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Artigo

Uma análise do tempo

por Rodrigo Stucchi

O primeiro filme que assisti após o convite para ingressar na seleta equipe de jovens cinéfilos do Cinem(ação) foi Lincoln, filme baseado no livro Team of Rivals: The Genius of Abraham Lincoln, de Doris Kearns Goodwin, onde Steven Spielberg encontra mais um cenário ideal para mostrar seu patriotismo e exagerado desperdício de tempo, ao narrar o final da Guerra Civil norte-americana e a preocupação do então presidente dos Estados Unidos em abolir a escravidão no país. Apesar de ter gostado muito do filme e de recomendá-lo aos leitores desse site, principalmente para apreciarem a atuação do soberbo Daniel Day-Lewis (que interpretou o ator principal e é merecedor de mais um Oscar – ele já tem dois), devo demonstrar meu incômodo com o nem sempre fantástico Spielberg.

O Ilusionista

Tal qual o mágico vivido por Edward Norton em O Ilusionista, que impressiona a plateia em sua primeira apresentação com o intrigante truque da laranjeira, um bom Diretor é um mago do tempo. Na cena citada, Eisenheim convida o público para uma análise sobre o tempo: “Nós o medimos e o marcamos, mas sem desafiá-lo. Não podemos acelerá-lo ou desacelerá-lo. Ou podemos? Todos já experimentamos a sensação de um lindo momento que pareceu passar rápido demais e desejamos que passasse mais devagar. Ou achamos que o tempo demorasse a passar num dia monótono e desejamos poder acelerar as coisas um pouquinho.”

Filme com mais indicações ao Oscar 2013 (12), Lincoln não está a altura do talento de Spielberg. Mesmo assim, Steven pode levar seu terceiro Oscar como Diretor

Não, nós não podemos manipular o tempo, mas podemos aproveitá-lo melhor assistindo filmes de tirar o fôlego, que prendem a atenção e nos fazem perder a noção do tempo. Enquanto Spielberg erra o timing em Inteligência Artificial (2001), Guerra dos Mundos (2005), Indiana Jones 4 (2008) e Cavalo de Guerra (2011), Martin Scorsese mostra como não perder o brilhantismo nos cinco últimos filmes que dirigiu: Gangues de Nova York (2002), O Aviador (2004), Os Infiltrados (2006), Ilha do Medo (2010) e Hugo (2011).

Spielberg acerta em Minority Report e Prenda-me Se For Capaz (ambos em 2002) – O Terminal (2004) e Munique (2005) são bem discutíveis. Estes, porém, não se comparam aos citados filmes incríveis de Scorsese, que provou ser um injustiçado pela Academy por não ter recebido um Oscar sequer até Os Infiltrados, em 2006. Aliás, quando venceu, o sentimento era mais de “mea culpa” pelo reconhecimento da obra do cineasta, que propriamente pela película estrelada por Leonardo Di Caprio e Jack Nicholson (não desmerecendo o excelente filme, que mereceu o prêmio).

Hugo Cabret

Os últimos filmes de Martin Scorsese são altamente recomendáveis. Hugo é uma homenagem sensível e bem acertada à História do Cinema. Vale a pena assistir

Devido ao descontentamento com Spielberg, resolvi assistir Hugo, único destes cinco filmes de Scorsese que não havia assistido até então. A narrativa dá uma aula sobre a História do Cinema enquanto discorre pela vida e pelos mistérios de um órfão que mora sozinho numa estação de Paris. E não me decepcionei. Scorsese acerta em Hugo até mesmo quando tenta fazer algo que Spielberg sabe fazer muito bem: agradar o público infantil. A trama é envolvente e não senti o tempo passar, tamanha a riqueza de detalhes de cada personagem, de cada história paralela, de cada cenário. O filme é ideal para quem gosta de perceber a importância que diretor e atores dão aos seus papeis. Do contrário, o grande Christopher Lee aceitaria fazer uma “ponta” como um mero bibliotecário? E Jude Law, aceitaria gravar pouquíssimas cenas como pai de Hugo Cabret?

Por fim, caro amigo, voltando à análise do tempo, gostaria de propor um desafio: que tal pegar cinco filmes de um mesmo diretor e se deixar levar por alguns instantes pela mente iluminada desse artista? A maioria tem o errado costume de procurar filmes apenas pelo gênero, desprezando quem é o diretor, os produtores ou os atores. Pois bem, experimente assistir um filme de cada gênero, de um mesmo diretor, e verifique se a sua atenção é a mesma em todos, se o seu poder de observação muda ou se a sua identificação com os personagens é mais marcante. Em outras palavras, verifique se o seu tempo passa da mesma maneira. Até o próximo encontro.

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