única maneira de superar o “estado da natureza” do homem, governado pelo egoísmo e pela insatisfação.

Ao saber disso, fica fácil identificar os elementos simbólicos mais gritantes em “Leviatã“: a carcaça da baleia, o prefeito corrupto, os barcos em ruínas (simbolizando a Rússia atual) e o tema político central. Na trama, Nicolay, ou Kolia (Aleksey Serebryakov), vive em uma casa na região costeira do noroeste russo, cujo terreno está prestes a ser desapropriado pelo governo local, e que terá que lutar contra o sistema político corrupto para evitar perder a sua propriedade – ou pelo menos receber um valor justo por ela. Paralelamente, acompanhamos o drama do protagonista em relação ao seu filho, à sua esposa e ao amigo que atua como seu advogado.

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Se as críticas políticas ao governo russo são claras e diretas, funcionando de forma muito interessante, o mesmo não se pode dizer do drama, que parece servir apenas para aprofundar os personagens e desenvolver cenas mais tocantes. É claro que o fato de os personagens masculinos serem “bêbados misóginos” (como se mostram na maioria das vezes) pode ser interpretado como uma forma de o filme dizer que a Rússia é governada/liderada por homens deste tipo. Mesmo assim, as questões dramáticas não funcionam com a mesma força com a qual o filme critica o caos político da nação.

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É interessante notar como o filme retrata os políticos do país por meio do prefeito Vadim – embora a cena de sua visita à casa de Kolia seja no mínimo inorgânica – e como o filme relaciona a imagem de Vladimir Putin (criticado presidente da Rússia) no escritório do prefeito à situação cômica em que os amigos de Kolia vão praticar tiro em quadros de ex-presidentes, mas não há nenhum do atual líder, e o personagem justifica que é necessário uma “perspectiva histórica”.

No terceiro ato, o protagonista se vê obrigado a encarar uma circunstância que demonstra, de forma pessimista, como o Estado (palavra que o roteiro faz questão de repetir em diversos momentos) tem total poder sobre os cidadãos impotentes, e como os corruptos passam impunes. Desta forma, “Leviatã” grita ao mundo todo como o governo russo age com mãos de ferro, e como a corrupção no país impera e afeta a toda a população (fazendo a corrupção no Brasil parecer brincadeira de criança).

Desta forma, “Leviatã” se torna o favorito ao Oscar de Filme em Língua Estrangeira. Se o longa não o merece pela qualidade total da produção, vale apenas pela mensagem política e pela situação nas relações internacionais entre Rússia e Estados Unidos, o que por si só já é um bom motivo. Afinal, arte e política sempre caminharam juntas.

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5/5

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