Crítica: Sin City - A Dama Fatal
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Crítica: Sin City – A Dama Fatal

“Just Another Saturday Night.”

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Expectativas podem ser perigosas. Como uma doença, podem crescer e se espalhar até que não haja forma de contenção. Tento não pensar muito nisso. Tento não ter expectativas não só para filmes, mas, no geral, para “tudo”. Também não costumo comentar muito em minhas críticas sobre minha experiência pessoal ao ver um filme. Um comentário aqui, uma palavra ali… acho que a crítica (e o filme) deve ser experienciada do “lado de fora” da vida pessoal do autor da mesma. Mas o que é a crítica, senão a opinião de alguém sobre determinada obra ou filme? Ao sair da sessão de Sin City – A Dama Fatal, tive sentimentos conflitantes em relação a obra. Com este filme, sinto que tenho como obrigação fazer comentários referentes a minha experiência não só como crítico de cinema, mas também como do universo criado por Frank Miller… e dar uma palavra sobre expectativas.

Ao sair da sessão da continuação, eu não sabia o que pensar. Era óbvio que eu havia gostado do filme (sendo por influência do primeiro ou não), mas havia um sentimento estranho acompanhado com ele. A sequência, afinal, havia cumprido as expectativas? Melhor: havia cumprido as minhas expectativas? No rolar dos créditos,  perguntei a mim mesmo se valeu a espera de nove anos para conferir a sequência. As expectativas no fim, não poderiam ser cumpridas por que elas simplesmente eram muito altas. Sou uma pessoa que não cria expectativas para filmes por já ter passado por esta situação algumas vezes: a de esperar tanto um filme que sua mente cria uma obra perfeita em cada detalhe. E, no fim, não importa o quão bom o filme for, ele nunca “alcançará” o filme criado em sua mente.

Mas o que podia dar errado, certo? O diretor Robert Rodriguez voltou para a direção, assim como o responsável pelas hqs, Frank Miller. A maioria dos atores do primeiro também retornou. Foram nove anos até finalmente lançarem a sequência, eles devem ter se esforçado para fazer um filme maior e melhor que o anterior certo? O problema foi esse. Esperaram demais.

Em Sin City – A Dama Fatal, acompanhamos 3 histórias e um “prólogo”:

O Prólogo, “Apenas Mais Uma Noite de Sábado”, com Marv (Mickey Rourke) como protagonista, mostra o conturbado personagem lidando com um de seus casos de amnésia enquanto tenta resolver um mistério.

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“A Longa Noite Ruim”, criada especialmente para o longa, mostra um novo personagem, chamado Johnny (Joseph Gordon-Levitt), vindo até Sin City para ganhar mais do que um jogo de cartas.

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A “história principal” do filme: “A Dama Fatal”, estrelada por Dwight McCarthy (Josh Brolin), trata de mais um perdedor que tem sua vida transformada num inferno depois que uma amante de seu passado reaparece em sua vida:

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“A Última Dança de Nancy”, criada também especialmente para o longa, conta com Nancy (Jessica Alba) no papel principal, lidando com a morte de Hartigan (Bruce Willis).

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Se Sin City- A Dama Fatal perdeu algo, foi sua própria “cinematografia”. A continuação se parecer tanto com a HQ nem sempre é uma boa coisa. O filme soa mais artificial (até mesmo para o universo estilizado criado por Rodriguez e Miller), a fotografia soa “digital” demais (desta vez, mais ainda é deixado para ser feito na pós-produção, como se os cineastas tivessem “relaxado” nos sets práticos), a maquiagem parece mais incoerente…

E se comentei no artigo da fotografia de sin city ( https://cinemacao.com/2014/09/25/a-fotografia-de-sin-city-a-cidade-do-pecado/  ) sobre a inventividade de Rodriguez quanto a tecnologia e efeitos práticos, é com pesar que constato a regressão do cineasta. Não apenas como diretor, mas também como montador e compositor (apenas uma ou outra “música” é eficiente ao longo da narrativa).

As atuações são outro aspecto que desaponta. Se no primeiro filme, víamos atores como Bruce Willis, Clive Owen e Mickey Rourke entregando interpretações esforçadas e interessantes, tudo aqui, ao contrário dos cenários e estilo do filme, é blasé. Difícil não se instigar com a performance de Rourke como Marv, mas a verdade é que o personagem retratado aqui (seja por causa da maquiagem pesada e desajeitada deste filme em comparação com o primeiro) é o Marv no maior modo automático possível. Sim, é ótimo ver o personagem voltar a quebrar ossos e fazer comentários que beiram ao sombrio e singelo, mas precisava mesmo colocá-lo em todas as histórias (inclusive, o aparecimento do mesmo em “A Última Dança de Nancy” cria erros de continuidades muito grandes para serem ignorados)?

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Josh Brolin não tem muito o que fazer como Dwight a não ser dar uns rugidos e parecer irritado o tempo inteiro. Jessica Alba continua sendo Jessica Alba, e nem os novatos na série, Cristopher Meloni (Mort) e Dennis Haysbert (substituindo Michael Clarke Duncan como Manute após sua trágica morte) conseguem trazer algo de novo. Destaque apenas para Joseph Gordon-Levitt e Eva Green como Johnny e Ava Lord respectivamente, que entregam atuações notáveis.

E a história. Ah, a história… O que parecia tão bom nas Graphic Novels e no primeiro filme aqui pareciam tão… sem alma. Alguns dos cortes nas cenas pareceram forçados demais, as vezes o longa se arrastava… apenas “A Longa Noite Ruim” mostra inventividade e algo de “novo”.

E, pela quantidade de elementos negativos neste texto você deve estar se perguntando por que gostei tanto deste filme, certo? A verdade é que… é Sin City. E não falo do tipo “fanboy cego de afeto pela série de livros/filmes ou hqs que gosta”; mas pura e simplesmente porque, após tanto tempo, ver os personagens que você cresceu assistindo, no telão do cinema, não tem preço. A fotografia (mesmo que excessivamente dependente de digitalização para funcionar), arrombos estilísticos e uma boa história com o personagem de Levitt salvam o filme. Como um amigo meu comentou comigo ao final da sessão: “Não há outro filme como Sin City, e isso já vale”. Simples, mas verdade. Sim, o longa é baseado nos filmes noir dos anos 50, mas a mistura específica de personagens, estilização, chiaro escuro e o machismo e nudez muitas vezes tolos de Miller você só encontra aqui.

Nove anos depois, a maioria do público perdeu o interesse, os atores também, e, pelo que parece, o próprio Robert Rodriguez. É como eu disse anteriormente: expectativas podem ser perigosas. Não espere um filme melhor ou no nível do primeiro. Apenas divirta-se, sem se apegar muito aos erros de continuidade, e aproveite a nostalgia que é ver seus personagens favoritos de Frank Miller no cinema. E os erros são parcialmente ignorados ao ver, nos primeiros 30 segundos de projeção, um personagem querido dos fãs cruzar a tela escura com pedaços de vidro em 3D (que está muito bom).

  • Nota Geral:
3

Resumo

Nove anos depois, a maioria do público perdeu o interesse, os atores também, e, pelo que parece, o próprio Robert Rodriguez. É como eu disse anteriormente: expectativas podem ser perigosas. Não espere um filme melhor ou no nível do primeiro. Apenas divirta-se, sem se apegar muito aos erros de continuidade, e aproveite a nostalgia que é ver seus personagens favoritos de Frank Miller no cinema. E os erros são parcialmente ignorados ao ver, nos primeiros 30 segundos de projeção, um personagem querido dos fãs cruzar a tela escura com pedaços de vidro em 3D (que está muito bom).

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