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Crítica: Uma noite em 67

uma_noite_em_67_posterUm festival por si só já é uma revolução.

Agora imagine a energia extravasada de um público em pleno ritmo de ditatura.  Vaias e aplausos, violões quebrados no palco e, nascendo ali mesmo no meio disso tudo, filhos pródigos da música popular brasileira com suas composições revolucionárias. Guitarras e violas e vozes. Muitas vozes. Vozes de dentro, do público, de fora, da crítica, da alma, dos artistas que ali surgiam sem se preocuparem com nada além da música.

uma_noite_em_67_1Chico Buarque no auge dos seus 23 anos nem imaginava o que estaria por vir. Assim como ele, os amigos Caetano Veloso e Gilberto Gil em suas brasilidades atemporais, os Mutantes em participações ao lado de Gil, os trejeitos e charme de Roberto Carlos, a convicção de Edu Lobo e a impulsividade crua de Sérgio Ricardo.

67_1Ou seja, as calorosas noites de 67 que marcaram veementemente toda uma geração e a final do festival da Record em 21 de outubro, que mudaria para sempre os rumos da música popular brasileira, são abordadas nesse documentário de 2010. “Uma noite em 67”, com direção de Renato Terra e Ricardo Calil, vasculha os arquivos da Rede Record que, ao serem mesclados ao momento atual, recriam um contexto e facilitam a compreensão histórica e musical da ocasião. As disputas e a agitação do Tropicalismo meio a ditadura e a consagração dos nomes que se tornariam ídolos até hoje.

Com importantes entrevistas como a do organizador Solano Ribeiro e do diretor Paulo Machado, é possível entender qual a temática abordada pela produção do programa na época, “um verdadeiro uma noite em 67_2espetáculo de luta livre”, como ressalta Machado. O grande público exercendo o papel principal de vaiar, gritar, cantar e aplaudir quando bem entendesse.

É possível que o espectador entenda brevemente a colisão do universo artístico e político no período, mas sem conclusões espetaculares ou teóricas.  “Uma noite em 67” te faz entender exatamente o que o título aponta. As emoções de uma única e memorável noite, em 67.67_3

O documentário trata com distanciamento a histórica noite de encerramento do festival.  Um material vasto e revelador é explorado sem rastro de posicionamento. Bem pontual em sua proposta, o filme trata de uma montagem de edição prática, explorando o tema sem rodeios.

Deixando um pouco de lado a seriedade documental e a proposta dos diretores, o filme está repleto de confissões sinceras dos músicos. Com um certo “ar” de graça, Chico, Edu, Gil, Caetano, Roberto Carlos e até mesmo Sérgio Ricardo saem contando suas impressões e angústias do “grande dia”. Quatro décadas depois, abordando lembranças e falando até mesmo sobre o furor da idade e as expectativas e deslizes que são uma delícia de se ouvir e compartilhar.

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O filme desde o começo parece ser o mais natural possível. Tanto para os realizadores, quanto para os protagonistas ali diante das câmeras, falando a vontade de um momento que marcara suas vidas.

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Um desses momentos é de Chico Buarque, contando quando “perdeu o trem da Tropicália” por ter bebido demais nas festas em que o movimento nascia. Ou quando Gil tomou um banho – literalmente – de Nana Caymmi e Paulo Machado quando, horas antes do festival, não tinha condições de subir ao palco. Essas e outras revelações contadas com muito humor. Demais né?

Se você é de alguma forma fã da cultura nacional, vai achar esse filme uma revelação gostosa, concisa e encantadora de se ver. Ou como disse Solano Ribeiro, organizador do festival: “Eu estava lá morrendo de medo que acontecesse alguma coisa”, e quarenta anos depois, estão todos eles rindo e se orgulhando daquilo tudo.

Os moderninhos que me desculpem, mas memorar é fundamental. ; )

Nota: 04 Claquetes.

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