Crítica: La Belle Personne (A Bela Junie)
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Crítica: La Belle Personne (A Bela Junie)

por Bárbara Pontelli

La Belle Personne (A Bela Junie)

Lançamento: 2008

Direção: Christophe Honoré

Roteiro*: Christophe Honoré

* Inspirado no romance La Princesse de Clèves, de Madame de La Fayette (1678).

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A Bela Junie (Léa Seydoux) – protagonista do longa – é uma garota de 16 anos que acaba de se mudar para Paris após a morte da mãe. Junie passa a morar com seu primo Matthias (Esteban Carvajal-Alegria), bem como, passa a frequentar a mesma escola que ele. Participando do mesmo círculo de amizades do primo, Junie acaba conhecendo Otto (Grégoire Leprince-Ringuet) o qual se apaixona por Junie logo à primeira vista. Talvez pela carência, solidão e sentimentos confusos pós-morte da mãe, Junie acaba saindo com Otto embora fica claro que ela não nutre atração por ele. Os 90 minutos do filme irão discorrer sobre situações diversas dos dramas que envolvem os relacionamentos amorosos do universo adolescente, sem muita novidade. No entanto, o que chama a atenção no filme de modo a torná-lo um drama romântico que vale a pena ser assistido é a complexa situação em que envolve Junie e seu professor de italiano – Nemours (Louis Garrel). Completamente apaixonado e atraído por Junie, é esboçada toda uma situação em que a jovem se vê igualmente atraída pelo professor mas, nutrida por uma inteligência emocional arrebatadora, transborda racionalidade e não permite que o romance aconteça. Vemos aqui o contrário do convencional, ou seja, a mocinha indefesa e ingênua não cede ao sedutor professor: o sedutor professor que subitamente se vê completamente apaixonado pela aluna enigmática que faz questão de se manter distante…os artifícios e charme que sempre atraíram qualquer mulher ou aluna – agora – não são capazes de atrair a bela e jovem Junie. Em linhas gerais o drama gira em torno dessa principal situação: o amor platônico nutrido por Nemours e o esforço de Junie em não se deixar levar por um romance que tem tudo para dar errado – na tentativa de proteger-se de um desfecho que, certamente, deduz que seria fatalmente desastroso.

Creio que Honoré procurou divagar sobre a força do amor quando esse “não acontece”… do amor platônico, simbólico…. daquele amor que, de alguma forma, é “irrealizável”, ou seja, do amor romântico em sua forma mais pura. Sem aquelas facilidades e receitas prontas típicas do cinema americano. Paralelamente, observa-se toda a complexidade de emoções pelas quais Junie passa: embora de poucas palavras é extremamente observadora e sua sensibilidade aguçada não a torna vulnerável/ uma mocinha indefesa e sofredora – muito pelo contrário – a torna uma mulher que, apesar da pouca idade, tem plena consciência de tudo que se passa. Observa-se a enorme energia que ela dedica para manter-se no controle da situação e o quanto essa racionalidade lhe custa: igualmente apaixonada por Nemours mas, em nenhum momento, confia nele e em seu nobre sentimento. Por outro lado, Nemours se vê em uma situação atípica: de sedutor passou a ser o “seduzido” e não tem a menor noção de como lidar com a situação….o que acaba por torná-lo incapaz de convencer a moça da lealdade de seus sentimentos e, consequentemente, o desfecho do filme fica bem longe daquele “final feliz”.

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La Belle Personne é fortemente influenciada pela Nouvelle Vague em seus elementos mais puros. Romântico, melancólico, com longos silêncios e triângulos amorosos. O tom blasé de Junie pode, equivocadamente, levar um espectador não familiarizado ao cinema francês em interpretá-la como bipolar e fria – sendo que é justamente o contrário. Com uma beleza marcante e um belo par de olhos azuis tristes, Junie toma forma através da ótima atuação de Léa Seydoux. Louis Garrel também garante seu personagem – Nemours – graças a seu charme natural e seu “ar intelectual”… caiu como uma luva para viver o professor-sedutor-mulherengo que se ferra quando se apaixona de verdade.

A fotografia apresenta uma Paris fria e cinzenta – muito longe daquela Paris glamourosa, encantadora e convidativa que sempre vemos. O cenário parisiense selecionado para o filme é composto por ambientes comuns: ruas aleatórias, escola… praça cheia de folhas secas ou a cafeteria da esquina – nem por isso menos belos.

Honoré propõe sua leitura sobre as possibilidades do amor partindo de uma perspectiva incômoda e que poucos querem reconhecer. É através da racionalidade de Junie frente ao romance com Nemours – que sequer chega a acontecer de fato – que é feito o convite ao espectador em refletir sobre rápidos e superficiais envolvimentos. Nesse sentido, observa-se os questionamentos da protagonista que escolhe se manter longe de qualquer envolvimento na tentativa puramente de se proteger. Ela está disposta a qualquer custo em manter o controle mesmo que o preço que tenha a pagar seja esse. Teria ela feito o certo? Ter escolhido ir embora e evitar Nemours pagando o preço de reprimir seus sentimentos? Honoré parece responder tal pergunta, na medida em que, os demais personagens (Marie…Florence…Otto) compartilharam da mesma sorte quando permitiram-se um envolvimento.

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Minha nota para o filme é 3,5. Embora o drama entre Junie e Nemours carregue um tom que me agrada bastante e trata essa temática sob um ângulo questionador interessante, penso que poderia ter sido construído em cima de situações menos juvenis e clichês. Poderia, portanto, ter adquirido um ar mais maduro se explorado de outra forma. A morte de Otto penso que foi desnecessária já que o filme como um todo já carrega uma significativa carga dramática.

De qualquer forma, La Belle Personne é um filme merecedor de atenção. Uma ótima pedida para aqueles que apreciam o típico cinema francês!

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